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Artigo: Eleição na Câmara virou jogo de ganha-ganha para Bolsonaro

Por Adroaldo Portal*

Beira à ingenuidade política cair no conto da carochinha de definir Baleia Rossi (MDB-SP), como o candidato anti-Bolsonaro; e Arthur Lira, do Progressistas, como o candidato pró-Bolsonaro. Os 2 são face da mesma moeda, vinho da mesma pipa. Defendem rigorosamente as mesmas pautas. Serão, ambos, pró-sistema financeiro. Follow the money.

Para começar, Lira e Baleia, reagem igualzinho quando questionados sobre a possibilidade de abrirem processos de impeachment contra Bolsonaro. Não falam, tergiversam. Não assumem compromisso algum.

Baleia, amigo íntimo de Michel Temer, foi um grande defensor do Impeachment de Dilma Rousseff e, em seguida, no curto e avassalador mandato de Temer no Planalto, contribuiu para o avanço da “Reforma da Previdência — que tanto prejudicou servidores públicos. É verdade que a reforma só foi aprovada em 2019, já com o selo do governo Bolsonaro. Mas Baleia Rossi teve sua boa parcela de contribuição. Lembrando que Temer hoje é um dos grandes conselheiros de Bolsonaro e já o avisou que fará de Baleia, seu pupilo, um aliado fiel na presidência da Câmara.

Outro exemplo, matéria da Gazeta do Povo esclarece que ambos, Lira e Baleia, já declararam, em mais de uma ocasião, apoio à Reforma Administrativa. Como vai ficar a relação de Baleia, se eleito presidente da Câmara, com PT, PSB, PDT, PCdoB e Rede quando for a hora de pautar esse assunto?

Já Lira, líder do inconfiável Centrão, vai se manter abraçado com Bolsonaro enquanto for conveniente para seu grupo político no Parlamento. Mas não vejo essa turma segurando alça de caixão.

Vou mais longe! O cenário político que se desenha pro médio prazo é que o Centrão de Lira e o MDB de Baleia estarão juntas logo ali na frente, numa aliança de centro-direita, para derrotar Bolsonaro em 2022 — ou quem sabe um pouco antes, ainda no mandato.

Independentemente de quem vencer a disputa, sabemos que para os trabalhadores não será uma situação de ganhar ou perder. Estamos entre a cruz e a espada. Para evitar o pior, as entidades, associações, sindicatos, precisam se articular para apresentar aos candidatos quais são as suas demandas, exigindo que eles assumam compromissos com os temas mais urgentes que o País precisa.

No mais, a eleição na Câmara — principalmente — se resume a uma mera disputa dos parlamentares dos maiores partidos pelos cargos existentes dentro da estrutura do Congresso Nacional. E é, também, uma guerra de narrativas em que Bolsonaro quer eleger Lira para dizer que derrotou a oposição e que partidos de esquerda aderiram à Baleia para tentar impor uma derrota moral ao governo.

A verdade é que a eleição da Câmara virou um jogo de ganha-ganha para Bolsonaro. Quem vencer, apoiará o governo e suas pautas de destruição do Estado de Bem Estar Social. E a oposição continuará sendo minoria no Congresso Nacional, lutando contra a agenda de Bolsonaro, Guedes e Rodrigo Maia.

Ou seja, não se empolguem. Nem se apaixonem. Nada vai mudar.

(*) Jornalista. É servidor do Senado Federal. Publicado originalmente no Estadão, sábado (23).

Fonte: DIAP.

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