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“Há uma conivência por parte de todo o sistema”

Fechando o Mês da Consciência Negra, confira a entrevista com a doutora em sociologia pela Universidade de Brasília (UNB) e professora da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb), Nubia Regina Moreira, sobre racismo e a luta do movimento negro no Brasil.

Qual a importância do marco do Mês da Consciência Negra nos dias de hoje? É mais uma oportunidade de trazer a discussão sobre a opressão e exploração as quais estão submetidas as populações negras no Brasil. A consciência negra é um movimento dos setores organizados dos movimentos negros que tem como um dos objetivos criticar e apresentar propostas políticas de combate ao racismo estrutural-sistêmico da sociedade brasileira.

Quais as características (históricas e atuais) do racismo no Brasil? Penso que o caráter estrutural-sistêmico do racismo afeta material, político e culturalmente a população negra.

Quais as dificuldades de enfrentamento contra o racismo em um momento retrocessos políticos e econômicos, principalmente no Brasil? Historicamente, a dificuldade da sociedade brasileira é não se reconhecer racista. Graças a luta dos setores, negros e negras organizadas foram desmitificando o mito da democracia racial e escancarando os efeitos perversos desse sistema na vida desses homens e mulheres. O retrocesso no processo das conquistas de direitos iniciado após as últimas eleições apresenta um desafio para luta antirracista porque impõe à militância negra e à toda sociedade brasileira brigar para manutenção das políticas públicas já instituídas para os segmentos populares.

Casos de racismo são expostos quase todos os dias, mas quase não se vê exemplos de condenação. Por que isso acontece? Porque não há interesse por parte dos sistemas de justiça em aplicar a lei contra o racismo. Há uma conivência por parte de todo o sistema em não reparar legalmente os atos racistas contra os negros e negras que cotidianamente ocorrem no país.

Como você avalia as conquistas do movimento negro, mais especificamente, do movimento de mulheres negras? Para parafrasear Angela Davis: “quando as mulheres negras se movimentam, toda a sociedade se movimenta”. Desse modo, o compromisso do movimento das mulheres negras espalhado no país tem se refletido na busca de um novo pacto civilizatório expresso no trecho abaixo:
As Mulheres Negras, estamos em Marcha para exigir o fim do racismo e da violência que se manifestam no genocídio dos jovens negros; na saúde, onde a mortalidade materna entre mulheres negras está relacionada à dificuldade do acesso a esses serviços, à baixa qualidade do atendimento aliada à falta de ações e de capacitação de profissionais de saúde voltadas especificamente para os riscos a que as mulheres negras estão expostas; da segurança pública cujos operadores e operadoras decidem quem deve viver e quem deve morrer mediante a omissão do Estado e da sociedade para com as nossas vidas negras (AMNB, 2015, p.163).

As opiniões expressas não refletem, necessariamente, o posicionamento da diretoria do SEEB/VCR.

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