Home / Artigo / Artigo: Rui Barbosa e o dia da cultura

Artigo: Rui Barbosa e o dia da cultura

Por Benjamin Nunes Pereira *

O dia 5 de novembro é uma data em que se homenageia o escrivão de polícia civil, o cinema brasileiro, dia da língua portuguesa, em homenagem a Ruy por ter sido um grande estudioso do idioma, dia do cientista e o dia nacional da cultura, data essa que foi Instituído por meio de Lei Federal, em 1970, o Dia da Cultura é uma homenagem ao advogado, jornalista, diplomata, escritor, político, jurista e intelectual Rui Barbosa. A data foi escolhida por ser o dia do nascimento de Barbosa, que foi importante defensor das liberdades civis. Nasceu em 1849, em Salvador Bahia, filho de Dr. João José Barbosa de Oliveira e Dona Maria Adélia Barbosa de Oliveira, o primeiro filho da família. Em 1850 batizam com o nome de Ruy Caetano Barbosa de Oliveira.

O saudoso Professor Doutor Edivaldo Boaventura, fez uma citação importante no seu livro Gente da Bahia. “O dia da cultura, fixado no natalício do nosso grande Rui Barbosa, induz que se reflita como tirar o maior proveito educacional de tudo aquilo que se perpetua. A conservação de um monumento nacional, como a Igreja de São Francisco, ou de um sítio paisagístico, o Parque Histórico de Castro Alves, servem para educar, cívica e concretamente, o povo. Em outras palavras, educando-se pela cultura, atinge-se mais profundamente o homem e a sociedade”.

Rui, cresce e toma gosto pelos estudos, aprende a ler e conjugar verbos corretamente em apenas 15 dias. O pai está radiante e mais se entrega à educação do rapaz, voltando-o sempre para sua “missão” no mundo.

O resultado é que, quando todos os demais rapazes não tinham outras preocupações que as próprias da idade, Rui era aos dez anos, um menino sério e arredio. Conhecia os versos de Camões e os grandes sermões de Padre Vieira, citava-os de cor. Mas era um menino muito triste.

Seu maior encantamento era um livro sobre a vida de Jesus Cristo, a Histoire du Nouveau Testament, de Derôme. Aos poucos Rui foi se convencendo de que o caminho da vitória, para a qual o pai o preparava, passava necessariamente por sofrimentos e tristezas. Não fora assim com o próprio filho de Deus, cuja ascensão ao céu só se torara possível pela dolorosa via da crucificação? Essa primeira experiência do que o espera no mundo, essa quase que adivinhação da glória e do sofrimento que lhe caberiam, tornava seu temperamento ainda mais retraído e tímido.

No colégio, Rui não perdeu sua natureza tímida e desconfiada. Nas horas do recreio passava o tempo lendo sentado numa pedra. Era o primeiro da classe, mas não merecia a estima de todos os colegas. O grande ídolo da escola era um menino de olhar forte e testa voluntariosa, que aparecia como um semideus numa época em que o poeta romântico Byron era idolatrado: chamava-se Antônio Castro Alves, e viria a ser o maior poeta de sua geração, um dos maiores do Brasil, permanentemente preocupado com a sorte do povo, líder da campanha pela abolição da escravatura. Este sim, empolgava a todos. Quando de tempos em tempos o Dr. Abílio fazia realizar certames literários, era Castro Alves o invariável triunfador. À sua sombra, crescia o retraimento do filho de João Barbosa.

Em 1865, Rui forma-se no Ginásio Baiano do Dr. Abílio Borges, quando fez um discurso de grande sucesso. Ao concluir o colegial, hoje nível médio, transfere-se para Recife e posteriormente São Paulo para fazer o curso jurídico. É importante salientar que ele não tinha idade exigida para o curso superior. Enquanto esperava, estudava alemão.

O estudo é, porém, subitamente interrompido por uma doença a que nem Rui, nem o pai jamais se referia claramente, como se temessem ou a ela as envergonhassem. Era grave, até as cartas para o pai tinham de ser escritas pelos colegas.

E é assim que, enfermo e abatido, Rui, terminando o curso volta à Bahia. Não planejara assim o seu regresso. Começaria agora um longo período de provocações, que marcaria decisivamente o caráter já de si tão retraído e amargo do jovem advogado.

Em setembro de 1878, é eleito deputado provincial pelo Partido Liberal e parte para o Rio de Janeiro. A câmara é instalada em 1879, é composta em boa parte de principiantes, pois a geração de Rui saída das academias há sete, oito anos, não tivera até aquela data uma participação decisiva na vida política do país. O Partido Liberal está afastado do poder há praticamente 11 anos, o tempo extraordinariamente longo num sistema bipartidário em que a atribuição da coroa é exatamente garantir o revezamento de ambos o poder.

Alguns dos moços que pela primeira vez chegavam à Câmara chamavam-se Joaquim Nabuco, Afonso Pena, José Mariano, Buarque de Macedo, Rodolfo Dantas e Rui Barbosa. Traziam todos uma grande proposta: reformar o processo eleitoral e instituir eleição direta. É neste ambiente, em tantos aspectos do clima acanhado da Província que Rui começa a aparecer como figura política decisiva.

Rui foi Ministro da Fazenda, e um defensor na luta pela abolição. E aos poucos a luta foi perdendo seu caráter estreitamente político. Não era mais o Partido Liberal contra o conservador. Era uma parte da Nação contra a outra. O deputado Rodolfo apresenta na Câmara o projeto que emancipa os sexagenários. Rui fora o seu autor, mas a crise dos partidos envolvidos na questão servil acaba com um resultado negativo para o Gabinete. Por 59 votos contra 52, o projeto de Rui é derrotado. A sua luta a favor da abolição, juntamente com outros companheiros até que enfim chega a extinção da escravidão e como se ele próprio não acreditasse: Não há mais escravos no Brasil, pois o fato aconteceu no dia 13 de maio de 1888, por meio da assinatura da Princesa Isabel.

O primeiro grande êxito de Rui se deveu à tradução da obra O Papa e o Concílio (1877) de Doelinger, contra a infalibilidade do Papa. Onde assinou um prefácio criticando a situação religiosa no Brasil. Em 1893, viu-se obrigado ao exílio na Europa por discordar de Floriano Peixoto. A forma internacional se deveu a participação, em 1907, na Segunda Conferência de Paz, em Haia por defender a igualdade entre as nações. Candidatou-se à Presidência da República, 1910 e 1919, mas não obteve êxito. Em 1920, liderou a reação politica do seu Estado, mas terminou por afastar-se definitivamente da política. Naquele ano, integrou à Corte Permanente Internacional de Justiça. Foi membro fundador da Academia Brasileira de Letras.

Em 1923, bastante adoentado, vai para Petrópolis recuperar-se de enfermidade, em fevereiro ainda participa de reuniões políticas. Tem os primeiros sintomas de paralisia bulbar, em 27 de fevereiro. Morre em 1º de março de 1923, tendo o seu corpo embalsamado e levado para o Rio de Janeiro. O enterro aconteceu em 3 de março de 1923.

Rui fez seu testamento político na fórmula de um epitáfio, que ele mesmo escreveu para sua pedra funerária:
“Estremeceu a Justiça; viveu no Trabalho; e não perdeu o ideal”.

*Benjamin Nunes Pereira, é membro da Academia Conquistense de Letras e da Casa de Cultura de Vitória da Conquista, bancário aposentado, Historiador pela UESB, com pós-graduação em Antropologia com ênfase na Cultura Afro-brasileira e pós-graduado em Programação e Orçamento Público.
E-mail: [email protected]

Veja Mais!

Artigo: Só nos resta a esperança: uma árvore que se dobra mas não se quebra, por Leonardo Boff

No ano de 2023 ocorreram fatos que nos assombram e nos obrigam a pensar: houve …