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Conheça um pouco da obra de Carlos Jehovah

Sendo um dos grandes nomes da cultura conquistense, fica difícil apresentar a arte de Carlos Jehovah sob a perspectiva de algumas obras. Contudo, trazemos esta pequena amostra para demonstrar a sensibilidade e o humanismo das suas produções.

Jehovah, presente!

A MÁQUINA X O HOMEM

 

O operário,

na oficina de trabalho,

é formiga andarilha a beliscar salário.

 

Lá está a máquina calada

e o manejo primitivo do operador

a estralar o raciocínio da máquina

e a explodir a ideia dos algarismos

na linguagem automática das teclas.

 

A máquina vacina o progresso na carne do homem!

O vozerio viril do teclado

constrói,

facilita,

emancipa

e antecipa o trabalho do operário,

inferiorizando o poder dos braços de pedra,

escravos vencidos pela força terrível do progresso.

 

O óleo petrolífero escorre em forma de sangue,

limpa a pele do ferro

e amacia o corpo da máquina.

Lá de cima Deus espia o homem errar

e a máquina trabalhar sem medo e sem dor.

 

Publicado no livro Coletânea do Escritor Conquistense, de 1976.

 

A ROLETA DA VIDA

 

O

mundo

girando

girando

girando

A vida

sorrindo

progredindo

oprimindo

 

Gente

nascendo

sofrendo

morrendo

 

Os

loucos

debochando

apedrejando

escandalizando

Os

velhos

gemendo

benzendo

desfazendo

Os

jovens

expandindo

iludindo

seduzindo

As

massas

crescendo

comendo

bebendo

Os

fortes

projetando

amando

roubando

Os

pobres

exigindo

pedindo

agredindo

 

Bocas

sorrindo e lágrimas caindo

Amantes

trocando juras de amor

Ventres

expelindo crianças mortas

 

Ébrios

bebendo

discutindo

cantando

 

Escritores

imaginando

escrevendo

 

Publicado no livro Coletânea do Escritor Conquistense, de 1976.

 

ÊXODO DAS CRIANÇAS DO VIETNÃ

 

Lá vão os peregrinos do Vietnã,

enlouquecidos nas voragens da guerra,

escorraçados pela bomba,

debaixo de ataques antiaéreos

ou cobertos com a poeira dos tanques de guerra.

 

Lá estão corpos crivados de bala,

pálidos e famintos,

caídos dentro de nuvens de fumaça,

afogados na borrasca dos bombardeiros,

feridos,

aleijados.

 

Nas estradas, rebanho de fugitivos, caminha como formiga,

a caminhada nômade é rápida e terrível!

 

Os filhos abandonam as mães nos abismos da dor,

as mães aflitas choram lágrimas de sangue,

não se pode esperar a visão dos rebeldes,

os estilhaços das granadas.

 

O chão da pátria está borrado de sangue de irmãos,

nos céus do Vietnã estralam gemidos de dor,

não importa se no desastre da guerra

as crianças infelizes

fiquem atiradas nos braços das estradas

ou entregues nas mãos de pátrias alheias.

 

Mil crianças do Vietnã

estão sendo repartidas como fatias de pão.

Aviões

Fazem entrega a domicílio dos filos proscritos,

e as mulheres gritando nos calvários da guerra,

arrastam a cruz da desgraça no coração.

 

Nos olhos calejados de suplício das mães ignoradas

escorem lágrimas vermelhas de fogo,

dói na carne da raça vietnamita a ferida da tristeza.

Deus assiste a marcha dos homens em busca da morte.

 

Detrás das portas do mundo,

os déspotas,

alheios à dor e insensíveis à desgraça,

mastigam o pão do egoísmo,

acendem o estopim da guerra,

fabricam bombas,

abastecem os campos de batalhas de armas,

longe de pensar no êxodo das crianças banidas nos exílios da vida

jogadas no solo de pátrias estranhas

com a cicatriz da desgraça crivada na alma.

 

Publicado no livro Coletânea do Escritor Conquistense, de 1976.

 

PRECE A MINHA MÃE

 

A ti, ó minha Mãe

entrego a minha vida,

e por Nossa Senhora, confesso que só a ti, adoro e venero.

A ti,

os Anjos todos abrem as portas dos céus

e a Deus clamam misericórdia.

A ti,

o sino do paraíso anuncia as boas vindas!

A ti,

ó, minha Mãe,

dedico a minha vida

em troca do amor que me tem sempre oferecido de coração.

Unidos,

vejo o céu e a terra proclamando o teu nome santo

Em ti está

a lágrima mais sofrida do mundo.

Em ti está

a reprise infinita do verdadeiro amor.

Em ti está

a alma mais querida de que se tem notícia.

Em ti está

o sofrimento santo da Virgem Santíssima.

És santa!

És lembrada!

És consoladora!

Ó minha Mãe!

Tu és a empreendedora do bem.

Tu te deixas ser vencida

prá ver o teu filho vencer.

Tu te entregas aos sacrifícios

prá não ver o teu filho sofrer.

Creio

na palavra de minha Mãe porque ela não sabe mentir.

Creio

no coração de minha Mãe porque ela não sabe negar.

Creio

na minha Mãe porque ela tem qualquer coisa de santa.

 

Publicado na Revista Histórica de Conquista, do jornalista Anibal Lopes Viana.

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