Home / Sem categoria / MP do Salário Mínimo será votada na Câmara, mas taxação de offshores ficam de fora

MP do Salário Mínimo será votada na Câmara, mas taxação de offshores ficam de fora

MP tem que ser votada antes de perder a validade, no dia 28. Taxação de offshores, ponto de discordância de parlamentares será tratada com projeto de lei específico

Após ficar travada na Câmara dos Deputados, a Medida Provisória do governo federal que reajustou o salário mínimo para R$ 1.320 em maio deste ano, a MP 1172/2023 deverá ser votada nos próximos dias, de acordo com o presidente da casa, deputado Arthur Lira (PP-AL).  No entanto, a MP não incluirá uma das pautas mais defendidas pelo atual governo, a taxação de super-ricos, que garantiria recursos para a manutenção do mínimo no novo valor.

O parlamentar anunciou um ‘acordo’ entre líderes das bancadas para que a MP seja votada, sem a inclusão da taxação das offshores, ponto contestado por parlamentares que defendem os interesses econômicos das classes mais ricas. Offshores são investimentos feitos por milionários e bilionários em paraísos fiscais, que não pagam impostos no Brasil. Veja mais abaixo.

Em contrapartida, o governo deverá apresentar, em breve um projeto de lei específico ou uma nova MP sobre o tema, segundo o próprio deputado Arthur Lira. Esta nova medida, além de trazer mudanças na taxação de fundos exclusivos e tributação de offshores, deverá manter a elevação da faixa de isenção do Imposto de Renda Pessoa física em R$ 2.640.

A taxação dos fundos exclusivos já havia sido anunciada pelo ministro da Fazenda Fernando Haddad.

Leia mais: Para aumentar justiça tributária, Haddad vai propor taxação de fundos exclusivos

Medida Provisória

A MP que determinou o reajuste do mínimo perde o prazo de validade na próxima segunda-feira (28) e se não for votada até esta data tanto na Câmara como no Senado, fica em jogo a renda de milhões de trabalhadores, aposentados e pensionistas que recebem seus salários com base no mínimo.

O que ‘pegou’: O embate que travou tramitação no Congresso se deu após a junção à MP, dos itens de outra medida, a MP 1171, cujo conteúdo tratava justamente da taxação de offshores.

Offshores – tributação aos super-ricos é necessidade fundamental

As offshores são investimentos que agradam e muito os super-ricos. Milionários e bilionários brasileiros remetem fortunas ao exterior, em pequenos países e pequenas ilhas que oferecem vantagens como a não tributação, para atrair capital estrangeiro. Segundo o deputado Merlong Solano (PT-PI), relator da MP, dados do Banco Central apontam há hoje cerca de R$ 1 trilhão em capitais brasileiros nesses paraísos.

Com uma taxação, o Ministério da Fazenda espera arrecadar R$ 3,25 bilhões em impostos em 2023 chegando a R$ 6,75 bilhões em 2025, recursos que manteriam a política de valorização do salário mínimo que beneficia diretamente os mais pobres e movimentariam a economia brasileira.

Ouvido pelo Portal da CUT, o economista da Unicamp, Marcelo Manzano, afirma que a taxação é fundamental e ‘é uma vergonha o Brasil ainda não ter tributados esses investimentos até hoje”.

O economista explica que se trata de um ‘dinheiro que escapa’ e não é tributado, em detrimento do desenvolvimento nacional. “É um problema macroeconômico porque parte dos recursos nacionais vão para fora e, portanto, não geram desenvolvimento no país, não contribuem para novos investimentos aqui, como a expansão da produção”, diz Manzano, reforçando que investimentos no país geram emprego e renda.

Ele afirma ainda que a taxação de offshores, que encontra resistência no Congresso, é uma forma de um Brasil não ficar à mercê de políticas fiscais ‘irresponsáveis’ desses paraísos fiscais. “A maneira de reagir é taxar na saída desses capitais. Todos os países decentes do mundo fazem isso”, ele pontua.

Super-ricos não ficarão mais pobres

O relatório Global Wealth Report (riqueza global, em português), elaborado pelos bancos Credit Suisse e UBS, aponta que o número de milionários no Brasil aumentou significativamente de 2021 para 2022. O total de indivíduos com riqueza acima de US$ 1 milhão passou de 293 mil para 413 mil de um ano para o outro. Há 20 anos, eram apenas 33 mil brasileiros com essas cifras. Já para 2027, a expectativa dos bancos suíços é que a taxa supere 700 mil pessoas.

De acordo com o economista Marcelo Manzano, “isso mostra que nem de longe uma taxação das offshores deixaria esses milionários e bilionários ‘mais pobres’”.

“É dinheiro que eles têm mais do que sobrando dinheiro que eles têm mais do que sobrando. É gente de gente muito endinheirada que ganha, devemos lembrar, no mercado financeiro, graças à política de altos juros do Banco Central”, diz.

Ele explica que a taxa alta de juros (hoje a Selic se mantém em 13,25%), taxa é oferecida a também a investidores no Brasil, que compram títulos da dívida pública. Isso ‘oxigena’ o mercado financeiro e faz com que rentistas apliquem os recursos ganhos aqui com os títulos da dívida pública migrem para os paraísos fiscais.

“Por isso é justíssimo que quando esse recurso saia do Brasil, pague um pedágio. Não necessariamente todos os investidores são aplicadores na dívida pública, mas boa parte do oxigênio no mercado financeiro é garantido por essa alta rentabilidade dos títulos do governo”, diz o economista.

É a clássica migração de renda. Sai dos nossos impostos para os milionários que investem esse dinheiro lá fora. É claro que ninguém gosta, desde o trabalhador até o milionário, de pagar imposto, isso é obvio, mas menos aceitável ainda é que gente que tenha tanto dinheiro não se comprometa em retribuir para a sociedade, devolver parte dessa rentabilidade exagerada, no momento em que querem migrar para fora do país. É justo que paguem

– Marcelo Manzano
Fonte: Cut

Veja Mais!

Centrais sindicais cobram a correção da tabela do imposto de renda

Em nota conjunta divulgada nesta quinta-feira (18/01), as centrais sindicais expressaram preocupação com a falta …