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‘Palestinos estão com fome’, alerta ONU após aliados de Israel cortarem fundos para refugiados

A Agência da ONU para Refugiados Palestinos (UNRWA) alertou para os riscos do aumento da fome na Faixa de Gaza após sofrer cortes em seu financiamento. Duas semanas atrás, o governo israelense acusou funcionários da agência de participação no ataque do Hamas em território israelense que serviu de pretexto para o massacre em curso na Palestina. Após a denúncia, a entidade perdeu praticamente um terço dos seus recursos e a situação dos palestinos na Faixa de Gaza se tornou ainda mais dramática.

Um dossiê de seis páginas elaborado por Israel, ao qual a agência Reuters afirma ter tido acesso, alega que funcionários da UNRWA teriam atuado como militantes do Hamas ou da Jihad Islâmica. A ONU não recebeu formalmente uma cópia do dossiê, disse o porta-voz da organização, Stephane Dujarric, na segunda-feira (29). Os palestinos acusaram Israel de falsificar informações para manchar a reputação da agência.

Uma investigação “completa e urgente” está em andamento, informou a ONU em seu site oficial, e nove funcionários supostamente envolvidos foram demitidos, segundo Philippe Lazzarini, chefe da UNRWA. Mas nenhuma dessas providências foi suficiente para evitar prejuízos à agência. Até agora, 15 países, entre eles Estados Unidos e Alemanha — maiores doadores da UNRWA — anunciaram que vão suspender o aporte de recursos, o que vai provocar um rombo de US$ 444 milhões nas finanças da agência, cujo orçamento total é de aproximadamente US$ 1,2 bilhão.

“Muitos estão com fome enquanto o relógio avança”, disse Lazzarini. Mais da metade dos 2,3 milhões de palestinos de Gaza procuram assistência diária e a UNRWA já está muito sobrecarregada pela guerra de Israel contra o Hamas. Na segunda-feira, a agência informou que seria incapaz de continuar suas operações em Gaza e em toda a região após o final de fevereiro se o financiamento não for retomado.

A menos que surjam novos doadores, ou que esses países voltem atrás, até o final de fevereiro a UNRWA não poderá pagar os salários de seus 30 mil funcionários, 13 mil deles no território devastado da Faixa Gaza. Possivelmente, será prejudicada também a compra e distribuição de alimentos e medicamentos. Outras organizações de ajuda humanitária teriam dificuldade em assumir o papel da UNRWA, dadas as complexidades para se obter acesso a Gaza e a vasta escala de necessidades.

Na terça-feira (30), um porta-voz do Departamento de Estado dos EUA procurou minimizar a gravidade da decisão, alegando que seu país já havia distribuído 99% do último montante aprovado. Mas o fato é que a situação dos palestinos, já fortemente afetada pela ofensiva militar de Israel, tende a piorar se a ajuda humanitária, que já é insuficiente, for reduzida ainda mais.

Fome e desespero

Passados quase quatro meses de guerra, que causa grande destruição na Palestina, muitas pessoas estão à beira da fome. Algumas chegam a saquear veículos de ajuda humanitária em busca de alimentos e suprimentos, como aconteceu em Khan Yunis, no sul de Gaza.

“Tivemos um caminhão ainda esta manhã tentando chegar ao Hospital Nasser, onde há pacientes e funcionários da área de saúde, todos precisando de comida, mas a população, muito necessitada, já havia basicamente tomado os suprimentos”, disse Christian Lindmeier, porta-voz da Organização Mundial da Saúde (OMS), na terça-feira (30).

Esse tipo de incidente, que não é raro, “mostra como são graves as necessidades”, disse ele a jornalistas, alertando que as doenças entre a população desnutrida de Gaza podem se “espalhar como fogo e isso está além dos bombardeios e dos desabamentos de prédios”.

Para piorar, a população de Gaza voltou a receber ordens de evacuação do exército israelense, segundo o OCHA, escritório de coordenação de ajuda humanitária da ONU. “Estamos no meio de outra onda de deslocamento em Gaza, seguindo ordens de despejo para grandes áreas residenciais e em meio a hostilidades intensas”, disse a OCHA em uma postagem no X. “Mais pessoas estão sendo mortas ou feridas. O sul está superlotado e o acesso humanitário ao norte é extremamente limitado.”

Para Bassam Khalil, que fugiu de Jabaliya, no norte de Gaza, para um abrigo da UNRWA no sul com seus cinco filhos após o início da guerra, o fechamento da agência “seria uma grande catástrofe”. “Não há outros doadores. Apenas a UNRWA nos dá farinha, óleo, alimentos enlatados, açúcar, leite, cobertores e colchões”, disse ele.

Se a UNRWA tiver que interromper suas operações, “todos morreremos de fome”, disse Om Ibrahim Alian, mãe de cinco filhos, incluindo um recém-nascido, todos sobrevivendo com cupons de alimentos da agência, fórmula infantil e fraldas.

Sami Abu Shehadeh, um político palestino em Israel, disse que cortar o financiamento da UNRWA por alegações envolvendo uma dúzia de seus 30 mil funcionários equivale a “punição coletiva”.
Com informações do Financial Times e ONU News.
Fonte: Brasil de Fato.

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