Confira as considerações dos palestrantes do 3º Curso de Formação, realizado na última quinta-feira (12), na sede do Sindicato.
Ana Georgina Dias – Economista do Dieese/BA
As transformações no mundo do trabalho já vêm acontecendo há algum tempo, embora sejam recentes alguns conceitos como o de Indústria 4.0, nascido em 2012, na Alemanha. A discussão se aprofunda em 2016 no Fórum Econômico Mundial em Davos, mas o fato é que as mudanças, sobretudo as tecnológicas, já vêm de um bom tempo. Basta a gente lembrar que na década de 1990 a reestruturação produtiva deu as caras de forma bastante contundente. O que vemos agora é para além de uma questão meramente tecnológica, então, é um casamento dos avanços tecnológicos – ou seja, a gente pode fazer uma reserva em um hotel ou comprar uma passagem aérea pela internet – e isso traz implicações para esses setores. O setor financeiro é um dos quais esse avanço tem mais acontecido, trazendo impactos nas formas de trabalho, nas formas de contratação e na própria organização sindical. Como organizar a categoria bancária sendo que boa parte desses trabalhadores, hoje, estão esparsos? Isso se torna um desafio muito grande para a mobilização sindical. A própria reforma Trabalhista traz um desafio quando modifica as formas de financiamento das entidades. A gente vive um limiar entre algo que está se transformando e que ainda não é o que vai vir a ser, e nessa fronteira a gente se encontra bastante confuso e tentando entender esse processo.
Luis Rogério Cosme Santos – Enfermeiro, professor do IMS/UFBA e membro da CIST
O trabalho é um fator para a saúde, mas também é um fator para o adoecimento. Aí é o paradoxo. No momento atual, com a flexibilidade do trabalho, em que o capitalismo se transmuta e impõe uma polivalência, uma disponibilidade excessiva e exigência adaptativa, aquele trabalho que geraria renda para o sujeito – e renda faz parte da qualidade de vida -, passa a solapar a sua estrutura física ou psíquica. Porque a partir dessa perspectiva do capitalismo flexível de agora, você não vale pelo seu tempo de serviço, pela sua experiência, pelas relações sociais construídas com o seu trabalho. Você vai valer pela capacidade de ser polivalente, ou seja, um fazendo o trabalho de três ou quatro; ser disponível, já que a tecnologia é um mecanismo grave de controle do sujeito – antes era no e-mail, agora é no WhatsApp, no Facebook – e você tem que estar adaptado. Tem uma lógica reforçada por algumas pessoas que fazem o jogo do capital e estabelecem como verdades teorias administrativas clássicas que dizem que o bom é inovar, como se a adaptação constante não trouxesse impacto físico e psíquico. É uma perspectiva sociológica que segue o modelo do “Yes, I can” dos Estados Unidos, porque lá parece que o sonho americano é para todo mundo, e não é verdade porque também há desigualdade nos EUA.
Augusto Vasconcelos – Advogado e presidente do Sindicato dos Bancários da Bahia
Neste momento, cada vez mais cresce a importância dos cursos de formação para que nós possamos formar uma nova geração de militantes e também instrumentalizar aqueles mais experientes, para que consigam visualizar a conjuntura do país associando, com os problemas do dia-a-dia do trabalho. Estamos diante de um momento gravíssimo. O movimento mais conservador saiu das catacumbas do fascismo e se reapresenta na sociedade atual, tentando aniquilar tudo que é organizado, e nós queremos justamente mostrar o oposto. Não há sociedade que se desenvolva sem ter direitos, garantias e proteção social. A Constituição de 1988 está ameaçada, e ela é fruto de uma ampla mobilização dos sindicatos e da sociedade civil organizada. Por isso, defender os Sindicatos é também defender a Constituição e os direitos da maioria do nosso povo, que são os trabalhadores, quem constrói o dia-a-dia do nosso país. Não há desenvolvimento possível se não houver direitos básicos. A desigualdade no Brasil disparou depois da reforma Trabalhista. Prometeram gerar milhares de empregos, e o que vimos? Uma tragédia social. Pessoas pedindo esmola na rua, crianças morando debaixo de viadutos e uma tragédia ambiental de grandes proporções, que não atinge só a Amazônia, como também diversos espaços do nosso país. Portanto, a defesa do sindicato, da organização coletiva, é a defesa da cidadania, daqueles que querem lutar por inclusão, para que o Brasil possa ser um país voltado para a maioria do nosso povo, e não subserviente aos interesses norte-americanos, como o governo já está apontando.
Sofia Manzano – Economista e professora da UESB
Acredito que as trabalhadoras e os trabalhadores bancários podem ser beneficiados com a leitura do livro Economia Política para Trabalhadores, porque além deles estarem no meio do trabalho em que passam todas essas relações capitalistas mais profundas, que é o banco e o setor financeiro, eles precisam também compreender qual é o impacto das medidas que são tomadas, que vão desde os seus empregos até a saúde financeira das instituições em que elas trabalham. Então, os bancários poderão retirar desse livro um conjunto de ensinamentos e a partir daí, expandir o conhecimento da área em que eles atuam. Então, não é só um instrumento para compreender o capitalismo, mas para aqueles trabalhadores e trabalhadoras que estão mais diretamente envolvidos no setor financeiro pode acrescentar muitíssimo à sua formação, tendo acesso a um conjunto de informações que podem contribuir, inclusive, no seu cotidiano.