O Piquete desta semana entrevistou o secretário geral da Intersindical – Central da Classe Trabalhadora, Edson Carneiro, o Índio. Na entrevista, foram apontados os riscos das medidas nefastas do governo Temer e o papel dos brasileiros contra essas retiradas de direitos.
A população foi às ruas do Brasil na Greve Geral do último dia 28 mostrar que não aceita os abusos de Temer e do Congresso. O que essas manifestações representaram? Viemos de uma sequência de importantes mobilizações. No dia 28 de abril, tivemos o ápice desse processo. De norte a sul do Brasil, cerca de 40 milhões de pessoas cruzaram os braços na greve geral, paralisando a produção e circulação nos diversos setores econômicos. Além da paralisação, houve importantes manifestações em centenas de cidades. A classe trabalhadora respondeu ao chamado das centrais sindicais e dos movimentos sociais contrários ao fim da aposentadoria e dos direitos trabalhistas, representando que a população é absolutamente contrária aos projetos do governo que desmontam os direitos.
Qual a importância de dar continuidade aos atos de mobilização, fixando um calendário de luta, como, por exemplo, com as ações do Ocupa Brasília? O que está sendo preparado pelas centrais? É fundamental apontar um calendário unitário. Aliás, o sucesso do 28 de abril só foi possível pela unidade dos diversos setores. Para a Intersindical, é muito importante realizar uma grande manifestação em Brasília no dia 24. Mas, já na construção da marcha, é preciso debater com os trabalhadores a necessidade de uma nova greve geral no país. Esse calendário deve ser anunciado em conjunto pelas centrais sindicais por ocasião da marcha a Brasília. Teremos uma segunda greve geral, mais forte, participativa, mais contundente e com maiores impactos sobre a produção.
Estudo apontou que, em média, brasileiro vem perdendo um direito por dia desde a posse de Michel Temer como presidente da República. Além das manifestações, como lutar contra o avanço desses ataques? Estamos diante dos maiores ataques aos direitos sociais da história do Brasil. O fim da aposentadoria significaria levar milhões de pessoas, principalmente os idosos, para a miséria, sem nenhuma proteção na idade em que mais precisa, depois de décadas de trabalho. Tudo isso para entregar aos bancos privados a Previdência Pública. Já a reforma trabalhista retira o principal instrumento que nos separou da barbárie, que é a CLT, que garante direitos mínimos para os trabalhadores. A reforma trabalhista é ainda pior que a da Previdência. Para combater isso, precisamos construir fortes mobilizações de rua, uma potente greve geral e aumentar, como nunca, a pressão sobre os parlamentares. Deputados e senadores têm que saber: quem votar contra os direitos nunca mais vai receber o voto do trabalhador. Por isso, é fundamental dar ampla divulgação dos nomes dos parlamentares que estão votando com o governo Temer e contra a população.
Como o senhor avalia essas alterações nas relações trabalhistas e previdenciárias do país? As mudanças são profundas. Na categoria bancária, por exemplo, se a reforma trabalhista for aprovada, os riscos são imensos. Os bancos vão querer acabar com nossa categoria e todos os direitos que estão estabelecidos na nossa Convenção Coletiva. Uma parte da nossa categoria será pejotizada, ou seja, não terá registro em carteira. Para trabalhar, tem de abrir uma “empresa individual”, pessoa jurídica (PJ), sem direito a PLR, férias, décimo terceiro, fundo de garantia, descanso semanal, ticket alimentação e restaurante. Ou seja, perde tudo o que o bancário tem. Os bancos devem, também, terceirizar muita gente. O terceirizado nos bancos já não tem direito a PLR, ticket alimentação e refeição (se tiver é um valor baixíssimo), auxílio creche/babá, jornada de 6h e todos os direitos estabelecidos na nossa Convenção Coletiva Nacional. Outra parcela poderá ter um contrato “intermitente”, quando o banco pode contratar pessoal por algumas horas ou dias. Por exemplo: nos primeiros dez dias as agências estão superlotadas, o volume de serviços aumenta. O banco vai poder contratar pessoas para trabalhar apenas nestes dias. O resto do mês você fica sem trabalho e sem salário. Além disso, os bancos podem querer mexer, através da negociação, em questões como jornada de trabalho ou nas férias de 30 dias. Ou seja, o que Temer quer aprovar no Congresso não são reformas, são desmontes de todos os direitos conquistados com muita luta e que estão garantidos atualmente pela Constituição Federal.
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