A Funcef concluiu, na noite da terça-feira (12), a venda de sua participação na Eldorado Brasil Celulose para a CA Investment (Brazil) S.A., subsidiária da europeia Paper Excellence. E, diferentemente do que fez a Petros – que também investia na Eldorado e, assim como a Funcef, vendeu suas ações –, a diretoria da Fundação optou por não revelar os valores e nem as condições do negócio. Com o desfecho, a Funcef deixa de ter participação em um de seus investimentos de maior impacto justamente quando a companhia brasileira registra números recordes de produção e o mercado global de celulose passa por momento positivo, aumentando os lucros dos acionistas.
O valor da venda informado pela Petros, que detinha o mesmo número de ações na Eldorado, foi de R$ 665,7 milhões. Em nota curta, a diretoria da Funcef se limitou a dizer que “as condições finais da venda permitiram à Funcef atingir as metas atuariais de seus planos”. A diretora de Saúde e Previdência da Fenae, Fabiana Matheus, questiona a ausência de transparência. “É um total desrespeito com os participantes. O que a Funcef quer dizer com essa nota é uma espécie de ‘batemos a meta e é só isso que você, participante, tem de saber!”, critica.
Assim como a Petros, o fundo de pensão da Caixa detinha uma fatia de 24,75% no FIP Florestal – acionista direto da Eldorado –, o que equivalia à participação indireta de 8,53% no capital social da companhia. Em 2015, as ações chegaram a valer R$ 1,5 bilhão e, após a perda registrada no ano passado, fechou o exercício avaliado em R$ 389,1 milhões. Considerando o aporte inicial de R$ 272,2 milhões realizado em 2009, a rentabilidade acumulada até 2016 foi de 42,93%. A venda já vinha sendo anunciada pela imprensa desde setembro, embora a diretoria da Fundação nunca tenha sido clara com os participantes quanto aos detalhes do negócio.
O momento da venda
A Paper Excellence (PE) tem operações na França e Canadá. Em setembro, a companhia avaliou a Eldorado em R$ 15 bilhões e começou a forte investida. Com a aquisição das fatias da JBS, Petros e Funcef, a multinacional alcançou participação de 47,4% na produtora brasileira. O interesse é facilmente justificável: somadas, as sete unidades da PE no Canadá e na França têm capacidade para fabricar 2,3 milhões toneladas de celulose ao ano, enquanto a Eldorado, sozinha, produz 1,7 milhão. “Venderam uma das maiores e mais eficientes indústrias de celulose do mundo provavelmente a ‘preço de banana’. Visão míope em busca da liquidez e redução de risco de ativos reais”, questiona Fabiana.
Em junho, a Eldorado comunicou ao mercado um recorde de produção. Nos primeiros cinco meses de 2017, foram produzidas 730 mil toneladas de celulose, volume 12% maior que no mesmo período do ano passado. Com o forte poderio financeiro da companhia estrangeira, a expectativa é de números ainda maiores nos próximos anos. “Além de tudo, o momento da venda é no mínimo estranho. Vender quando a empresa está indo bem não faz sentido, principalmente diante da possibilidade de expansão da companhia. A Funcef precisa ser mais transparente com o participante e explicar o valor, o porquê e o real impacto dessa transação”, avalia Fabiana.
Investimento polêmico
A Eldorado já foi objeto de denúncias feitas dentro da própria Funcef que apontavam supostas irregularidades na precificação além de pagamentos de propina. As acusações nunca foram confirmadas ou desmentidas pela Fundação, que em nenhum momento se manifestou sobre o assunto.
A acentuada desvalorização do investimento na Eldorado permaneceu encoberta ao longo de todo o primeiro semestre, enquanto a Funcef postergava a publicação do balanço anual. A ausência do laudo de avaliação da empresa, que segundo a Fundação só foi entregue em junho de 2017, foi usada como justificativa para o acintoso atraso na divulgação dos resultados de 2016, que só ocorreu em agosto deste ano.
Empresa foi depreciada durante a venda
Em 2015, o laudo de avaliação da produtora de celulose apontou ganho de 184%, equivalente a R$ 1.008.701. Porém, o laudo referente ao exercício de 2016 – aquele que foi divulgado com atraso – indicou acentuada desvalorização de 75,03% em relação ao ano anterior. Na prática, no mesmo período em que se desenrolavam as negociações da venda da Eldorado, o investimento foi avaliado pela própria companhia por um valor equivalente a 1/3 da precificação anterior.
“O laudo de 2016 foi divulgado apenas em junho deste ano, no meio do processo de venda. Ou seja, o vendedor depreciou o valor da empresa enquanto negociava a sua venda. Este não seria papel do comprador?”, indaga a diretora da Fenae.
Fonte: Fenae