No Brasil ocorrem mais de 500 mil abortos clandestinos por ano, 1300 por dia, 57 por hora, quase 1 por minuto. O aborto, mesmo criminalizado e ilegal no Brasil, é uma realidade na vida das mulheres. Uma a cada 5 mulheres aos 40 anos já abortou. 4 mulheres morrem por dia em decorrência de abortos mal sucedidos. A maioria das mulheres que morrem são mulheres trabalhadoras, pobres e negras. Somente no Rio de Janeiro 43 mulheres estão sendo processados por terem recorrido ao procedimento clandestino do aborto. Sim, é uma realidade. Você, sua amiga, sua vizinha, sua filha todas já abortaram ou conhecem alguém que já abortou. Enquanto isso as clínicas privadas lucram com a clandestinidade. Estamos falando não somente do direito de decidir, mas também de um tema de saúde pública.
A cúpula das Igrejas, que se utiliza da fé individual da população, ao lado das bancadas conservadoras e dos candidatos do golpe institucional vem há anos impedindo que este direito elementar das mulheres possa ser legalizado. Bispos acobertam padres pedófilos e supostamente defendem a “vida” enquanto milhares morrem por abortos clandestinos. Dos candidatos da “ordem” vários são contrários à legalização do aborto como Álvaro Dias (Podemos), Geraldo Alckmin (PSDB), Jair Bolsonaro (PSL), João Amoêdo (Novo). Ciro Gomes (PDT) e Marina Silva (REDE) fazem demagogia dizendo que não seriam eles a ter poder de decisão. O PT, com Lula (preso arbitrariamente) ou outro candidato, deverá repetir o que fez nos seus anos de governo: não legalizar o aborto. Assim deverá fazer também o PCdoB de Manuela D’Ávila, base do governo do PT em todos estes anos.
Diante de toda esta situação parece difícil organizar a nossa luta. Mas no nosso país vizinho começa a ecoar um forte grito de esperança e luta. São as mulheres trabalhadoras, jovens, idosas, donas de casa, desempregadas. São os homens, os nossos amigos, os companheiros de luta, aqueles que estão do nosso lado contra o machismo e o patriarcado. São as “meninas”, as “filhas”, que aos 12 anos convencem seus pais de que o aborto é uma questão de saúde pública, que ela quer crescer numa sociedade onde não haja nenhuma mulher a menos por abortos clandestinos.
Que o aborto possa ser legalizado na Argentina seria um enorme impacto para todas as mulheres da América Latina. A luta delas é a nossa luta.
Significaria um impulso forte pra se lutar não somente pelo direito ao aborto, mas por todos os nossos direitos, nos preparando também pra enfrentar os planos de ataques que querem levar adiante, mesmo os candidatos que se dizem progressistas mas estão comprometidos com a Lei de Responsabilidade Fiscal e com a dívida pública não terão outra alternativa a não ser aplicar mais ataques. Descarregar a crise nas costas dos trabalhadores significa descarregar duplamente nas mulheres pobres e trabalhadoras, que também arcam com o trabalho doméstico gratuito em suas casas.
A hipocrisia deste Estado que não garante o direito das mulheres sobre seu próprio corpo é o mesmo Estado que não garante o direito à maternidade. Uma trabalhadora terceirizada se engravida pode chegar a ser demitida. As trabalhadoras grávidas e em amamentação poderão trabalhar em lugares insalubres segundo a reforma trabalhista, recém-aprovada por estes mesmos senhores do Congresso Nacional que buscam impedir nossos direitos. Não reconhecem sequer o trabalho doméstico necessário para a reprodução da força de trabalho, nos eximindo de ter acesso a creches, lavanderias e restaurantes. Tudo isso cobra um preço muito maior com a PEC do teto de gastos, que tem efeito ainda mais cruel sobre as mulheres, sendo consequência justamente da manutenção do pagamento da dívida pública, uma dívida ilegal, ilegítima e fraudulenta que deve ser parte da nossa luta não pagá-la.
É por isso que no dia 8 de agosto nós temos uma tarefa também aqui no Brasil. Nossa tarefa é construir em todos os estados enormes manifestações em apoio às argentinas e pela legalização do aborto no Brasil.
Concentrar todas as nossas forças nesta tarefa. Construir em cada local de trabalho e estudo essa batalha. Levar este debate, discutir no ônibus, no almoço, com a família, na fábrica, no local de trabalho. Mostrar que a Argentina foi tomada por uma maré verde, com mulheres de todas as idades usando os lenços verdes como símbolo de sua luta. Que as mulheres não aguentam mais essa opressão e essa intromissão do estado em nossos corpos. Não aguentamos mais a hipocrisia das cúpulas das Igrejas. Por isso também dizemos que o Estado deve ser laico e portanto Igreja e Estado são assuntos que devem estar separados.
Essa tarefa deve ser tomada por todas as organizações de mulheres, direitos humanos, entidades estudantis e sindicatos como a CSP-Conlutas dirigida majoritariamente pelo PSTU. Por exemplo, por que o PSOL não busca fortalecer um chamado unificado para concentrar forças no dia 8, que pode aumentar a força da luta pela legalização do aborto a partir do resultado da luta das mulheres argentinas? Esse chamado poderia exigir que as centrais sindicais rompam a trégua com o governo golpista. Pra isso é preciso organizar assembleias e plenárias de mulheres para votar a participação no dia 8. Não devemos nos dispersar com outras manifestações como está fazendo o PSOL com a Audiência da ADPF (Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental) no STF em Brasília: é importante levar nossas demandas aí para defender a legalização do aborto — e não apenas a descriminalização já que queremos que o aborto deixe de ser crime mas passe a ser um direito — mas não devemos dividir as nossas forças em vários atos parciais. Precisamos concentrar forças em um grande dia de luta, para arrancar o direito ao aborto sem nenhuma ilusão nas instituições do Estado incluindo o judiciário golpista! Esse dia é o dia 8, quando a terra vai tremer na Argentina e vamos ouvir nossas “hermanas” gritando pelo aborto legal, seguro e gratuito.
Por tudo isso chamamos todas e todos a se somar com o Pão e Rosas e marchar no dia 8 de agosto. Precisamos ser milhares nas ruas. Vamos lutar pelo direito ao aborto legal, seguro e gratuito.
Mas também por educação sexual pra decidir, contraceptivos gratuitos e de qualidade para não abortar. Exigimos a separação da Igreja do Estado. Pela anulação imediata de todos os processos contra mulheres que realizaram um aborto. Lutemos contra a reforma trabalhista, que obriga as trabalhadoras grávidas e lactantes a trabalhar em locais insalubres. Lutemos contra a PEC 55 que retira orçamento da saúde, por uma saúde 100% estatal sob controle dos trabalhadores e usuários. Lutemos contra a reforma da previdência que nos fará trabalhar até morrer. Porque a luta das mulheres pelo direito ao aborto pode ir por muito mais!
Nós do Pão e Rosas, grupo internacional de mulheres composto pelo MRT e independentes, e pelo PTS na Argentina (integrante da Frente de Esquerda e dos Trabalhadores) lutaremos para enfrentar não somente o patriarcado e a luta pelos nossos direitos mas pra enfrentar o capitalismo e toda essa sociedade de exploração, por isso o nosso feminismo é socialista!
Vamos impulsionar uma enorme campanha com cartazes, videos, material impresso, participe ativamente! Venha com o Pão e Rosas!
São Paulo dia 8 às 18h veja o evento aqui
Contatos: Diana Assunção / Maíra Machado / Vitória Camargo (Campinas)
Rio de Janeiro dia 8 às 16h veja o evento aqui
Contatos: Carolina Cacau / Rita Cardia
Minas Gerais dia 8 às 18h veja o evento aqui
Contato: Flávia Valle
Porto Alegre dia 8 às 17h30, veja o evento aqui
Contato: Valéria Muller
Fonte: Esquerda Diário