A Embraer anunciou nesta segunda-feira, 17, que aprovou junto à fabricante americana de aviões Boeing os termos do acordo estratégico anunciado em julho, que prevê a criação de uma nova empresa no segmento de aviação comercial. A união entre as duas empresas, no entanto, ainda está sujeita à aprovação do governo brasileiro, que detém na Embraer uma golden share – uma ação especial que dá direito a veto em decisões importantes. A partir deste anúncio, o Palácio do Planalto tem o prazo de 30 dias para se pronunciar, o que pode acontecer ainda sob a gestão de Michel Temer ou após a troca de governo.
O presidente eleito Jair Bolsonaro já afirmou publicamente que apoia a união entre as duas empresas. “A fusão da Embraer com a Boeing continua sem problema algum e vou avalizar”, disse em sua primeira entrevista a jornalistas após o segundo turno. Em um evento mais recente, o presidente eleito explicou que se a fabricante brasileira continuasse solteira como está, “a tendência era desaparecer”.
Nos últimos meses, as duas empresas estavam tentando correr contra o tempo para selar o acordo ainda sob a gestão de Michel Temer, que sempre se mostrou favorável à fusão. A expectativa das companhias é que, se tudo correr dentro do previsto, o negócio avaliado em 5,26 bilhões de dólares deve ser concretizado em 2019.
Pelo acordo, a Boeing será controladora da empresa, com 80% da participação, enquanto a Embraer deterá 20%. A fabricante americana pagará aos brasileiros 4,2 bilhões de dólares, o valor representa um aumento de 10% a mais do que a cifra acertada em julho, quando as companhias anunciaram a parceria.
A expectativa é que a parceria não terá impacto no lucro por ação da Boeing em 2020, passando a ter impacto positivo nos anos seguintes. A joint venture deve gerar sinergias anuais de cerca de 150 milhões de dólares – antes de impostos – até o terceiro ano de operação.
Ações da Embraer sobem
O mercado reagiu bem ao anúncio. As ações da Embraer no Ibovespa chegaram a subir mais de 7% após a divulgação dos termos do acordo na manhã desta segunda-feira. De tarde, às 16h30, ação da companhia avançava 2,85%. O anúncio foi divulgado uma semana depois de o Tribunal Federal da 3ª região (TRF3) ter revogado liminar que impedia as companhias de aviação de seguirem com as negociações.
O acordo entre a Boeing e a Embraer já provoca ações legais contrárias e medo no sindicato do setor. As críticas giram em torno da possibilidade de que os serviços de aviação comercial da brasileira sejam retirados do país, gerando prejuízos que vão desde a perda do polo tecnológico até a extinção de aproximadamente 26 mil postos de trabalho.
A nova empresa será liderada por uma equipe de executivos sediada no Brasil, incluindo um presidente e CEO. A Boeing terá o controle operacional e de gestão da nova empresa, que responderá diretamente a Dennis Muilenburg, presidente e CEO da Boeing. A Embraer terá poder de decisão para alguns temas estratégicos, como a transferência das operações do Brasil.
“Estamos confiantes que esta parceria será de grande valor para o Brasil e para a indústria aeroespacial brasileira como um todo. Esta aliança fortalecerá ambas as empresas no mercado global e está alinhada à nossa estratégia de crescimento sustentável de longo prazo”, disse Paulo Cesar de Souza e Silva, presidente e CEO da Embraer, por meio de nota.
A Embraer informou também que chegou a um acordo sobre os termos para formação de uma segunda joint venture com a Boieng para promover e desenvolver novos mercados para o avião cargueiro militar KC-390. Pela proposta, a brasileira deterá 51% de participação e a americana 49% restantes. A transação também está sujeita à aprovação do Governo brasileiro e ratificação do conselho de administração da Embraer.
Fonte: El País