Na última edição d’O Piquete Bancário noticiamos o caso de Afonso Mori, de 26 anos, que em seu último expediente no banco Itaú – agência localizada em São Paulo, foi trabalhar fantasiado do super-herói Homem Aranha. Com esse ato, o ex-bancário, que já havia sido diagnosticado com síndrome do pânico, fez a categoria refletir sobre a importância do olhar sobre a saúde mental no ambiente organizacional.
Segundo a Central Única dos Trabalhadores (CUT), dados obtidos junto ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) revelam que o número de bancários afastados por transtornos mentais cresceu 61,5% nos últimos oito anos. De acordo com o Ministério Público do Trabalho (MPT), os bancos foram responsáveis por 5% dos trabalhadores afastados por doença entre 2012 e 2017, sendo que a categoria representa apenas 1% de todos os empregos no país.
Na base do SEEB/VCR, de 2012 até janeiro deste ano, foram registrados 15 casos de afastamento por adoecimento mental, com um aumento de 400% entre 2016 e 2018. Esses são apenas os casos notificados, uma vez que, muitas vezes esse tipo de adoecimento é subestimado e estigmatizado tanto por trabalhadores quanto por patrões, o que dificulta o registro das notificações pelo Sindicato. “Ainda existe muito preconceito no que diz respeito aos transtornos mentais, e isso leva o bancário a buscar auxílio profissional quando já está numa fase bastante avançada da doença. Além disso, há um grande número de pessoas com LER/Dort que também sofrem com problemas psicológicos e ou psiquiátricos diagnosticados que acabam sendo colocados em segundo plano e não são notificados adequadamente. Somente no ano passado, foram quatro casos que nós acompanhamos”, conclui a diretora de Assuntos de Saúde e Qualidade de Vida do Trabalhador, Giovania Souto.
Para a professora doutora do curso de Psicologia da Universidade Federal da Bahia (IMS-UFBA), Rayana Santedícola, existem três pilares que, uma vez adotados pelos bancos, podem prevenir o adoecimento da categoria. “Com uma gestão participativa na definição das metas; as políticas e práticas de Gestão de Pessoas adequadas às necessidades do trabalhador; e as políticas de saúde mental envolvendo qualidade de vida no trabalho, certamente os trabalhadores bancários adoecerão menos”, explica. Em relação aos bancários, dra. Rayana reforça que “um importante fator de proteção à saúde mental é o suporte social – cultivo das amizades, ter tempo para se relacionar com a família, manter os laços com as pessoas significativas. Tudo isso aliado à prática de atividade física regular, boa alimentação, e, de uma forma mais ampla, a busca de sentido para a vida, não se restringindo apenas ao trabalho”, explica.