Marco Longuinhos é economista e professor da UESB.
O Brasil conta hoje com uma nova equipe de ministros responsáveis pela economia nacional. Sobre este cenário atual, conversamos com o economista e professor Marco Longuinhos.
A economia nacional tem sofrido estagnação e foi duramente criticada no período das eleições presidenciais. Como o senhor avalia a economia brasileira nos últimos quatro anos?
O grande problema dos últimos 16 anos é a ausência de um claro projeto de desenvolvimento econômico. Infelizmente, os governos se concentram no curto prazo, principalmente na tentativa da organização de um cenário favorável ao consumo, e em alguns momentos à produção, mas há claras limitações estruturais. O consumo nos últimos 12 anos foi lançado à condição de meta objetiva da política econômica, embasado pelo aumento do gasto público, ampliação do crédito bancário e dos programas sociais, sem uma ação mais objetiva para a produção, tendo somente algumas medidas pontuais para segmentos específicos. É necessária uma política industrial mais ampla, pois estamos perdendo capacidade industrial, o que é um claro erro. Tivemos nos últimos quatro anos uma gestão limitada, com erros, e, talvez, o principal tenha sido o de continuidade de uma política econômica restringida, que não conduziria o país a um crescimento mais amplo.
Foi divulgada na última sexta-feira (28), que o PIB apontou um crescimento, chegando à expansão de 0,1%. Qual a previsão que pode ser feita para o ano de 2015? Esse crescimento tende a aumentar?
Expansão de 0,1% no trimestre é limitadíssima. Não está claro que ela interrompe um ciclo de baixa. Segundo as projeções realizadas, espera-se um crescimento de 0,8 a 1%, que também são baixas. Quando observamos a qualidade da economia brasileira, notamos seu tamanho e o grau de diversificação dos setores produtivos, mas quando comparamos com os países que compõem os BRICS, o Brasil se coloca como um dos últimos. As expansões da produção e do consumo estão baixas, demonstrando que o modelo econômico adotado faliu, não dando mais respostas à economia.
E em relação à nova equipe de ministros que estão à frente da economia, como o senhor avalia, já que o Ministro da Fazenda Joaquim Levy, por exemplo, é conhecido por defender uma política neoliberal?
Hoje está clara e evidente a tragédia econômica e social propalada pelo neoliberalismo, que não é uma corrente da economia, sendo somente um receituário. Desta forma, podemos compreender que o neoliberalismo nasceu sem base econômica clara e sólida, e, portanto, fadado ao fracasso. Imagino que a equipe terá que recompor equilíbrio nas contas públicas, na política monetária, mas, também, deverá avaliar o modelo econômico atual. Perdemos muito tempo somente concentrados no curto prazo, é necessário pensar o país de forma mais ampla. É urgente a retomada do bom planejamento econômico para que possamos pensar e construir ações que levem ao desenvolvimento do país.