Desde que assumiu o comando do banco Santander em setembro, Ana Botín não deixou dúvidas de que está disposta a agir rapidamente. Agora, a nova presidente do conselho anunciou também não temer abater algumas vacas sagradas.
Dois meses após assumir o comando no lugar de seu pai, Botín substituiu o executivo-chefe do banco e implementou uma das mais amplas reformulações da diretoria na história recente do grupo. Ontem, ela deu um passo possivelmente ainda mais audacioso, reduzindo os dividendos em mais de dois terços e levantando € 7,5 bilhões em capital novo.
Como analistas e banqueiros logo salientaram, essas mudanças assinalam uma ruptura radical com a estratégia do Santander implementada por seu falecido pai, que morreu no ano passado após três décadas como presidente-executivo. Sob Emilio Botín, o banco repetidamente desqualificou as preocupações de investidores e de analistas quanto à posição de capital do grupo – e recusou-se a sequer contemplar a ideia de um corte de dividendos. "Era como um dogma, um princípio que nada tinha a ver com teoria econômica ou financeira", diz Robert Tornabell, professor de atividade bancária na escola de negócios Esade. "Para Emilio Botín, era fundamental não reduzir os dividendos."
A determinação do banco de manter os dividendos estáveis – apesar de grande parte ter sido paga na forma de ações – refletia a preocupação de que um corte nos dividendos poderia "incomodar" pequenos acionistas. A família Botín, que embora dona de menos de 2% do Santander era responsável pela indicação dos ocupantes de três assentos no conselho sob o ex-presidente, de longa data confiava em seus investidores varejistas para manter a dinastia no comando do banco. Para analistas e grandes investidores, porém, a decisão de priorizar solidez de capital em detrimento de dividendos provavelmente faz sentido. "A taxa de capitalização era uma das questões com que todo mundo se preocupava, e isso está sendo atacado neste momento", diz um analista do setor bancário em Madri. Daragh Quinn, analista do Nomura para o setor bancário, diz: "Muitos acionistas teriam preferido uma política de dividendos mais normal, e realmente era mais uma questão de quando, e não se isso iria mudar.
Era claramente insustentável". Analistas argumentam que uma mudança na taxa de capitalização do Santander também já deveria ter ocorrido há tempos. Anteriormente, o Santander balizara os investidores no sentido de que esperassem uma taxa de capitalização de 8% para o fim de 2014 (nível 1, Basileia 3), bem abaixo da média no setor bancário. "Por muito tempo, eles defenderam uma taxa de capitalização mais baixa. Mas as taxas de capitalização no resto do setor eram constantemente superior, enquanto a deles ficou estável. O desnível estava ficando cada vez maior e cada vez mais difícil de justificar", diz Quinn.
Para analistas e banqueiros em Madrid, essas mudanças são prova de que Ana está determinada a impor sua autoridade sobre amplo império financeiro criado por seu pai. "Ela tem poder para tomar decisões e mudar de curso. E ela quer fazê-lo quanto mais cedo melhor. Esse é seu estilo", diz o professor Tornabell. Tendo descartado algumas das principais políticas (e pessoas) postas em prática por seu pai, a questão é para onde Ana irá daqui. As decisões no sentido de fortalecer a governança corporativa, reforçar a taxa de capital próprio e mudar a desatualizada política de dividendos do Santander significa que ela já mudou três das fontes mais perenes do preocupação dos investidores. O próximo teste para Ana poderá muito bem estar no reino das fusões e aquisições – talvez a habilidade pela qual seu pai era mais renomado. "Vimos Ana Botín assumir e impor algumas mudanças nas posições que seu pai tinha", diz Quinn, do Nomura. "Fusões e aquisições é uma área onde ainda teremos de esperar para ver quais são suas ambições".
Fonte: Contraf CUT