Nesta edição, conversamos com a ex-candidata ao governo da Bahia e bancária do Banco do Brasil, Renata Mallet, sobre as ações do governo Dilma e as mobilizações da classe trabalhadora.
Estamos acompanhando diversos anúncios do Governo que contrariam as propostas apresentadas durante a campanha eleitoral. O que mudou do pleito à posse?
As eleições de 2014 foram bastante polarizadas, especialmente a para presidente. Dentro dessa conjuntura de polarização, o PT tentou trazer um discurso mais a esquerda para conseguir mais votos e derrotar o outro candidato da direita tradicional. Dilma disse que ia defender os bancos públicos, não ia aumentar tarifas de energia e que, nem que a vaca tossisse, cortaria nos direitos trabalhistas. Muitos trabalhadores votaram no PT na esperança que Dilma fizesse um mandato mais a esquerda, ao lado dos trabalhadores. Isso não aconteceu. Dilma continuou, nesse segundo mandato, do mesmo lado: o lado dos grandes empresários e dos banqueiros. Logo no início do mandato aumentou a tarifa da energia elétrica e da gasolina, divulgou restruturação na CEF (na prática uma linha de privatização interna, como vem ocorrendo no Banco do Brasil), cortou verbas para a educação pública e atacou direitos trabalhistas. Tudo isso para, em tempo de crise econômica internacional, manter os lucros dos empresários a partir da piora da vida dos trabalhadores que já sofrem com a inflação, com o tarifaço e com cortes de direitos.
Muitos sindicatos fizeram moções e manifestações em apoio à reeleição da presidente Dilma justamente pela proximidade dos seus projetos com as reivindicações trabalhistas. O descontentamento com o governo pode abalar o movimento sindical?
A CUT e a CTB foram os principais cabos eleitorais de Dilma, não deixaram greves acontecer, enfraqueceram as greves, tudo na tentativa de não desgastar o governo. Jogaram esperanças de que o novo mandato de Dilma atenderia as pautas dos trabalhadores. Só que o PT não mudou, nem o governo de Dilma. Ao contrário do que pregam essas centrais que apoiam o governo, não existe um governo em disputa. O governo continuará com política de ataques aos trabalhadores e as condições de vida vão piorar com inflação (aumento de tarifas, dos preços dos alimentos e dos juros dos empréstimos), perda de direitos, arrocho nos salários, demissões, desemprego e privatizações. Isto vai aumentar o descontentamento e pode empurrar os trabalhadores, o povo e a juventude para um aumento das lutas. É o que espero para 2015, mais luta. Com as medidas adotadas pelo governo a única saída deve ser a mobilização dos trabalhadores com independência em relação ao governo e sem alianças com os patrões e seus partidos. O papel dos partidos de esquerda e movimento sociais, deve ser a de desfazer qualquer ilusão em relação ao governo Dilma e em relação a direita. Os movimentos devem apostar todas as suas forças no fortalecimento da luta. Um bom exemplo é a CSP-CONLUTAS (Central sindical e popular) que vai realizar seu Congresso em junho deste ano, para organizar e reunir milhares de trabalhadores, movimentos populares e juventude que estão na lutam e fazem oposição de esquerda ao governo, com objetivo de fortalecer as lutas que virão.
Como a sra. avalia a postura da classe trabalhadora diante dos abusos do Governo ao publicar as Medidas Provisórias 664 e 665? É preciso uma maior mobilização?
São mais do que abusos, são medidas de austeridade típicas da direita. Ocorreram mobilizações contra essas MPs, mas elas ainda estão aquém das possibilidades de luta da classe trabalhadora. Algumas delas foram puxadas pela CUT e CTB. No entanto precisamos entender qual o objetivo dessas centrais, que são base de apoio declarado ao governo do PT, a saber: fazem atos críticos a determinadas posturas do governo, mas mantém o discurso de proteger o governo. As direções sindicais e políticas do PT fazem hoje um duplo movimento, estreitar ainda mais os laços com os grandes empresários e os banqueiros e ocupar o espaço de descontentamento dos trabalhadores, mostrando-se como uma alternativa. Em minha opinião, o PT não é mais uma alternativa, muito menos a direita. É preciso mais mobilização e construir nas lutas uma oposição classista e independente ao governo de Dilma e dos patrões. Devemos exigir a revogação das MPs 664 e 665, a suspensão do pagamento da dívida com um plano econômico dos trabalhadores que combata os juros altos, a inflação e as metas de superávit.
Após um dos maiores escândalos ligados à corrupção em nosso país, o presidente do Banco do Brasil, Aldemir Bendine, assume a presidência da Petrobrás. A sra. acha que foi uma boa escolha?
Aldemir Bendine, o Dida, foi responsável por implantar uma reestruturação no Banco do Brasil que significou privatização interna do banco. O resultado disso foi piora das condições de trabalho, terceirização e aumento do adoecimento dos bancários. Com o nome de Dida, Dilma deixa claro que quer aprofundar ainda mais a privatização da Petrobrás, iniciada por FHC e continuada pelo PT, de aumento de terceirização e dos leilões do petróleo. Se queremos combater a corrupção e defender a Petrobrás devemos lutar por uma Petrobrás 100% Estatal e controlada pelos trabalhadores e que ponha fim as terceirizações, que hoje representa a porta de entrada para a corrupção e super-exploração dos trabalhadores na Petrobrás. Para isso seria necessário fazer eleição direta para a presidência da estatal, com voto dos trabalhadores e escolha de funcionários de carreira para assumirem os cargos de presidência e chefia da empresa. É preciso pôr fim aos leilões do petróleo e às demissões, com garantia de emprego e incorporação aos quadros da Petrobrás dos trabalhadores hoje terceirizados. Além disso, é preciso acontecer a prisão e confisco dos bens de todos os corruptos e corruptores (não apenas seus “gerentes”).