Sobre o atual cenário político e econômico do Brasil, conversamos com a socióloga do Núcleo Piratininga de Comunicação, Luisa Souto.
Qual a avaliação que a senhora faz da situação econômica e política do governo Dilma? O governo está no caminho certo?
Depende para quem. Os interesses dos grandes, dos poderosos estão sendo garantidos. Os dos trabalhadores, por outro lado, estão sofrendo sérias ameaças, como é o caso do projeto da terceirização e das medidas provisórias que mexem com direitos dos trabalhadores. E as medidas que beneficiam os mais pobres como o bolsa-família, entre outros, correm o risco de descontinuidade não por vontade da presidenta, mas por conta do ajuste fiscal, ou seja, de política econômica do governo. Diante de ameaças de crises ou crises reais, a conta sempre recai sobre os trabalhadores. Dilma pode até querer fazer algo para impedir que isto aconteça, mas está sendo vítima de uma tremenda campanha de desestabilização por parte da mídia e de setores reacionários da sociedade brasileira o que a deixa acuada. Outro dia, uma faixa em ato na avenida Paulista, em São Paulo, dizia que Dilma tinha três possibilidades: renúncia, impeachment ou suicídio. Ora, já estão propondo que a presidenta se mate. Diante da pressão dos trabalhadores, o governo Dilma Rousseff já aceita discutir mudanças nas alterações das regras de concessão de direitos trabalhistas e previdenciários. Uma das mudanças que mais desagradaram os trabalhadores é a que trata da primeira solicitação do seguro-desemprego. Pela proposta inicial do governo o prazo passa de seis para 18 meses.
Em relação à composição do Congresso que temos hoje, qual o perfil que pode ser traçado?
O pior possível. A bancada dos trabalhadores enfraquecida numericamente. O PMDB ditando as regras. A maioria do Congresso Nacional é contra qualquer medida que beneficie os trabalhadores e qualquer pauta mais avançada, como o direito dos homoafetivos, por exemplo. Um Congresso que pretende reduzir a maioridade penal e não mexer com a reforma agrária, as terras dos índios e não aumentar os impostos dos atuais donos da terra e de todas as riquezas.
E a postura dos trabalhadores diante das medidas tomadas pelo governo, como o ajuste fiscal e as MP’s 664 e 665? Tem sido satisfatória?
No dia 15 de abril, trabalhadores fizeram, em todo o país, o Dia Nacional de Paralisação contra o Projeto de Lei que aumenta a possibilidade de terceirização e contra as medidas provisórias que retiram direitos dos trabalhadores como o seguro-desemprego e a pensão por morte. Ao final do dia, a Câmara adiou a votação do PL 4330 para o dia 22. Nesta quarta, data prevista para a votação, houve protestos em Salvador, Fortaleza, Distrito Federal, Recife, Sergipe e Santa Maria (RS). Os trabalhadores próprios e terceirizados da REDUC, em Duque de Caxias (RJ) e os trabalhadores da Casa da Moeda estão entre os que pararam no dia 15. Os trabalhadores estão se movimentando sim, mas deveriam ter feito isto antes.
A senhora acredita que o PL 4330, pode ser aprovado pelo Senado? Os trabalhadores demonstraram força nas mobilizações realizadas na última quarta-feira (15)?
Já vimos que a pressão das ruas assusta os parlamentares. A Câmara deu uma recuada, o Senado pode não aprovar. Mas isso depende muito do poder de convencimento que os sindicatos terão nas categoriais que representam. Depende muito da comunicação sindical. Conseguirão fazer com que os trabalhadores entendam a gravidade da situação e se rebelem? Se rebelar significa ir para as ruas, protestar nas redes sociais, vestir roupar de uma determinada cor. Significa a classe trabalhadora voltar a ser o protagonista dos protestos de rua. Os professores da rede estadual de São Paulo estão mostrando força. Eles decidem nesta sexta, dia 24, se continuam ou não a greve que já dura mais de 40 dias. Uma assembleia na semana passada reuniu 60 mil pessoas. Reivindicam aumento salarial de 75,33% para equiparação com demais categorias de nível superior, contratação de professores temporários com garantia de direitos, entre outros itens.
Quais são as perspectivas dos trabalhadores para a campanha salarial deste ano, sobretudo a dos bancários?
Todas as campanhas salariais deste ano serão difíceis. Tudo indica que as negociações vão ser difíceis. Com esta ameaça de crise que ainda não se sabe se é completamente real, os patrões vão tentar negociar manutenção no emprego em troca de reajuste salarial. Os bancários vão aceitar pagar a conta? Os jornais de domingo tratavam dos altos aumento dos salários dos executivos.
* As opiniões expressas na entrevista não refletem, necessariamente, o posicionamento da diretoria do SEEB/VCR.