Conversamos com a presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro da CUT (Contraf-CUT), Juvândia Moreira, sobre a atual conjuntura e os desafios para a categoria. Confira.
Como foram as discussões com a Fenaban sobre os efeitos da MP 905/2019? Não estão sendo fáceis. Apresentamos uma proposta de aditivo que garantia a manutenção dos direitos da categoria que estão expressos em nossa Convenção Coletiva de Trabalho (CCT). Os bancos vieram com uma contraproposta que retirava direitos. Não aceitamos e fizemos outra proposta, mas eles insistiam na retirada de direitos. Não abrimos mão de nossos direitos e chamamos os bancos à razão. O acordo ainda não foi assinado porque os bancos pedem que os sindicatos respeitem os termos negociados e expressos em nossa convenção, mas eles foram pedir a edição desta MP que desrespeita nossa CCT.
Quais direitos da categoria estão em risco para o ano que vem? Agora, por exemplo, estão querendo alteração na jornada. Com o atual governo, também há risco do rompimento da negociação com bancos públicos e privados em mesa única. Enfim, em uma negociação, sempre existem riscos de perda de direitos. Mas, acreditamos que, se a categoria estiver unida e disposta a lutar, podemos vencer essa batalha e manter nossos direitos.
O modelo socioeconômico, tão alardeado pelo ministro da Economia Paulo Guedes, está no centro dos protestos no Chile. O que os trabalhadores brasileiros têm a aprender com o exemplo chileno? Primeiro, é importante dizer que o Paulo Guedes fez escola e trabalhou pela implantação no Chile da política que hoje leva os chilenos às ruas. Ele e o Bolsonaro alardeiam que essa política é a solução para a economia brasileira. Pregam um Estado mínimo, com menos assistência para a população e que deixa o mercado se autorregular, sem que haja mediação. Com pouco tempo de governo já estamos vendo o resultado deste tipo de política no preço da carne, do gás de cozinha, da gasolina e outros combustíveis. É um Estado que não faz política para a maioria da população. É um Estado que reduz direitos do trabalhador e entrega as empresas e o patrimônio públicos para o mercado privado. Já vimos que isso não deu certo em outros países e muitos deles tiveram que reestatizar empresas que haviam sido passadas para a iniciativa privada. Os chilenos demoraram a reagir e agora sofrem as consequências. Precisamos conseguir dar um salto de 30 anos nessa luta para não chegarmos na miséria que vive o Chile hoje. Precisamos fazer a luta agora para impedir que o povo brasileiro perca direitos e que nosso patrimônio público, nossas empresas públicas sejam entregues.
Nesta conjuntura, como o movimento sindical deverá encampar a luta pela manutenção e aquisição de direitos? Não existe receita pronta. Mas, o que o movimento sindical precisa fazer é estar próximo, muito próximo de suas bases. Precisamos dialogar com todos os trabalhadores, saber exatamente quais são seus problemas e debater sobre as alternativas de solução. As centrais sindicais já apresentaram uma proposta para a geração de empregos e para a retomada do desenvolvimento econômico com distribuição de renda. Temos que levar essas propostas para nossas bases, debatê-las e ocupar as ruas para nos manifestar e cobrar a implantação dessas políticas. Além disso, temos que nos manter unidos enquanto categoria para enfrentar os ataques dos bancos, mas também temos que estar unidos enquanto trabalhadores para enfrentar os ataques contra todos os trabalhadores. Quando estamos unidos somos mais fortes, conseguimos pensar melhor, nos formar melhor e lutar melhor.
Como a Contraf pretende ampliar a participação das bancárias e bancários na elaboração das pautas e durante a Campanha Nacional? A categoria bancária é uma das que mais participam das atividades sindicais e com o maior índice de sindicalização do país. Todo ano, antes de cada Campanha Nacional, realizamos uma consulta às bases, que aponta quais devem ser as reivindicações e as lutas as serem encampadas. Isso nos ajuda a vermos e discutirmos sobre os problemas enfrentados no cotidiano de trabalho da categoria. Mas, atualmente, a comunicação e as redes sociais ganharam grande importância. Por isso, além de estarmos presentes no dia a dia da categoria, cada dirigente sindical precisa se tornar um propagador das informações das entidades sindicais. Precisa ler mais, debater mais. Nossa comunicação precisa atingir os bancários diretamente. Nossos sites precisam se tornar a fonte de referência para a categoria. Precisamos conversar com as bancárias e os bancários pelo Facebook, Twitter, Instagram, Tik Tok, WhatsApp… Temos que usar todas as ferramentas possíveis para nos comunicar com nossas bases.
As opiniões expressas não refletem, necessariamente, o posicionamento da diretoria do SEEB/VCR.