Conversamos com o presidente da Federação dos Bancários da Bahia e Sergipe, Hermelino Meira Neto, sobre a atual conjuntura e as dificuldades da Campanha Nacional 2020. Confira.
Quais os desafios estão colocados na luta da categoria bancária neste ano de 2020? Temos uma conjuntura de desafios para a categoria e para os trabalhadores em geral. Para os bancários, derrotar a Medida Provisória 905/2019 vai ser extremamente importante. Esta MP altera diretamente a nossa jornada semanal de 30h para 40h, permite a abertura das agências nos finais de semana e retira a obrigatoriedade da negociação coletiva da PLR, por meio dos sindicatos. Conseguimos suspender essas mudanças até o fim do ano, mas se a categoria não conseguir derrotar a MP, a partir de 2021, estaremos em uma situação bastante complicada. Outro aspecto que precisa ser colocado nestes desafios é a defesa da soberania, da democracia, dos direitos dos trabalhadores e das estatais. No caso dos bancos públicos, precisamos lutar contra os desmontes que estão postos em prática por este governo. Por tudo isso, a Federação defende que este não é o momento de promover uma reforma Sindical, mas de unicidade. Estas são questões urgentes onde precisamos contar com a participação de toda categoria bancária.
O ano foi iniciado com o projeto de abertura de capital da CEF a partir do Caixa Seguridade. Quais os impactos dessa política econômica do governo para o setor bancário? A quem interessa abrir o capital da Caixa Econômica Federal? Esse governo não tem nenhum compromisso com o que é público, com os trabalhadores e com o desenvolvimento do país. A Caixa, que completou 159 anos, é uma empresa 100% pública que presta um bom serviço para a população, que opera funções essenciais para a sociedade e que gera lucro. Parte do montante gerado pelas Loterias, por exemplo, é direcionado para o esporte, cultura e até mesmo para a segurança nacional. Então, essa tentativa de abrir o capital da CEF é uma maneira de esvaziar o banco e remover o seu papel social. Outra ameaça é a retirada do FGTS da Caixa para entrega-lo aos bancos privados. Portanto temos que pensar em uma Caixa Econômica forte e essa luta não deve ser somente dos bancários. É preciso envolver a população e dizer que a CEF pertence ao povo brasileiro, pois sem a Caixa 100% pública nós teremos prejuízos enormes.
Recentemente foi anunciada a criação de um banco chinês no Brasil para financiar fabricantes de máquinas e outras empresas do setor. De que forma isso fragiliza o BNDES, BB e BNB, e quais a consequências disso para economia brasileira? No governo de Fernando Henrique Cardoso tiveram início os processos de privatizações dos bancos estaduais. O Banespa, banco estadual de São Paulo, foi entregue – pois essas empresas foram praticamente doadas para bancos privados nacionais e estrangeiros – ao Santader. Cederam um banco que dava resultados, que promovia o desenvolvimento do estado, de mão beijada para o capital privado. E qual o papel social que o Santander cumpre para São Paulo e para o país? Nenhum. Então é preciso fortalecer o BNDS, o Banco do Brasil, o Banco do Nordeste, o Banco da Amazônia e demais bancos estaduais que ainda temos. Todos os bancos estrangeiros conseguem lucro aqui e remetem para os seus países de origem. Nós não devemos estimular que bancos de capital internacional venham fazer aventura aqui no Brasil. Vivemos em um país capitalista e as empresas nacionais são importantes para promover melhores empregos, distribuição de renda, salários e condições de vida para os trabalhadores. Temos que defender a soberania nacional, tão atacada e destruída por governos aventureiros.
Como o Sr. avalia a importância da Campanha Salarial neste ano, diante do cenário de intensos ataques aos direitos trabalhistas? A democracia serve para muita coisa boa e uma delas é ampliar os direitos e melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores. Um momento onde a democracia e os direitos dos trabalhadores estão sendo atacados é muito preocupante. A minha avaliação é que estamos em um período onde temos que tentar manter as nossas conquistas. Não é a oportunidade de ampliar, mas de preservar os nossos direitos. Será uma campanha muito complexa. Vivemos um período, no passado, de democracia no país onde tínhamos divergências, fizemos greves, mas o ambiente era outro. Hoje a conjuntura é nociva aos trabalhadores e os banqueiros se aproveitam disso para implementar suas políticas. A proposta é antecipar a Campanha Nacional e fazer esse debate com a categoria. Outra ideia é promover uma mesa única de negociação, incluindo bancos privados e públicos. Nós temos que apostar muito na mobilização, conscientização e participação da categoria, pois ela é fundamental para a resistência e manutenção dos direitos. Será um ano difícil, mas os bancários têm demonstrado ao longo dos anos um poder de mobilização, uma garra e eu tenho certeza que em 2020 não será diferente. A categoria vai estar junto com as entidades sindicais lutando pelos nossos direitos, que foram conquistados com dificuldades, com greves, com suor e lágrimas de muitos que nos antecederam.
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