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“40% dos LGBT já sofreram discriminação no trabalho”

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O Sindicato dos Bancários apoia toda luta em defesa dos direitos das minorias. Nesta edição, nós conversamos com o Coordenador de Políticas LGBT em Vitória da Conquista, Danillo Bittencourt, sobre violência, preconceito no ambiente de trabalho e conservadorismo. Confira.

SEEB/VCR – Um relatório feito pelo Grupo Gay da Bahia apontou Vitória da Conquista como o município com o maior número de registros de crimes contra LGBT no estado. A que este alto índice pode ser atribuído?

Danillo Bittencourt – Precisamos entender, e Vitória da Conquista não é um caso isolado, a necessidade de educar a sociedade, como um todo, nas questões de identidade de gênero e sexuais. Ainda não estamos compreendendo, em nosso cotidiano, que as pessoas são livres para vivenciar suas escolhas. Contudo, entre a formulação e a implementação de políticas públicas para lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais o caminho geralmente é longo, tortuoso e cheio de percalços, antes de tudo em face das fortes resistências morais, prevalecentes no interior de muitos órgãos governamentais, no que diz respeito à garantia da cidadania das pessoas que não correspondem aos estereótipos sexuais e de gênero.

SEEB/VCR – Como tem sido a atuação do movimento LGBT aqui em Vitória da Conquista, e como é a participação nas instâncias municipais, como o Conselho da Mulher?

Danillo Bittencourt – O movimento LGBT de Vitória da Conquista está sempre em processo de atualização de suas bandeiras de luta bem como seu próprio funcionamento. Antes de 2011, sem órgão institucional da política LGBT na cidade de Vitória da Conquista-Bahia, nós tínhamos três agrupamentos de identidade LGBT. Hoje, com um trabalho de articulação entre Governo e Sociedade Civil, conseguimos fortalecer novos agrupamentos, com formação de mais seis, totalizando nove grupos que trabalham a temática. Hoje, o movimento LGBT tem cadeira nos Conselhos de Igualdade Racial, Juventude, já definidos por lei nestes espaços de controle social. Quanto ao Conselho da Mulher, o movimento participa das reuniões com direito a voto e proposição de ações para mulheres lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais.

SEEB/VCR – O ambiente corporativo ainda é permeado por atitudes discriminatórias, culminando até mesmo em demissões ou perseguições dentro de algumas empresas. Nos bancos o cenário não é diferente. Como a vítima de preconceito deve se portar e o que deve fazer nestes casos?

Danillo Bittencourt – Um estudo realizado pela empresa de consultoria Santo Caos revela que pelo menos 40% dos profissionais LGBT já sofreram discriminação no ambiente de trabalho por causa de suas orientações sexuais. Chamada de Demitindo Preconceitos – por que as empresas precisam sair do armário, a pesquisa foi feita em formato multimídia e envolveu 230 pessoas entre 18 e 50 anos em 14 regiões do Brasil. Desses participantes, 51% são do sexo masculino e 49% do sexo feminino e 91% afirmaram que trabalham ou já trabalharam. Nesses casos, em Vitória da Conquista, temos a seguinte metodologia de atuação: a) registro da ocorrência na Delegacia mais próxima; b) registro no Disque 100 (serviço Disque Direitos Humanos do Governo Federal) e c) registro junto à Coordenação LGBT da Prefeitura de Vitória da Conquista (via presencial: Praça Tancredo Neves, 116, Centro ou via eletrônico: [email protected]).

SEEB/VCR – Quais os impactos do fortalecimento do movimento LGBT para a sociedade? O Sr. acredita que, apesar do grande número de casos de homofobia, o preconceito vem diminuindo nos dias de hoje?

Danillo Bittencourt – O movimento pela defesa dos direitos humanos das lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais remete-nos para uma realidade complexa, heterogênea e fluida, onde o respeito pela dignidade do ser humano em toda a sua amplitude e diversidade continua ainda a ser um objetivo, mais do que uma conquista. Esse movimento é, sem dúvida, referência fundamental para pensarmos temas como diferença, desigualdade, diversidade e identidade na sociedade brasileira contemporânea. Um de seus maiores desafios também se coloca para todos os movimentos sociais, gestores públicos e sujeitos políticos implicados com o combate a desigualdades: equilibrar-se contingencialmente entre polos dos pares igualdade/diferença e solidariedade/ identidade, de modo a confrontar a fragmentação e unir forças para a promoção da justiça social para a diversidade de sujeitos que poderiam ser tomados como integrantes da base do movimento.

SEEB/VCR – Como o Sr. enxerga o conservadorismo enraizado no Congresso Nacional? Até que ponto prejudica a luta do movimento LGBT?

Danillo Bittencourt – É com muita tristeza que observo o grande retrocesso do Congresso Nacional com tanto conservadorismo. O Legislativo deve primar pelo pluralismo. Há uma maioria eleita pela sociedade, mas é apenas uma parte do todo. Vemos hoje no Congresso vários postos-chave dominados por um grupo e considero isso um problema grave. Vermos a Bancada Evangélica defender os interesses de um setor da sociedade é natural, como em qualquer subsistema social. O Parlamento, por natureza, é a expressão das forças sociais. Até aí perfeito. O que não pode é transformá-lo em uma igreja e fazer o mesmo com o Executivo ou com o Judiciário. Os limites são difíceis de serem estabelecidos. Contudo, depois de anos de passividade e despolitização, o meio LGBT vem ganhando forma e força no cenário político. Não poderia ser diferente, já que no Brasil um LGBT é assassinado a cada 26 horas, o que causa uma extrema indignação da classe. Daí surge à importância de se organizar, de se inserir como um militante político. A partir deste ponto, quando a classe se articula e cria um movimento, é necessário pautar e analisar a luta, qual o caminho a seguir. É preciso reconhecer que a intolerância, o patriarcado e conservadorismo – que tem como base de sustentação o capitalismo – enraizados na sociedade são os responsáveis por tamanho ódio contra a classe LGBT. Portanto aqueles que nos discriminam, nos segregam, nos colocam às margens da sociedade e que tentam nos impor uma inferioridade social e jurídica, são os que devemos combater na nossa militância diária.

As opiniões expressas na entrevista não refletem, necessariamente, o posicionamento da diretoria do SEEB/VCR.

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