Pretos e pardos representam quase um em cada quatro brasileiros hospitalizados com Covid-19 (23,1%), mas chegam a um a cada três entre os mortos (32,8%) pela doença provocada pelo novo coronavírus, segundo dados divulgados na última sexta-feira (10), pelo Ministério da Saúde.
“Esses dados mostram a enorme ausência de políticas públicas na área de saúde para a população brasileira, em especial a preta e a parda mais vulneráveis, que dependem do serviço público para sobreviver”, critica a secretária de Combate ao Racismo da CUT, Anatalina Lourenço.
De acordo com a secretária, a situação piorou especialmente depois do golpe de 2016, quando políticas como o congelamento por 20 anos de gastos de áreas fundamentais como a saúde e educação foram propostas por Michel Temer (MDB-SP), aprovadas pelo Congresso Nacional e mantidas pelo governo de Jair Bolsonaro.
Os governos neoliberais que assumiram depois dos ex-presidentes do PT, Lula e Dilma, são, na opinião da secretaria, responsáveis pelo drama que está acometendo a população preta e parda mais pobre do país.
A dirigente lembra que, de acordo com a Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, 67% dos brasileiros que dependem exclusivamente do Sistema Único de Saúde (SUS) são negros, e estes também são maioria dos pacientes com diabetes, tuberculose, hipertensão e doenças renais crônicas no país – todos considerados agravantes para o desenvolvimento de quadros mais graves da Covid-19.
“Boa parte dessas comorbidades é ligada a questões sociais, como a falta de saneamento básico, condições precárias de moradia, ou alimentação inadequada e agravada pelas desigualdades raciais. Essas condições socioeconômicas vão gerando maior vulnerabilidade em saúde que vai pesar muito durante a pandemia”, afirma Anatalina.
E o problema não e só no Brasil, está sendo registrado até no país mais rico do mundo. Nos EUA, o novo coronavírus também está matando negros em taxas mais elevadas do que na população em geral. E lá também, as autoridades dizem que isso se deve às disparidades no acesso a cuidados e atendimento de saúde.
Essa também é a percepção de Jana Silverman e Alexis de Simone representantes da AFL-CIO que, em recente videoconferência com as Secretárias de Combate ao Racismo na CUT, afirmaram que, assim como no Brasil, a maioria dos afroamericanos também estão nos empregos de menor qualificação e nas piores condições de vida o que acarreta desigualdades enormes aos serviços de saúde e assistência social.
Diferença de letalidade entre brancos e negros
No Brasil, a diferença de letalidade entre brancos e negros pode ser ainda maior. Dos 1.056 óbitos pela Covid-19 contabilizados até a semana passada, 32% não tiveram a cor/raça da vítima registrada.
O fato de não existir um terço da informação sobre os óbitos é algo grave, mas reflete a primeira onda de contaminados pelo coronavírus, alerta Anatalina, lembrando que pessoas de alto poder aquisitivo, majoritariamente brancas, que viajaram para fora do país e voltaram com o vírus tiveram acesso aos testes e a serviços hospitalares. Porém, só em São Paulo tem 17 mil exames na fila de espera, sem resultados ainda.
Pedidos de dados sobre impactos da pandemia na população negra
A Coalizão Negra por Direitos também realizou uma videoconferência no dia 3 de abril para avaliar os primeiros impactos da pandemia na população negra e traçar ações e no dia 8 entrou com pedido, via Lei de Acesso à Informação, para que o Ministério da Saúde divulgasse os dados relativos à pandemia do coronavírus com recortes de raça, gênero e localização.
O pedido também foi feito pelo Grupo de Trabalho de Saúde da População Negra da SBMFC, que pressiona as autoridades sanitárias para que os dados sobre as mortes e casos de SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave) sejam desagregados por bairros nos municípios.
Fonte: CUT.