Nesta edição nós conversamos com o jornalista Altamiro Borges, coordenador do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé. Ele foi palestrante no 4º Encontro da Juventude Bancária, e fala sobre a participação dos jovens nas lutas de classe, democracia e a luta dos trabalhadores no atual cenário brasileiro.
Qual a importância da conscientização política e da participação dos jovens para o fortalecimento da luta dos bancários? É decisiva. A juventude precisa despertar a consciência crítica e de classe, para ir assumindo os postos de comando nas entidades sindicais. A juventude é muito contaminada pela mídia que faz uma propaganda de negação da política, da ação coletiva. Os bancos, por exemplo, tratam os trabalhadores como colaboradores, parceiros, e a própria empresa como família, um time, e o sindicato como agente desagregador desta família. Esses fatores: mídia, empresa e educação, acabam dificultando uma conscientização maior da juventude para participar da vida coletiva, da classe, em prejuízo da própria juventude, pois a tendência é que seus direitos sejam ainda mais ameaçados e golpeados.
Em tempos de Agenda Brasil, proposta por Renan Calheiros e apoiada pela presidente Dilma, como podemos colocar a Agenda dos Trabalhadores nas prioridades do Governo? A Agenda Brasil reflete o interesse do setor patronal. É quase uma pauta do setor empresarial, que tem a ver com terceirização, rigor nos contratos, Previdência Social, mas volto a dizer que é melhor essa Agenda do que Renan e Cunha jogando contra o Brasil. Neste sentido, o movimento sindical precisa apresentar sua própria agenda, e ela já está construída, foi fruto da Conferência Nacional da Classe Trabalhadora, ainda no primeiro mandato da Dilma. Esta Agenda inclui bandeiras que já são históricas, como jornada de trabalho, fim da terceirização, valorização do trabalho e do salário mínimo, etc.
O governo quer construir uma estabilidade buscando apoio em setores e partidos tradicionalmente contrários aos interesses dos trabalhadores. Qual o caminho para que um projeto que represente os interesses da maioria dos brasileiros seja efetivado? Apesar de alguns terem dito, há um tempo, que a luta de classes tinha acabado no Brasil, ela nunca esteve tão viva no Brasil. E são vários os setores disputando seu espaço. Os trabalhadores precisam ser protagonistas desse processo. Esse protagonismo, no caso dos patrões, se exerce de maneira simples. Como a gente não teve reforma política e continua valendo o financiamento privado de campanha, os patrões financiam seu candidato com o dinheiro da exploração do trabalhador. Os trabalhadores precisam mostrar força em manifestações, em lutas, elegendo seus próprios candidatos. Esta é a forma da Agenda dos Trabalhadores ter protagonismo na sociedade brasileira.
O apoio ao governo, feito pelas centrais sindicais, não tem surtido efeitos positivos para a classe trabalhadora, que tem seus direitos desrespeitados a cada dia. Já não é hora de chamar uma greve geral? Não sei se esse apoio não tem resultado em pontos positivos para os trabalhadores. Seria mais negativo se houvesse um processo de impeachment no Brasil. Esse apoio dos trabalhadores com as manifestações que vão às ruas ajuda a evitar esse tipo de retrocesso político. Mas é evidente que este governo sofre pressão de todos os lados. Eu não sei se o momento é de greve geral, até pela situação real da economia brasileira. Mas este é o momento de aumentar a pressão em cima de bandeiras concretas, como uma reforma tributária que taxe os lucros, as riquezas e as fortunas, entre outras pautas decisivas, como o processo de votação de terceirização no Senado.
As opiniões expressas na entrevista não refletem, necessariamente, o posicionamento da diretoria do SEEB/VCR.