As mortes estão associadas as condições precárias de trabalho, qualidade de Equipamentos de Proteção (EPI) e gestões que não tomam medidas preventivas de acordo com a OMS, dizem entidades da categoria
O enfermeiro-chefe de referência da Santa Casa de Santa Isabel, em São Paulo, Heuber Pereira Santiago, e o enfermeiro e professor Roberto Santos, que promovia o tradicional prêmio “Honra ao Mérito para a Enfermagem”, em Mogi das Cruzes, morreram vitimados pelo Covid-19 neste último fim de semana.
Segundo o Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), com estes dois óbitos e outras notificações que não param de chegar dos Conselhos Regionais de Enfermagem (Coren), vai chegar a 130 o número de profissionais de enfermagens mortos pela doença contabilizados no Observatório de Enfermagem. O site foi lançado pela entidade para concentrar os números de infectados, mortos e internados da categoria e é atualizado todos os dias.
No mundo, segundo o Conselho Internacional de Enfermagem, já morreram 260 profissionais contaminados por Covid-19, isto quer dizer que metade dos óbitos entre profissionais de enfermagem no planeta aconteceu no Brasil.
O Rio de Janeiro lidera o rankings brasileiro com 29 óbitos, São Paulo vem logo em seguida com 27, depois vem Pernambuco com 19, Amazonas 10, Ceará 5 e Rondônia 3. Acre, Distrito Federal e Maranhão com 2 mortes cada um por Covid-19 e Alagoas, Amapá, Bahia, Espirito Santo, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso, Paraíba, Paraná, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Santa Catarina com uma morte.
Mato Grosso do Sul, Piauí, Roraima, Sergipe e Tocantins não tiveram nenhuma morte de enfermeiros, técnicos e auxiliares registrados.
Para o Cofen, os números refletem a escassez de equipamentos de proteção individual para os profissionais. Nas últimas semanas, a entidade recebeu milhares de denúncias de todo o país.
Para o enfermeiro e membro do gabinete de crise do Cofen, Eduardo Fernando os gestores não estão tomando as medidas preventivas ideais baseadas nas orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS), como afastar os trabalhadores e as trabalhadoras do grupo de risco, com mais de 60 anos, com morbidades e com doenças preexistentes. E ainda, segundo ele, não estão fornecendo Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) adequados.
“Grande parte dos que vêm a óbito é porque teve os limites físicos e de saúde negligenciados e não recebeu condições dignas de trabalho”, destacou.
A presidenta da Federação Nacional dos Enfermeiros, Shirley Marshal, concorda com o que o enfermeiro disse em relação ao não afastamento dos profissionais do grupo de risco e sobre a falta, em quantidade e qualidade dos EPIs.
“As instituições privadas, principalmente, não estão dispensando os profissionais de enfermagem que são do grupo de risco aumentando a proporção de mortes e de contaminação com gravidade e ainda economizam EPI. Tem lugares que está fornecendo máscaras cirúrgicas, que são barreiras físicas e não garante segurança aos trabalhadores e trabalhadoras que garantem as máscaras respiradores PGFF2,3 e 4 e N95 com infiltração 95%”, explica a dirigente.
Além disso, as condições de trabalho também são deploráveis. Segundo Shirley, muitas empresas forçam os profissionais de enfermagem a se manterem nos locais de trabalho, mesmo contaminados e com sintomas leves.
E, segundo Fernando, há muita desumanidade e diferenças no tratamento destes profissionais de enfermagem em relação aos próprios colegas que trabalham na saúde.
“No hospital de campanha no Maracanã não tem água e nem onde descansar, enquanto outros profissionais têm cama e salas arejadas, os de enfermagem descansam no chão e sem cuidado e proteção”, destaca.
Casos de Covid-19 na categoria
Em número de casos reportados ao Cofen, entre os profissionais de enfermagem já somam quase 15 mil trabalhadores e trabalhadoras afastados em todo país e este número é 6% do número total de casos confirmados, que na manhã desta segunda-feira (18) chegou em 244.052. E o Brasil já e o 4º país do mundo com mais casos de Covid-19.
Os Estados que mais têm casos reportados, segundo o Observatório de Enfermagem, são São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco e Ceará.
Subnotificações
Tanto Shirley quanto Fernando denunciam os números alarmantes com bastante preocupação, mas ressaltam que ainda há muita subnotificação.
Shirley citou estudos da Universidade Federal de Pelotas, no Rio Grande do Sul, que apontam que para cada um caso notificado 7 são subnotificados. “Se a gente multiplicar os números que estão sendo divulgados e multiplicar por 7 os números serão ainda maiores”, afirma.
Para Eduardo, é preciso lembrar que apesar de estar no Código de Ética da categoria nem todos ou todas notificam o Cofen sobre os números exatos de óbitos, contaminados, suspeitos ou afastados por Covid-19 e isso atrapalha os próprios profissionais de enfermagem.
“Os dados do Observatório são fidedignos porque são informados pelos enfermeiros responsáveis, técnicos e coordenadores das instituições públicas e privadas, que depois a gente faz um trabalho de confirmação de cada informação. Porém, muitos profissionais de enfermagem, com medo de represálias, não fazem as notificações”, afirma.
E segundo ele, as subnotificações atrapalham as ações que as entidades precisam fazer para conseguir contornar a situação.
Sheyla também aponta os assintomáticos e a falta de testagem como fatores que contribuem para estas subnotificações.
Como notificar os dados para a entidade
Fernando disse que é muito importante ter os números corretos de casos contaminados, óbitos ou suspeitos para que a entidade e outros órgãos sindicais tomem as decisões adequadas para proteção e segurança dos trabalhadores e das trabalhadoras de enfermagem.
Segundo ele não é preciso se identificar para notificar, basta ir no site do próprio Observatório de enfermagem e clicar no “comunique novos casos de contaminação por Covid-19 e preencher o questionário.
“Quanto mais informação, mais e melhores as decisões tomaremos para garantir a segurança e proteção de toda a categoria”, conta.
Fonte: CUT