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Pandemia descortina discriminação racial no mercado de trabalho

Dados mostram que a renda média da população negra representa apenas 56,2% da recebida pelos brancos

A pandemia de Covid-19 impôs a paralisação de muitas atividades produtivas e exigiu que milhões de pessoas praticassem o isolamento social para protegerem a vida, provocando uma rápida e intensa recessão econômica, que gerou, inclusive o fechamento de empresas e o crescimento do desemprego, que já era muito alto, observa o sociólogo e professor Clemente Ganz Lúcio em seu artigo “As pressões sobre o emprego”. A população negra foi a mais afetada.

Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD-C) trimestral, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que a taxa geral de desocupação é de 13,3%. Entre os pretos alcança 17,8%. Considerando apenas os brancos, é de 10,4%.

Os números apontam que cerca de 11 milhões de trabalhadoras foram para a inatividade, sem condições de trabalhar ou procurar emprego; outros 8 milhões foram para o trabalho em casa (home office); quase 10 milhões tiveram seu contrato de trabalho suspenso ou redução da jornada de trabalho. Outros 13 milhões continuaram desempregados.

Grandes e médias empresas e até os três maiores bancos privados do país (Bradesco, Itaú e Santander), que obtiveram lucro que soma R$ 36 bilhões nos nove primeiros meses de 2020, demitiram funcionários.

Salários menores

“Nesta crise, a população negra foi ainda mais afetada. Os dados mostram que a renda média da população negra representa apenas 56,2% da recebida pelos brancos”, observou o secretário da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) de Combate ao Racismo, Almir Aguiar.

“Há quem fale que é devido à qualificação profissional. Mas, mesmo com ensino superior, negros e negras ganham, em média, menos do que os não-negros. Não tem nada a ver com qualificação profissional. É racismo mesmo!”, criticou o dirigente da Contraf-CUT.

Discriminação no setor financeiro

O dirigente da Contraf-CUT diz, também, que é clara a ausência de negros e negras no sistema financeiro. “Além disso, bancários e bancárias negros recebem percentualmente menos que um trabalhador não negro e a cor da pele é um obstáculo para ascensão profissional. Aos negros são dados cargos de menor remuneração e aqueles que não são de atendimento ao público. Eles ficam escondidos atrás dos biombos. É isso o que mostram os dados dos Censos da Diversidade Bancária, realizados em 2008, 2014 e 2019”, disse.

Para ele, no entanto, esta triste realidade do sistema financeiro não é verificada apenas nos bancos. “Lutamos diariamente para mudá-la e, agora em novembro, mês da consciência negra, orientamos que os sindicatos e federações da categoria aproveitem a maior visibilidade sobre o tema para intensificar as atividades e denunciar estas injustiças”, completou.

“É fundamental que os bancos contratem mais trabalhadores negros como forma de diminuir essas desigualdades e avançar para um ambiente justo e sem discriminação”, concluiu o secretário da Contraf-CUT de Combate ao Racismo.

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