Por Benjamin Nunes Pereira *
O dia 14 de março é o Dia Nacional da Poesia, uma data em homenagem ao grande gênio da poesia, o vate Castro Alves, que nasceu no dia 14 de março de 1847, na fazenda Cabaceiras, na então freguesia de Muritiba, comarca de Cachoeira, a poucas léguas de Curralinho, na Bahia, filho de Dr. Antônio José Alves e dona Clélia Brasília da Silva Castro, em 09 de julho de 1847, foi batizado com o nome de Antônio Frederico de Castro Alves. Cinco anos após, a sua família transfere-se para Muritiba e depois para São Felix, às margens do Rio Paraguaçu, onde Castro Alves aprendeu as primeiras letras com o professor primário José Peixoto da Silva. Passa depois a frequentar a escola de Antônio Frederico Loup, em Cachoeira.
Mais tarde, a família do poeta instala-se em Salvador. O seu pai, doutor Antônio José Alves, abre um consultório médico e o garoto Cecéu, como era chamado pela família, frequenta os cursos Colégio Sebrão, transferindo-se depois para o Ginásio Baiano, do doutor Abílio César Borges, mais tarde Barão de Macaúbas. Quando no ginásio declama sua primeira poesia dedicada à data baiana, 2 de Julho.
Ao concluir o ginásio e o nível médio viaja para o Recife, submete-se à prova para a matrícula na Faculdade de Direito do Recife, sem êxito. Aí estreia na Companhia Dramática Coimbra, com Furtado Coelho e Eugênia Câmara, no Teatro Santa Isabel. Dando início ao seu trabalho poético publica os primeiros versos abolicionistas “A Canção do Africano”, com a poesia “Meu Segredo”, percebe-se o início de sua grande paixão pela atriz Eugênia Câmara, com quem chega a viver por um período de mais ou menos um ano.
Em 1864, foi estudar Direito na célebre Faculdade do Recife. No 1º ano jurídico na Faculdade, Castro Alves, redige, com outros colegas, o jornal “O Futuro” ao terminar o 1º ano, matricula-se no 2º ano jurídico. Funda uma sociedade abolicionista, com Ruy Barbosa, Regueira da Costa, Plínio de Lima e outros colegas de academia. Lança o jornal de ideias “A Luz”, que dá origem a uma polêmica pela imprensa com Tobias Barreto; um não concordando com o pensamento estético filosófico do outro, e muito menos com as deusas-madrinhas de cada um, a Adelaide e a Eugênia, e que muito embora deusas e madrinhas fossem verdadeiros sacos-de-pancadas dos dois estouvados estudantes.
O jornal servia como porta-voz do Grêmio Jurídico. O jornal prometia lutar pela disseminação das ideias abolicionistas e republicanas. Sua profissão de fé traduzia a candidez dos redatores: clarear este vasto mundo, denunciar e combater as iniquidades do século! Criado também para a divulgação da cultura, o jornal ia incentivar as artes do Santa Isabel, onde se exibia uma companhia dramática.
Um caso político, ou de polícia repercutiu na cidade. O Diretor de “O Tribuno”, velho jornalista Borges da Fonseca, quando com o filho participava de um comício republicano, foi espancado pela polícia encarregada de dissolver o grupo. Os estudantes fizeram tremenda algazarra, fazendo inflamados discursos de protestos. No meio deles estava Castro Alves a dizer, num improviso que: A praça! A praça é do povo/Como o céu é do Condor…
Caso semelhante ao velho “republicano” Borges da Fonseca ia acontecer com o espaldeiramento do estudante Torres Portugal. Haveria as passeatas de protesto, os discursos incandescentes e as tentativas de apaziguamentos. E Castro Alves, da sacada de um sobrado da rua do Imperador, iria dizer que se: “A lei sustenta o popular direito. Nos sustentamos o direito em pé.”
Infelizmente em nosso Brasil, o preconceito racial, a discriminação, as prepotências ainda campeiam e porque não dizer no mundo. Imagine na época do grande vate, ele que foi cognominado o “Poeta dos Escravos Negros”. E as desumanidades da escravidão ele pôde presenciar em grande parte de Salvador. Quando na sua adolescência, declarava sempre: “Eu sinto em mim o borbulhar do gênio”.
Em 1868 foi para São Paulo continuar os estudos jurídicos, saindo de navio no Rio de Janeiro no dia 12 de março, juntamente com Eugênia Câmara. A cidade, ainda provinciana era tocada pela poesia da garoa e das serenatas e pela alegria da juventude de sua faculdade. Esta, como a do Recife, era não só uma escola de ensino jurídico, mas centro aberto ao estudo e discussão de todas as correntes do pensamento filosófico, literário ou científico importado da Europa. Nessa época, o café, no entanto, começava a trazer o progresso e a cidade ia crescendo. Após a aprovação nos estudos escolares de fim de ano, retorna à Bahia, onde sofre um acidente numa caçada. A espingarda dispara, atingindo-lhe o calcanhar.
Em 1869, chega a matricular-se no 4º ano jurídico, mas com o enfraquecimento pulmonar, agravam-se os males, vem para o Rio de Janeiro, chegando bastante combalido, hospeda-se na residência de seu amigo Luís Cornélio Santos. Tendo a sua saúde cada vez mais abalada e com ameaça de gangrena, o pé esquerdo é amputado.
Ontem, hoje e amanhã, jamais poderemos nos esquecer da melancólica data de 06 de julho de 1871, quando o nosso grande imortal “Poeta dos Escravos” Antônio Frederico de Castro Alves veio a falecer devido a problemas sérios de saúde, quando expirou às três horas e meia da tarde, junto a uma janela banhada de sol, para onde fora levado de acordo com o seu último desejo.
Castro Alves foi um jovem muito revoltado contra as barbaridades da escravidão negra. Teve no estudo de Direito exaltado sua revolta, procurando na poesia seu grande canal de expressão.
Em seu poema “O Navio Negreiro”, que retrata os horrores dos barcos transportando escravos negros, Castro Alves nos deixou estas palavras veementes, ao “perceber” que esses barcos traziam em seus mastros o símbolo da nacionalidade brasileira:
Existe um povo que a bandeira empresta
Pra cobrir tanta infâmia e covardia!…
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!…
Meu Deus meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?!…
Silêncio!… Musa! Chora, chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto…
Auriverde pendão da minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança
Estandarte que a luz do sol encera,
E as promessas divinas da esperança…
Tu, que da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança,
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!…
Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu na vaga,
Como um íris no pélago profundo! …
… Mas é infâmia de mais… Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo…
Andrada! Arranca-te este pendão dos ares!
Colombo! Fecha a porta de teus mares!
O grande vate Castro Alves, infelizmente morreu muito novo com apenas 24 anos de idade. O jovem talentoso deixou essas belíssimas obras: Gonzaga ou A Revolução de Minas, Os Escravos, Espumas Flutuantes e A Cachoeira de Paulo Afonso.
*Benjamin Nunes Pereira é Licenciado em História, com Pós-graduação em Antropologia com Ênfase na Cultura Afro-brasileira, pós-graduação em Programação e Orçamento Público, Bacharel em Direito, membro da Academia Conquistense de Letras, Casa da Cultura em Vitória da Conquista Bahia. E-mail: [email protected].