O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central se reuniu nesta quarta-feira (27) e novamente optou por manter os juros básicos da economia estáveis em 14,25% ao ano – o maior patamar em quase dez anos.
Essa foi a sexta manutenção seguida dos juros pelo BC, que parou de subir a taxa Selic em setembro do ano passado. A decisão confirmou a expectativa dos economistas do mercado financeiro, que apostavam maciçamente em manutenção dos juros básicos da economia.
Ao subir os juros ou mantê-los elevados, o BC encarece o crédito e reduz o consumo no país, atuando assim para segurar a inflação que mostrou resistência no ano passado e no início de 2016. Por outro lado, os juros altos prejudicam o nível de atividade da economia brasileira e, também, a geração de empregos.
A autoridade monetária tem informado que buscará "circunscrever" o IPCA aos limites estabelecidos pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) em 2016 (ou seja, trazer a taxa para um patamar abaixo de 6,5%) e, também, fazer convergir a inflação para a meta central de 4,5%, em 2017.
Após a reunião, o BC divulgou a seguinte frase: "O Comitê reconhece os avanços de combate à inflação, em especial a contenção dos efeitos de segunda ordem dos ajustes de preços relativos. No entanto, considera que o nível elevado da inflação em doze meses e as expectativas de inflação distantes dos objetivos do regime de metas não oferecem espaço para flexibilização da política monetária [corte de juros]".
Copom unido
A novidade desta reunião do Copom é que a decisão, desta vez, foi unânime. Todos os diretores, e o presidente do Banco Central, que votam nas decisões sobre a taxa de juros, decidiram pela estabilidade da taxa Selic – algo que não acontece há cerca de seis meses.
Nas últimas três reuniões, o Copom votou dividido: a maioria pela manutenção dos juros e dois diretores (votos vencidos) pela alta da taxa básica.
A unanimidade no Copom, segundo economistas, pode ser um indício de que a autoridade monetária está preparando o terreno para cortar a taxa Selic nas próximas reuniões.
Há um mês, no Congresso Nacional, o presidente do BC, Alexandre Tombini, declarou que o processo de "distensão" (queda) da taxa de juros começará depois que as expectativas de inflação estejam menores. A última previsão do mercado é de um IPCA de 6,96% para este ano, ainda acima do teto de 6,5% do sistema de metas.
O mercado acredita que o ciclo de redução da taxa básica de juros começará no final de agosto deste ano, mas há analistas que acreditam que os cortes podem começar já em meados de julho. A previsão é que, em abril de 2017, a taxa já esteja em 12% ao ano.
Diretoria pode ser trocada
Essa pode ser a última reunião do Copom da atual diretoria do BC, que pode ser trocada com a eventual queda da presidente Dilma Rousseff e ascensão de Michel Temer à Presidência daRepública, na esteira do processo de impeachment.
Uma eventual troca no BC teria de ser precedida de sabatinas da nova diretoria no CongressoNacional e da subsequente aprovação dos novos nomes pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal e depois pelo plenário daquela Casa. Por isso, a troca não seria imediata.
Cenário da economia
Atualmente, a economia brasileira passa pela maior recessão de sua história. No ano passado, o Produto Interno Bruto (PIB) teve retração de 3,8% e, para este ano, o mercado financeiro já prevê um tombo maior ainda, de 3,88%. Se confirmado, será a primeira vez na história com dois anos seguidos de encolhimento do PIB.
Com a economia patinando, o desemprego cresce. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o desemprego ficou em 10,2% no trimestre encerrado em fevereiro – o maior índice da série, iniciada em 2012. Pela primeira vez, a taxa da Pnad Contínua atinge dois dígitos. Esses fatores contribuem, teoricamente, para o controle da inflação.
Porém, ainda influenciada pelo alto patamar do ano passado, a inflação brasileira, em 12 meses, segue elevada, apesar do recuo nos meses recentes. No período de 12 meses até março passado, a inflação somou 9,39%. Com isso, continua bem acima da meta central de 4,5% fixada para este ano, e também do teto de 6,5% do sistema de metas brasileiro.
Juros reais mais altos do mundo e poupança
Com a decisão desta quarta-feira, o Brasil permanece na liderança do ranking mundial de juros reais (calculados com abatimento da inflação prevista para os próximos 12 meses), compilado pelo MoneYou e pela Infinity Asset Management, com uma taxa de 7,59% ao ano.
Em segundo lugar, aparece a Rússia, com juros reais de 2,59% ao ano, seguida pela China (2,3% ao ano). Nas 40 economias pesquisadas, a taxa média está negativa em 1,5% ao ano.
A decisão do BC sobre a taxa de juros também influencia a rentabilidade da caderneta de poupança. Cálculos da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) apontam que, com os juros básicos atualmente em 14,25% ao ano, as aplicações em renda fixa, como os fundos de investimento, ganham mais atratividade e ganham da poupança na maioria das situações. A poupança continua atrativa somente para fundos com taxas de administração acima de 2,5% ao ano.
Isso ocorre porque o rendimento dos fundos de renda fixa sobe junto com a Selic. Já o rendimento das cadernetas, quando a taxa de juros está acima de 8,5% ao ano, como atualmente, está limitado em 6,17% ao ano mais a variação da Taxa Referencial (TR).
Neste ano, por conta do baixo rendimento e do cenário de recessão na economia brasileira, apoupança já perdeu mais de R$ 24 bilhões – um recorde para o primeiro trimestre de um ano.
Fonte: G1