O diagnóstico foi feito pela subseção do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômico (Dieese) da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) e apresentado aos representantes da Federação Nacional dos Bancos (Fenaban), no encontro da Mesa Temática de Igualdade de Oportunidades, ocorrido na última segunda-feira (28), para um balanço do acordo firmado em março de 2020, entre as duas entidades, sobre prevenção e combate à violência doméstica contra a mulher.
No mercado
No período avaliado, conforme a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua trimestral (PNAD Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de mulheres, a partir dos 14 anos, que tinham ocupação profissional caiu de 40,7 milhões para 39 milhões. Assim, em 2021 havia 1,67 milhão de mulheres a menos com trabalho, das quais 1,21 milhão negras e 466 mil não negras – e todas não conseguiam nova colocação. O desalento, que é o desânimo para procurar emprego pela falta de perspectivas, cresceu 7,2%, e o contingente nessa condição foi de 39,55 milhões para 42,39 milhões, um acréscimo de 2,84 milhões de trabalhadoras.
O rendimento médio mensal das trabalhadoras também caiu em 2,9% na pandemia, e passou de R$ 2.139 no terceiro trimestre de 2019 para R$ 2.078 no mesmo período de 2021, também segundo a PNAD Contínua. O valor médio pago pela hora trabalhada no terceiro trimestre de 2021, medido pela mesma pesquisa, mostra também a acentuada desigualdade imposta pelo mercado por questões de raça e gênero: enquanto o homem recebia R$ 15,25 (R$ 19,73 para não negro e R$ 11,67 para negro), à mulher eram pagos R$ 13,89 (R$ 17,13 para não negra e R$ 10,83 para negra).
Vivian Machado, economista responsável pelo estudo do Dieese, observa que o quadro se agravou para a mulher inclusive nos casos em que a situação já era bastante precária. “A subutilização, por exemplo, pulou de 29,3% para 33,3% e a desocupação, de 14,3% para 15,9%; e de novo, a trabalhadora negra foi mais afetada”, afirma.
Segundo Almir Aguiar, secretário de Combate ao Racismo da Contraf-CUT, “é importante observar os números, pois as estatísticas têm comprovado que a população negra é a mais discriminada no mercado de trabalho e, historicamente, a mulher negra é a que mais sofre discriminação, tanto nos cargos e como na remuneração”. Para Almir, isso se confirma no sistema financeiro, pois “além de a população negra ter uma presença pequena, em média ganha menos que o não negro, sendo a cor da pele um dificultador também para ascensão profissional; por isso precisamos que os bancos evoluam numa política de contratação de negras e negros no setor, para que possamos avançar em igualdade de oportunidades”.
Mais impactos
Outras pesquisas e levantamentos também mostram várias formas de impactos prejudiciais à vida da trabalhadora durante o período de isolamento social por causa da covid-19. O assédio moral, por exemplo, não reduziu, por causa das atividades em home office, e manteve sua curva para cima (nos últimos cinco anos, cresceu 187%). Na pandemia, 50% das brasileiras passaram a cuidar de alguém; 41% das profissionais que mantiveram o salário declararam trabalhar mais na quarentena; 40% das mulheres sentiram que o isolamento colocou em risco a sustentação da família; e 8,4% delas disseram ter sofrido alguma forma de violência. Uma vez mais, as mulheres negras sofrem de modo mais agudo em várias questões: elas são 61% das que recorreram à economia solidária para sobreviver e 58% das desempregadas do país.
Para a secretária da Mulher da Contraf-CUT, Elaine Cutis, “aliada a uma política de governo que pouco ou nada faz em um prol da classe de trabalhadora, a pandemia aprofundou drasticamente as históricas desigualdades sociais entre homens e mulheres; e para alterar essa realidade precisamos mudar os rumos de nosso país, elegendo candidatas e candidatos comprometidos com a transformação necessária para uma sociedade justa e igualitária”.
Conheça aqui mais detalhes no levantamento completo feito pelo Dieese.
Fonte: Contraf