Por Rene Vicente*
A jornada de trabalho de 4 dias é uma experiência promissora que vem sendo promovida por governos e empresas com espírito inovador em vários países do mundo, inclusive no Brasil. Uma nova concepção de produtividade, mais humana e moderna, orienta as iniciativas.
Os Emirados Árabes foram pioneiros na adoção da nova jornada, reduzindo o tempo de trabalho a 36 horas semanais, mas outros países estão seguindo caminhos semelhantes, como a Bélgica, Escócia, Nova Zelândia, Japão, Reino Unido, País de Gales, Suécia e Islândia.
Resultados extraordinários
O governo português anunciou um projeto piloto ousado para introduzir jornada de quatro dias (segunda, terça, quarta e quinta-feira) nas empresas privadas e públicas a partir de 2023. A Califórnia debate um projeto de lei que reduz a jornada de 40 para 32 horas semanais sem corte de salários, transformando a sexta-feira num novo sábado.
As empresas Crawly, NovaHaus, Winnin, AAA Inovação, Gerencianet, Eva, Zee.Dog e Shoot Media estão entre aquelas que adotaram o modelo, reduzindo o tempo de trabalho a 32 horas semanais sem alteração de salário. Não se arrependeram, pois os resultados são extraordinários. Relatam melhorias significativas na produtividade e intensidade do trabalho e trabalhadores mais satisfeitos e empenhados na produção.
Vai se consolidando no rastro dessas experiências um conceito revolucionário de produtividade, com a demonstração de que quanto menor a jornada maior a produtividade e intensidade do trabalho e, por consequêcia, maior a competitividade nacional. Luciano Braga, CEO da Agência Shoot Media, revelou que o interesse em trabalhar na empresa depois que foi introduzida a jornada de 4 dias, com 32 horas semanais, cresceu 300%.
Produtividade, saúde e bem estar
Yuri Utida, especialista em neurociência comportamental e produtividade do trabalho, diz que se antes o ideal de sucesso profissional estava restrito a uma pessoa que vivia para trabalhar, com altos níveis de estresse e que comia na mesa do escritório, a nova geração tem como prioridade o equilíbrio entre produtividade, saúde e bem-estar.
Da mesma forma, ele acrescenta que as empresas começam a perceber que precisam de pessoas com saúde emocional, mental e física para manter a qualidade, o lucro e o potencial de crescimento.
Estudo The Case for a Four-Day Week, da New Economic Foundation, conclui que a semana de trabalho mais curta deve ser o cerne de uma recuperação pós-pandemia, pois produz trabalhadoras e trabalhadores mais produtivos, menos estressados, com menores doenças ocupacionais e possibilita a criação de novos empregos.
Benefícios
São múltiplos os benefícios sociais da redução da jornada. Além de promover a produtividade, ampliar o tempo de convívio familiar, estudo e lazer do ser humano que trabalha a jornada de quatro dias tende a ter impactos altamente positivos sobre a oferta de emprego.
O nível de emprego é inversamente proporcional à duração da jornada de trabalho, ou seja, quanto maior a jornada menor o nível de emprego e vice-versa. Esta lei do mercado de trabalho é reconhecida de forma velada pelo patronato (e transparece) nos acordos de redução de jornada com redução proporcional de salários, celebrados com o propósito de preservar empregos.
A experiência mostra que os benefícios da redução da jornada são maiores quando não é acompanhada pela redução dos salários, pois nas circunstâncias em que a renda é achatada o trabalhador é constrangido a procurar outra ocupação ou realizar horas extras para sobreviver ou manter o padrão de vida.
2 de outubro
O pronunciamento das urnas em 2 de outubro pode favorecer a luta da classe trabalhadora brasileira pela redução da jornada de trabalho, uma tendência histórica que se renova em nossos dias e projeta um futuro mais feliz e prazeroso para quem trabalha.
A vitória de Lula no Brasil e de Fernando Haddad em São Paulo, bem como de parlamentares progressistas para o Congresso Nacional e as assembleias legislativas, pode alavancar o debate sobre a semana de quatro dias, competitividade nacional, produtividade, intensidade do trabalho e pleno emprego. As urnas, eletrônicas, serão o veículo da esperança de mudança que alimenta o povo brasileiro.
*Rene Vicente é dirigente da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil) em São Paulo.