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Escolas de Goiânia passam a usar detectores de metal em mochilas de alunos

Medida da prefeitura, adotada também em unidades de ensino infantil, visa evitar ataques e provoca críticas de sindicato e de pais

Escolas municipais de Goiânia começaram a utilizar detectores de metal para revistar mochilas de alunos. A medida, iniciada na terça (2), visa impedir que estudantes entrem com facas, tesouras pontiagudas, armas de fogo e munições nas 376 unidades da prefeitura, em uma tentativa de evitar ataques como o ocorrido em escola de São Paulo e em creche de Blumenau (SC).

A gestão do prefeito Rogério Cruz (Republicanos) diz que não houve ocorrência de violência dentro de suas escolas neste ano. O comando da Guarda Civil também afirma não ter registrado nenhum incidente desse tipo.

A medida levanta discussão sobre a eficácia da estratégia de segurança para 110 mil estudantes matriculados na rede de ensino da cidade. O secretário municipal de Educação de Goiânia, Wellington Bessa, o Sintego (Sindicato dos Trabalhadores em Educação no Estado de Goiás) e pais de alunos divergem sobre a necessidade do aparelho.

De acordo com a prefeitura, a inspeção é realizada na entrada de cada instituição por agente de apoio educacional, contratado para atuar como porteiro ou servente.

No total, segundo Bessa, as instituições de ensino receberam R$ 376 mil —cada uma conseguiu R$ 1.000 para a compra dos equipamentos.

O recurso foi encaminhado às unidades na última quarta-feira (26). Agora, os alunos do 5º ao 9º anos podem voltar a usar mochilas, que estavam proibidas nas escolas desde o dia 18 de abril.

O secretário disse que adotou medidas mitigadoras para oferecer maior segurança à comunidade escolar. “O ideal é que tivéssemos um guarda na porta de cada escola”, disse.

Em ofício enviado a diretores, Bessa determinou a imediata aquisição de pelo menos dois detectores de metal para cada escola. Uma das unidades que começaram a usar o equipamento é a Bom Jesus, localizada no Jardim Novo Mundo, região leste da capital, uma das que concentram maior índice de criminalidade na cidade.

A diretora Kátia Oliveira de Barros disse aprovar a medida, que, segundo ela, é usada em mochilas de crianças a partir de seis anos. “São alunos do primeiro ano, porque podem trazer um objeto inadequado, como tesoura, e cortar o cabelo de outra criança.”

Além de usar detector de metal, a escola implantou concertinas e portas de acionamento automático, além de 16 câmeras de monitoramento fora da sala de aula, cujas imagens são acompanhadas pelo sistema de monitoramento da Guarda Civil Metropolitana de Goiânia.

A vendedora Maria Oliveira, 35, responsável por uma criança matriculada na rede, diz que se preocupa com a onda de violência nas escolas, mas discorda da medida.

“Nossa sociedade está doente. Não faz sentido monitorar mochilas de crianças, já que nesta fase os professores pegam todo o material delas dentro da sala, até para ajudá-las a fazer as atividades. É diferente do caso de alunos adolescentes”, disse.

De acordo com a secretaria, já adotaram a medida os centros de educação infantil do Jardim do Cerrado 1 e da Vila Mauá, nas regiões oeste e sudoeste de Goiânia, respectivamente.

A presidente do Sintego, Bia de Lima, afirmou que é desnecessário o uso de equipamentos em mochilas de alunos da educação infantil.

“É algo bizarro e descabido, porque é perda de tempo pegar crianças pequenas para passar detector de metais no que elas carregam”, afirmou. “Continuamente há escolas invadidas. Por isso, deveria haver guardas na porta das escolas.”

Segundo o comandante da Guarda Civil Metropolitana de Goiânia, Wellington Paranhos, a corporação não registrou nenhum incidente de violência nas instituições de ensino neste ano.

Ele discorda da necessidade de ter mais efetivo para aumento da segurança. “É humanamente impossível colocar um agente em cada unidade”, diz.

De acordo com Paranhos, além da medida com detector de metal, as escolas têm recebido palestras de 46 guardas, enquanto cães farejadores tentam identificar possíveis drogas, armas e munições. A equipe se divide em duplas para visitar as unidades de ensino diariamente, segundo ele.

A Secretaria de Educação diz que tem desenvolvido trabalho pedagógico para que as crianças não se sintam intimidadas com a nova rotina.

Bessa afirma reconhecer que a medida será insuficiente se não houver mobilização fora das escolas.

“Não adianta aumentar muro, colocar concertina e detectores, se não houver parcerias dos pais, responsáveis e da sociedade em geral. Pais precisam vistoriar as mochilas e ficar atentos ao que os filhos fazem nos celulares e redes sociais. É necessário que todos assumam sua parcela de contribuição.”

O QUE DIZEM ESPECIALISTAS

Conforme apontado pela Folha, estudos indicam que o trabalho policial é essencial na investigação de suspeitos, não na segurança ostensiva das escolas. Segundo especialistas, a prevenção aos ataques se mostra mais eficiente quando ela tem a participação de professores, funcionários e pais.

Segundo Justin Heinze, diretor do Centro Nacional para Segurança nas Escolas dos Estados Unidos e professor da Universidade de Michigan, é preciso agir com base em evidências, e medidas de segurança adotadas no país desde o ataque de Columbine, em 1999, não indicaram um aumento na prevenção de tiroteios.

“As formas de prevenção que defendemos hoje em dia envolvem o ambiente escolar, desenvolver a confiança de professores e até alguns alunos que possam avaliar as ameaças, acionando grupos multidisciplinares que possam atender alunos se houver a avaliação de que são um perigo para si ou para outros”, diz.

O psicólogo Antonio Serafim, professor do Instituto de Psicologia da USP e ex-coordenador do núcleo forense do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, também critica o medidas como o uso de detectores de metais. “As pessoas pensam sempre em medidas muito imediatistas, porém isso não garante que não haja os comportamentos. O grande ponto está numa melhora dos processos”, afirmou o especialista em entrevista em março, sem se referir diretamente o caso de Goiânia.

“Os adolescentes circulam no mundo digital e têm acesso a uma série de informações. Mesmo criando algumas barreiras na escola, não conseguimos detectar essas ações ou esse conjunto de ideias que muitas vezes mobilizam esses comportamentos.”

Fonte: Folha de SP

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