Vivemos uma época marcada por uma crise global do capitalismo em que é notória a radicalização das lutas de classes, fenômeno que não deve ser considerado eventual ou passageiro.
Fica mais fácil compreender essa nossa história à luz da teoria da luta de classes, que ainda é, conforme notou Engels no prefácio ao 18 brumário, “a grande lei do movimento da história, a lei segundo a qual todas as lutas históricas, quer se desenvolvam no terreno político, no religioso, no filosófico ou noutro terreno ideológico qualquer, não são, na realidade, mais do que a expressão mais ou menos clara de lutas de classes sociais”.
Lênin, comandante da Revolução Soviética, aprofundou a compreensão do tema observando que a política é a expressão concentrada da economia, o que significa dizer que a luta política traduz os conflitos distributivos que brotam das relações de produção e distribuição, conflitos que podem envolver classes sociais ou grupos diferenciados no interior de uma mesma classe.
Isto transparece, por exemplo, nos debates e embates sobre a reforma tributária, em que os grandes capitalistas empreendem uma poderosa campanha subterrânea para manter seus privilégios tributários intocáveis ou nas divergências sobre a revisão – para não dizer revogação – das reformas na legislação trabalhista e previdenciária.
Fruto dos impasses crescentes do modo de produção capitalista e da decomposição da ordem imperialista mundial fundada no pós guerra com base na supremacia econômica dos EUA, a radicalização das lutas de classes está resultando na desmoralização da chamada democracia burguesa, que foi enfraquecida pelo neoliberalismo e a corrupção e é incapaz de responder à crise. O corolário deste fenômeno, que tem caráter objetivo, é a ascensão do neofascismo, que teve na vitória do aventureiro de extrema direita Milei na Argentina a sua mais recente manifestação latino-americana.
O fascismo também teve, no passado, e tem em suas novas expressões um inegável caráter de classe, pois pode ser considerado – como sugeriram alguns autores – como uma espécie de último refúgio do capitalismo em crise. Sempre foi e ainda hoje é estimulado, financiado e sustentado pela grande burguesia ou, em outras palavras, pelos super ricos, conforme notou o jornalista Luis Nassif no artigo intitulado O clube dos bilionários se consolida na política que o Portal da CTB reproduz abaixo:
Os pontos centrais a serem analisados, na atual conjuntura política são os seguintes:
O poder do capital
O ponto central, em torno do qual giram todos os demais, é o poder político do grande capital. Ele impôs um modelo econômico que vigorou em todo século 20, venceu o poder dos sindicatos, venceu a disputa com a União Soviética, procedeu ao maior processo de concentração de renda da história.
O modelo político econômico
O modelo se baseava em um simulacro de democracia, onde cada pessoa um voto foi substituída por um dólar um voto. Interessava ao grande capital uma democracia relativa, sem concentração de poder nas mãos de uma pessoa, e com a influência sobre política econômica (através do controle pelos economistas), partidos políticos (pelo financiamento de campanha), Judiciário (com a contratação de grandes escritórios) e mídia (através da publicidade ou da injeção direta de capital).
A (des)legitimação do modelo
Todo o discurso de legitimação do modelo baseava-se na teoria do transbordamento: se houver liberdade total para o capital, ele transbordará dos países ricos, à medida em que ficam mais caros, para as economias emergentes; ou das grandes empresas para a sociedade em geral. Desde que fossem feitas as lições de casa – as chamadas políticas de austeridade – que preconizam cortes em despesas e aumento de taxas de juros.
As últimas crises, a partir de 2008, desmoralizaram os argumentos. As políticas de austeridade praticadas em sucessivos países enfraqueceram os partidos tradicionais, desmoralizaram o modelo de democracia relativa, deixaram populações inteiras órfãs de Estado, abrindo espaço para a ultradireita.
E isso tudo ocorre sob o avanço da China no campo internacional, com suas políticas internas, de preservação de setores estratégicos.
Os bilionários e a ultradireita libertária
O interesse do capital financeiro são os negócios. Não há nenhum compromisso com democracia, direitos sociais, sustentabilidade econômica, mas um pragmatismo de apoiar quem abrir espaço para privatizações e desregulamentações da economia.
A parceria com o fascismo, o nazismo e o bolsonarismo são provas evidentes. E o grande negócio do momento são as estatais do chamado sul global. É por aí que se entende o entusiasmo de Abilio Diniz com a eleição de Milei, na Argentina. Em mira, a privatização das estatais argentinas e da exploração dos novos campos de gás e petróleo. Além das facilidades que uma eventual dolarização representará para quem quiser fugir do cerco fiscal prometido por Haddad.
Mas não se ficará nisso. Os bilionários brasileiros já atuam como um partido político, como ficou demonstrado na ONG liderada por Jorge Paulo Lemann, para assessorar o Ministério da Educação, visando entregar a digitalização das escolas públicas para Elon Musk. E, agora, as revelações de Luiz Felipe Dávila, sugerindo uma associação entre bilionários – seu sogro Abilio, André Esteves, Rubens Ometto – para montar um conglomerado com publicações de ultradireita, como o Estadão, Revista Oeste, Plantão Brasil, emulando o modelo Rupert Murdoch.
A postura recente da revista Veja – dominada pelo Banco BTG – e do próprio Estadão assinalam uma volta ao modelo de jornalismo de guerra, inaugurado em 2005 pela Veja, dirigida por Eurípides Alcântara, atual diretor de redação do Estadão.
Consistia em reportagens escandalosas, juntando informações verdadeiras – e irrelevantes – para conclusões bombásticas – e falsas. E em ataques desqualificadores contra os críticos.
Foi o que aconteceu com a diretora da sucursal de Brasília, Andreza Matais, revelando o salário de um jornalista da Secretaria de Comunicação, que rebatera de forma educada uma notícia inverídica do jornal. E a postura de um subordinado dela, procurando a EBC para saber do salário de um jornalista que havia criticado o jornal. Tudo culminando com um falso escândalo da esposa de um chefe do Comando Vermelho – condenado e preso – que compareceu a uma audiência no Ministério da Justiça como representante eleito de um conselho do Amazonas.
A guerra econômica
Não se tenha dúvida de que essa frente dos bilionários será um dos elementos centrais dos ataques ao governo Lula, por uma razão muito simples: apesar de todas as concessões feitas ao mercado, Lula não parece inclinado a retomar a privatização selvagem de estatais. Ou seja, nem orçamento equilibrado, Selic elevada, cortes de despesas sociais, serão suficientes para aplacar a fome do partido dos bilionários.
Com o fracasso da terceira via e a vitória de Milei, muda-se a estratégia. Em vez do sufocamento lento do Estado, com a apropriação dos juros da dívida pública e da venda de estatais, o caminho direto: a aposta na radicalização dos libertários. Já há algum tempo percebe-se esse movimento em influenciadores liberais, que chegam ao cúmulo de defender até o livre comércio de órgãos. Serão tempos de novas rodadas de radicalização irracional.
Julgam que, sem instituições, eles governarão o país. Precisam combinar com as milícias e o crime organizado.
A estratégia óbvia de Lula deveria ser um pacto de produção com federações empresariais, centrais sindicais, sistema cooperativo e movimentos sociais, envolvidos diretamente com a produção. São os representantes diretos de pequenos e médios produtores, aqueles com interesses diretos no barateamento do crédito, no fortalecimento do mercado de consumo, nos pactos de produção.
Fonte: CTB.