Em 25 de outubro o premiê de Israel, Benjamin Netanyahu, justificou em cadeia nacional o massacre na Faixa de Gaza – iniciado 18 dias antes – afirmando que eles, os israelenses, seriam “filhos da luz”, enquanto os palestinos, “filhos das trevas”.
“Já matamos milhares de terroristas e não vamos parar por aí. É só o começo”, disse.
Netanyahu vem cumprindo a promessa, eliminando indiscriminadamente filhos e filhas de palestinas. Em março, o número de mortes evitáveis de crianças palestinas em quatro meses de massacre já superava o número total de crianças mortas em todas as outras guerras que ocorreram no mundo entre 2019 e 2022: 12.300. No começo de abril, a cifra chegava a 13.800, segundo o Ministério da Saúde local, com muitas mais soterradas debaixo dos destroços produzidos pelos bombardeios.
Este número não deve parar de crescer. Enquanto bombardeios prosseguem pelo território palestino, a ONU alerta para a possibilidade de que milhares delas morram de fome, especialmente no Norte de Gaza, onde mal chega comida. No sul, o risco de matança em larga escala é real, se Rafah for invadida, como o governo israelense promete fazer.
É neste cenário que o mundo marca, neste 5 de abril, o Dia da Criança Palestina.
Antes do massacre: cenário traumático
A data foi estabelecida pela maior liderança histórica deste povo e vencedor do prêmio Nobel da Paz, Yasser Arafat. Em 1995, o então presidente palestino fez o anúncio ao se comprometer com convenções internacionais que asseguram direitos à crianças e como forma de denunciar os maus tratos sofridos por elas sob a ocupação israelense.
Na década atual, Israel – que determinou que a maioridade penal para palestinos seria aos 12 anos – já vinha endurecendo estes maus tratos. Em 2022, o ministro palestino de Detidos e Ex-Detidos, Abdul-Nasser Farawna, disse que o número de crianças palestinas presas por Israel havia crescido 140% entre 2021 e 2020.
No Dia da Criança Palestina de 2023, o ministério disse que 40 delas haviam sido mortas e mais de 800 detidas apenas no período de um ano.
“As demolições de casas, o despejo de palestinos de Jerusalém, o cerco ilegal à Faixa de Gaza, a tortura e as práticas desumanas, bem como a escalada de ataques terroristas armados por milícias armadas de colonos israelenses, devastam a vida das crianças palestinas”, disse o ministério, em abril deste ano.
“Combinadas, estas ações criminosas e práticas ilegais criam uma realidade diária insuportável e traumática para as crianças palestinas que permanecem privadas de qualquer forma de proteção a que têm direito.”
Após o massacre: desesperador
Se o cenário era “sufocante” antes de 7 de outubro, como definiu a ONU, após a data, se tornou devastador. Além de mortes, a Unicef disse que o massacre causava em média a amputação de braços ou pernas de cerca de 10 crianças palestinas por dia. Muitas dessas amputações, são feitas sem anestesia e com equipamentos improvisados, como arames farpados, devido à destruição de infra-estrutura hospitalar.
Os números não contam toda a história. No começo da semana, médicos canadenses ouvidos pelo jornal britânico The Guardian afirmaram ter evidências de que crianças seriam alvos de atiradores de elite israelenses, pelas marcas de balas.
Além da morte e dos ferimentos, há a fome. O coordenador de ajuda da ONU para o local, Jamie McGoldrick, declarou, no começo de março, que “crianças estão morrendo de fome”.
“Antes da guerra, menos de um por cento das crianças de Gaza até cinco anos de idade sofria desnutrição severa. Hoje, uma em cada três crianças até dois anos de idade sofre desnutrição aguda”, disse o coordenador da Unicef, James Elder, em fins de março. “No Norte de Gaza, fui cercado por dezenas de milhares de pessoas fazendo o sinal universal de fome, pedindo comida.”
Há também a sede. Já em dezembro, a Unicef alertava que crianças em Gaza tinham acesso a pouco mais de 2 litros de água por dia, quando o recomendado é 15l. Desde então, com o endurecimento do bloqueio e destruição de estações de saneamento e dessalinização, a situação piorou.
E há Rafah. A cidade na fronteira sul do território, fronteira com o Egito, tinha pouco mais de 200 mil habitantes em setembro. Com o território bombardeado, mais de um milhão de palestinos se amontoam lá, em tendas precárias, a espera da chegada da prometida ofensiva militar israelense.
“Rafah é uma cidade de crianças, 600 mil meninas e meninos estão lá. Uma ofensiva? é ofensivo”, disse o coordenador da Unicef.
Por outro lado, muitas crianças não morrem, mas várias delas se veem sem parentes vivos. A Unicef calcula que o massacre deixou ao menos 18 mil crianças sem familiares conhecidos que possam se responsabilizar por elas.
O massacre de palestinos promovido por Israel é considerado genocídio por um número cada vez maior de países. Ao redor do mundo, várias entidades aproveitam essa data para marcar o Dia das Crianças Palestinas como o Dia Internacional de Solidariedade com a Criança Palestina e denunciar o ataque contra civis – a maioria de mulheres e crianças – como sendo crimes de guerra cometidos pelo atual governo de Israel.
Fonte: Brasil de Fato.