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Filme mostra que o jogo do capital nunca é justo para quem vive do trabalho

Jogo Justo, disponível na Netflix, leva a pensar sobre a importância de um movimento sindical forte e atento às novas formas que o capital encontrou para explorar o trabalho

Jogo Justo (2023), com roteiro e direção de Chloé Domont, é um desses filmes no limiar entre o entretenimento e a obra autoral. Em cartaz na Netflix, a produção estadunidense mostra a desumanização do sistema capitalista que só vê pela frente números e descarta qualquer trabalhador que não lhe serve mais.

No caso em pauta, uma empresa do mercado financeiro, sequiosa de mais lucros a qualquer preço, promove Emily, interpretada por Phoebe Dynevor, a um cargo de direção importante, após demitir de maneira traumática o homem que ocupava essa vaga porque já havia completado dois anos na empresa.

Desse jeito, a agência matou dois coelhos numa cajadada só. Demitiu um funcionário para manter os salários em níveis mais baixos e promoveu uma mulher para ficar bem na fita, para o mercado, por ter mulheres em cargos de direção, sem se importar se era a única em meio a dezenas de homens. Como deixa claro o poderoso chefão Campbell, interpretado por Eddie Marsan.

Com a promoção, Emily passa a enfrentar problemas no relacionamento com o namorado e colega de trabalho Luke, interpretado por Alden Ehrenreich. O ciúme de Luke ganha força com os comentários maldosos de seus colegas na empresa, porque uma mulher ser promovida só poderia ser sinal de que estava mantendo um relacionamento com o chefe.

A vida de Emily remonta à vida das mulheres que têm mais pedras no caminho da ascensão na carreira do que os homens, até em atividades com maioria de mulheres, ao mostrar a postura agressiva de seu companheiro (com relacionamento escondido, pois a empresa não permitia que funcionários se relacionassem entre si), que acreditava ser ele o merecedor da promoção.

O filme aponta que a luta das mulheres contra o patriarcado se insere no contexto de luta de classes, porque o capitalismo usa o preconceito e a discriminação para facilitar a sua exploração de quem só tem sua força de trabalho para vender. O jogo é sempre muito injusto e mais ainda para as mulheres, porque o patriarcado fomenta a masculinidade tóxica para manter as mulheres sob o tacão da submissão.

Mas a toxidade não se estabelece apenas na questão sexual. Esta, também, no relacionamento com os que eles chamam de “colaboradores” (entenda-se trabalhadoras ou trabalhadores com contratos muitas vezes sem vínculo empregatício, inclusive), que ficam com a vida submetida aos interesses da empresa.

Tanto que Campbell liga para Emily às duas horas da manhã para chamá-la a uma conversa num bar, como se isso fosse normal num relacionamento de trabalho, e então lhe comunica a promoção, o que mostra uma subordinação extrema de seus “colaboradores”.

Essa exacerbação da dominação sobre a força de trabalho comprada pelo capital chega às vias do assédio moral, quando Emily desaponta o chefão ao errar num prognóstico, e ele sente a necessidade de mostrar o seu poder e humilhá-la. O assédio aconteceria fosse quem fosse o funcionário subordinado, mas por se tratar de uma mulher a violência foi maior.

Jogo Justo leva a pensar sobre a importância de um movimento sindical forte e atento às novas formas que o capital encontrou para explorar o trabalho. Até porque, como diria Marx, é impossível humanizar o capitalismo, sistema que vive da exploração das pessoas que vivem do trabalho, invariavelmente na labuta cotidiana pela sobrevivência.

Atenção: quem não tem Netflix pode tentar assistir à obra online.

Fonte: Vermelho

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