Vendida como modernização, a contrarreforma de 2017 desmontou direitos e criou mercado de trabalho desigual, em que o lucro se sobrepõe à dignidade humana.

Em 2017, o Congresso Nacional aprovou a chamada Reforma Trabalhista, sob o argumento de que o País precisava “modernizar as relações de trabalho”. A contrarreforma foi o golpe da “modernização”
O discurso sedutor escondia armadilha: abrir o campo de jogo para os empresários, mas sem árbitro e com regras feitas por eles mesmos.
O resultado foi uma das maiores transferências de poder econômico da história recente — dos trabalhadores para o capital.
O então governo Michel Temer (MDB) prometia mais empregos e menos burocracia.
O que se viu, porém, foi o oposto: crescimento do trabalho precário, da informalidade e da insegurança jurídica.
Quando o jogo vira vale-tudo
A contrarreforma permitiu a prevalência do negociado sobre o legislado, que enfraqueceu os sindicatos e desestruturou o poder de negociação coletiva. Empresas passaram a impor acordos individuais, impondo medo e chantagem velada.
A ideia era “flexibilizar” — na prática, foi liberar o vale-tudo. A pejotização virou regra, o trabalho intermitente virou normal e a Justiça trabalhista perdeu força.
O jogo continuou, mas os juízes foram expulsos do campo e o apito foi entregue a quem tem dinheiro e manda.
Promessas quebradas, direitos diluídos
A promessa era gerar milhões de empregos formais. De 2017 a 2023, porém, a taxa média de informalidade no Brasil se manteve acima de 40%, segundo o IBGE.
Ou seja: nem mais empregos, nem melhores empregos.
O que houve foi a substituição de vínculos formais por arranjos precários, sem férias, 13º ou proteção social.
Enquanto isso, os lucros empresariais cresceram e a massa salarial encolheu.
O trabalhador virou peça descartável num tabuleiro onde a “competitividade” serve de eufemismo para exploração.
Mito da liberdade econômica
A reforma foi vendida como libertadora — “menos Estado, mais liberdade”.
Mas liberdade para quem? Para o trabalhador, significou dependência e vulnerabilidade.
Para o empregador, impunidade travestida de eficiência. O Estado se retirou, o mercado não se autorregulou e o que restou foi um País onde o trabalho perdeu o valor moral.
Preço da desregulamentação
O resultado hoje é evidente:
• queda na renda média real;
• crescimento da terceirização;
• aumento das jornadas sem compensação; e
• esvaziamento da representação sindical.
O Brasil transformou o trabalhador em variável de ajuste — e o Estado, em mero espectador.
O “jogo” continua, mas as regras só valem para um lado.
Reconstruir o pacto social
A Reforma Trabalhista não modernizou — fragilizou.
O País precisa de uma nova agenda: reconstruir o pacto social, reequilibrar o poder entre capital e trabalho e devolver segurança, dignidade e previsibilidade às relações laborais.
Sem isso, continuaremos jogando um jogo em que os trabalhadores pagam o ingresso e os empresários levantam o troféu.
Dados atualizados
O contexto econômico e do mercado de trabalho no Brasil:
• A taxa de informalidade no mercado de trabalho brasileiro foi de 38,0% no trimestre encerrado em março de 2025, segundo a IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), corresponde a cerca de 38,9 milhões de trabalhadores informais.
• No trimestre encerrado em maio de 2025, a taxa de informalidade caiu para 37,8%, ainda assim equivale a cerca de 39,3 milhões de pessoas.
• No mesmo período (março-maio de 2025), o rendimento médio real habitual de todos os trabalhos foi de R$ 3.457 mensais, com crescimento de 3,1% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior.
• Em agosto de 2025, o rendimento médio real habitual atingiu R$ 3.488 mensais, com alta de 3,3% em comparação ao mesmo período do ano anterior.
• Além disso, em 2024, os mais pobres (10% da base da renda) tiveram aumento de renda do trabalho de 10,7%, contra 6,7% para os 10% mais ricos — contribuindo para queda histórica da desigualdade social.
Fonte: Vermelho
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