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A altura do Levy

O ministro domina o grupo fotografado com sua altura como dominará o governo com suas medidas de, sim, responsabilidade fiscal e austeridade

Paul Krugman e Joseph Stiglitz não são donos da verdade, mas são donos de um Prêmio Nobel cada um. Os prêmios lhes dão uma respeitabilidade que eles não encontram entre seus pares economistas, pois são os dois mais notórios inimigos da atual ortodoxia — keynesianos nadando contra a corrente da maioria. Para Krugman e Stiglitz, o receituário ortodoxo para vencer a crise mundial provocada pelo capital financeiro equivale a receitar gasolina para apagar incêndios. O sacrifício de gastos sociais e as outras formas de austeridade vendidas com o nome de fantasia de “responsabilidade fiscal” já provocam reações de consequências imprevisíveis na Europa. Só quem está gostando da irresponsabilidade social oficializada é o capital financeiro, que pariu a crise e ama a sua cria.

Na foto do espantoso novo Ministério da Dilma que saiu nos jornais, destaca-se, além do vestido da Kátia Abreu, o tamanho do ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Ninguém, nem o Rossetto, chega aos seus ombros. O que não deixa de ser simbólico. Levy domina o grupo fotografado com sua altura como dominará o governo com suas medidas de, sim, responsabilidade fiscal e austeridade. E a altura de Levy tem outro significado: será difícil alguém chegar ao seu ouvido. Alguém preocupado com a incoerência de um governo do PT entregar-se tão despudoradamente a uma ortodoxia de efeito duvidoso. Alguém pedindo clemência para os programas sociais ameaçados, talvez a própria Dilma. Se não fosse esperar demais, até alguém pedindo para ele ler Krugman e Stiglitz de vez em quando. Mas o ouvido de Levy é inalcançável, à prova de palpites. Na própria foto, ele parece estar com a cabeça numa camada superior da atmosfera, respirando outro ar. Certamente não o mesmo ar do pastor Hilton, lá embaixo.

Imagino que o Joaquim Levy tenha lido o Thomas Piketty, nem que seja só por curiosidade. Piketty também nada contra a corrente. Se a questão maior para qualquer pessoa que não seja um verme moral é a questão da desigualdade crescente no mundo, Piketty prova que o capitalismo, do jeito que vai, só agravará o problema. Ele chama a pretensão de que uma economia de mercado sem regulação acabará por “elevar todos os barcos” e diminuir as desigualdades de “um conto de fadas”. Mas esse conto de fadas é o outro nome da ortodoxia econômica que querem nos impingir.

PAPO VOVÔ

A Lucinda, nossa neta de 6 anos, pediu-me para consertar a corda de um cavaquinho que encontrara. Não consegui, e ela tirou o cavaquinho das minhas mãos, dizendo “Deixa que eu conserto, inteligência rara”. Inteligência rara! Acho que vou baixar um decreto proibindo a ironia dentro de casa.

*Este artigo é de autoria do escritor Luis Fernando Verissimo. 

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