Sobre as perspectivas para a Campanha Salarial e as mobilizações dos bancários, conversamos nesta edição com o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf) e bancário do Itaú, Roberto Antônio Von Der Osten.
Qual a perspectiva da Campanha Salarial dos Bancários deste ano?
Este é um ano muito difícil. Temos uma crise política que está sendo transformada em uma crise econômica. Temos um ataque conservador brutal sobre os diretos dos trabalhadores, basta olhar o que foi a aprovação do Projeto de Lei da terceirização no Congresso e com as medidas provisórias. É um ano onde temos aumento inflacionário, justamente no pico da nossa negociação, e nós temos a ameaça de resseção e de desemprego. Num cenário desses, os bancários têm que estar muito mobilizados, nós contamos com a unidade nacional para fazermos uma campanha grande e unificada. Mesmo com todo esse cenário difícil, os bancos lucraram bilhões no primeiro semestre deste ano. Esperamos que os bancos negociem com os bancários com responsabilidade e com coerência, por que são os bancários que trazem os lucros para eles. Nossa mobilização é muito forte, a nossa unidade é nacional, e com o sistema democrático de construção da nossa campanha vamos continuar com o ganho real e vamos discutir novas conquistas para a nossa convenção coletiva de trabalho.
A atual conjuntura política e econômica favorece o avanço das pautas dos bancários?
Eu não consigo imaginar que bancos que estão produzindo tanto lucro possam alegar que existe qualquer tipo de condição que impeça o reajuste que a gente precisa mais o ganho real que vamos reivindicar. Os bancários estão motivados, pois não estamos no mesmo cenário da indústria automobilística, que está com repressão do consumo e recessão de vendas. Os bancos tiveram os maiores lucros da sua história. Então, em uma condição dessas, nenhum bancário vai compreender se não tivermos uma boa campanha e um bom retorno das nossas reivindicações.
O que os bancários precisam fazer para conquistar avanços na Campanha Salarial?
Os bancários precisam continuar as ações de mobilização. Nós temos um movimento que ano a ano bate recorde de participação. Não achamos que tem que ter greve: achamos que tem que haver mobilização com responsabilidade e com ética. Quem acaba levando os trabalhadores para a greve são os banqueiros. Nós achamos que estamos assustando com a mobilização, porque ela é muito forte, é nacional, de norte a sul do país. Se os bancários se mantiverem essa forte mobilização, essa vontade de conseguir os objetivos positivos, temos todas as condições de juntos chegarmos a uma vitória em duas frentes: a da defesa da nossa remuneração e do nosso emprego, e a outra de lutar contra o projeto de terceirização, que está no Senado. O bancário sabe que tem que fazer as duas lutas e ganhar as duas.
Qual a sua avaliação a respeito da política de arrocho fiscal e das recentes mudanças nos direitos trabalhistas e na previdência?
Desde que começou esse governo, a maioria do movimento sindical do campo da CUT apoiou este projeto por que o ponto central na eleição do ano passado era a capacidade do estado de intervir para trazer bem-estar social para os trabalhadores e trabalhadoras. Nós vimos com bastante surpresa que o governo passou a implementar, pressionado por uma crise política, um plano de austeridade fiscal que trazia ajustes para os direitos e os ganhos dos trabalhadores. Nós denunciamos isto, procuramos o governo, fizemos movimentação e já dissemos que, por exemplo, se o projeto da terceirização não for vetado pelo governo nós podemos fazer uma greve geral. A arma dos trabalhadores contra redução de diretos é a greve. O governo, equivocadamente, acredita que reduzindo o orçamento, reduzindo o orçamento em áreas de inserção, subindo a taxa Selic – que transfere o rumo da sociedade para os banqueiros -, e tomando medidas de austeridade fiscal para pagar a dívida interna, possa trazer algum tipo de saída para a crise e é o contrário. Nós temos que oferecer crédito, estimular a retomada do crescimento sustentável da economia brasileira. Países que implementaram o ajuste no modelo do FMI não se deram bem. Temos que repensar e, principalmente, taxar o “andar de cima”. Tem que cobrar mais de quem é rico, de quem detêm as grandes fortunas no Brasil e cuidar mais dos trabalhadores que produzem o Produto Interno Bruto nacional com o suor de seu trabalho.
Você considera que este é o momento para as centrais se unirem em uma greve geral por conta dessas medidas?
Sim. Tanto é que no 1º de Maio foi chamado pela CUT, pela CTB, pela Intersindical, mais os movimentos sociais que juntos possamos formar uma frente política em busca da hegemonia na sociedade. E as centrais têm que estar na luta, não no combate ao governo federal, estadual ou municipal, elas tem que se atentar para combater medidas que sejam prejudiciais aos trabalhadores em qualquer governo.