Como a Sra. avalia a Campanha Nacional dos Bancários deste ano?
Acredita que houve uma adesão significativa da categoria? Sem o fator “eleições majoritárias” a campanha dos bancários seguiu o mesmo roteiro de mais de 10 anos. Começou com muito atraso, com uma pauta rebaixada e focada apenas nos aspectos economicistas. A categoria aderiu e isso, mais uma vez, foi significativo. Contudo, um número maior de postos de trabalho em relação a 2014 permaneceu em atividade. Mais uma vez foi forte a “greve de pijama”. Uma greve controlada pela burocracia, com os trabalhadores indignados, mas cientes de que há necessidade de fazer a greve mesmo entendendo que, em que pese o teatro proposto, sem a luta, ainda que um tanto defensiva, pior seria ficar se não fosse feito nada.
Qual a sua opinião a respeito do posicionamento do Comando Nacional, que orientou a aceitação da proposta da Fenaban justamente no momento em que o movimento grevista se tornou mais forte?
O Comando, mais uma vez, teve uma atuação lamentável, não somente neste momento. Toda a Campanha Salarial de 2015 foi morna e só aconteceu a greve por iniciativa de parte da base, que é mais autônoma. Via de regra, não houve trabalho de base. Há anos que a ida às bases só acontece em época de eleições.
Muitas bases pelo país decidiram pela continuidade da greve, mesmo com a orientação do Comando pela aceitação da proposta. Isto mostra que o movimento sindical está buscando mais autonomia e criando novos rumos para a luta dos bancários?
A maioria absoluta dos Sindicatos está atrelada aos patrões e ao partido no poder, e mesmo em outros partidos, não há diferença. A crise política e a burocratização impedem de avançar e encorajar os trabalhadores a dar um passo à frente. Nas bases onde aconteceu a continuidade da greve o preço foi alto, e quem ousou defender propostas antagônicas ao Comando e à orientação local (vertical) é tachado de golpista e traidor. A greve horizontal, de base, e que contraria os interesses da burocracia, não é respeitada e, pior, é imposta uma greve vertical, alimentada por vícios históricos, que sufoca todas as bases, até mesmo em sindicatos que se apresentam nacionalmente como diferentes. Portanto, não é o movimento sindical, mesmo nos raros sindicatos que fazem oposição ao Comando, que está buscando independência ou autonomia. São os trabalhadores que não confiam mais nos sindicatos chapa-branca. Há um desejo de mudanças e este dá sinais nas bases, ainda que seja apenas um embrião. Não está caracterizada uma rebelião, a exemplo do que aconteceu em bancários no ano de 2004, mas esse movimento tende a crescer.
A categoria está sendo representada hoje por centrais sindicais que apoiam o governo. Quais os prejuízos que esta aliança pode trazer para os trabalhadores?
Os prejuízos são claros: desde os aspectos socioeconômicos até a questão da (des)educação das bases. O que deveria ser instrumento de mudança da sociedade está sendo um colchão para amortecer as lutas. O governo manda a conta da crise para os trabalhadores e o peleguismo das centrais ajuda a implementar as medidas pró-capitalistas e de retirada gradual dos direitos adquiridos a duras penas e impede novas conquistas.
As opiniões expressas na entrevista não refletem, necessariamente, o posicionamento de toda a diretoria do SEEB/VCR.