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“A esquerda encolher é dar espaço para a direita”

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Em entrevista para O Piquete Bancário, o jornalista Vito Giannotti avaliou a situação sociopolítica do país a partir das primeiras ações da presidente Dilma Rousseff em seu novo mandato.

Como o senhor avalia a postura do governo atual, diante do programa que havia sido apresentado durante a campanha eleitoral no ano passado?É bastante complicado. Dilma pode ser vista como uma boa alternativa, mas os participantes da tal base aliada são outra escolha. Joaquim Levy e Kátia Abreu são inimigos a ser derrotados. Serão eles ou nós, trabalhadores. A prova disso veio logo no começo do governo. Dilma acatou as imposições do Levy para tirar direitos dos trabalhadores no seguro desemprego, na saúde, na aposentadoria. E sobre a Reforma Agrária? A tal de Kátia diz que no Brasil não há latifúndio nem agronegócio. Isso é o contrário do que os trabalhadores precisam.

Pode haver credibilidade em um governo que trabalha baseando-se em troca de favores?
O governo Dilma tem duas alternativas: se jogar nos braços dos banqueiros, dos latifundiários, do capital estrangeiro e esquecer os trabalhadores ou fazer uma aliança com os trabalhadores organizados em seus sindicatos e movimentos sociais, como o MST, o MTST.

Qual a sua visão diante do crescimento da direita no país?
É normal a direita crescer quando a esquerda se encolhe, se acomoda, se acovarda. A esquerda faz 30 anos que está encolhendo, e a esquerda encolher é dar espaço para a direita. É assim no mundo todo. Por isso, uma grande vitória foi a esquerda ganhar a eleição na Grécia nestes dias. Isso mostra que é possível voltar a dar a volta por cima.

Desde o primeiro mandato de Lula, a maioria dos sindicatos, associações de trabalhadores e centrais sindicais tem prestado apoio às medidas do governo, nomeando sindicalistas para ministério e vários cargos públicos de confiança. O número de greves e manifestações diminuiu, e as ações de junho de 2013 já não contavam com sindicalistas. Onde estão e para onde devem ir essas entidades dos trabalhadores nesse cenário atual?
Sim, desde a vitória de Lula, o movimento se iludiu muito pensando que o governo iria fazer o que precisava ser feito. Não cuidamos da autonomia e independência do movimento. É comum ser assim, foi assim na França, na Itália, na Espanha. Em 2013, ficou claro que os sindicatos estavam longe dos trabalhadores. Agora, este ano, é o momento de retomar as lutas sem ilusões, sem dependência de qualquer governo. Retomar as lutas com formação política.

O PT está no poder há mais de uma década. É benéfico para o país ou as desvantagens são maiores?
Claro que é bom a esquerda estar no governo. Mas sem ilusões. O trabalho de mobilização política e de formação política é obrigação dos partidos, dos sindicatos, das associações de trabalhadores. É inútil esperar que o governo faça por nós. Um governo de esquerda pode criar condições melhores, mas quem deve fazer o trabalho são os próprios trabalhadores.

Qual a sua opinião sobre o anúncio da presidente Dilma quanto à abertura de capital da CEF?
Não há nada de novo. Quem está no poder ainda é o capital, são os patrões com sua mídia, seus meios de comunicação, e eles sabem o que querem. Um dos pontos centrais do projeto patronal é a privatização. O sistema quer privatizar a Caixa, o Banco do Brasil, todos os portos, os aeroportos, os hospitais, tudo que temos. Dilma precisa ser empurrada, com milhões de trabalhadores nas ruas, para não ceder ao capital. Sem milhares e milhões nas ruas, ela vai privatizar até a mãe.

Sobre a democratização das comunicações, tema sempre discutido e reivindicado pelas centrais sindicais, o que podemos esperar do novo Ministro das Comunicações, Ricardo Berzoini, que já foi bancário e atuou como sindicalista?
Esse tema é central na luta política de hoje. Os meios de comunicação têm um poder enorme de determinar o que a massa pensa e o que ela aprova. Uma novela ou um programa de Datena tem muito mais força que milhares de boletins. Nós, da esquerda, precisamos primeiro nos convencer da centralidade da mídia e depois exigir uma nova legislação que democratize o poder das comunicações. Hoje as comunicações no Brasil estão totalmente concentradas nas mãos de sete ou oito barões das rádios, TVs, jornais e revistas. Precisamos mudar tudo isso. Sim, um ministro pode ajudar, mas o que vai fazer a diferença são milhares e milhares de trabalhadores nas ruas exigindo a democratização da mídia.
E em relação às denúncias de corrupção, o senhor acha que este governo resolveu aderir à mesma postura da época de Collor, Sarney etc.?
De novo, para mudar qualquer coisa, no nosso país, é preciso mobilizar o povo. Juízes, advogados, desembargadores, e por aí vai, não vão mudar quase nada. O povo em passeatas, piquetes, barricadas e pauleiras pode acabar com a pilantragem contra a sociedade.

Qual o papel das centrais sindicais neste momento, diante de todas estas mudanças impostas pelo Governo?
As centrais têm a obrigação de estar na vanguarda das lutas dos trabalhadores. Isso é histórico. Mas, hoje, a crise atinge em cheio as centrais e sindicatos. É recomeçar a organização de base, com democracia interna, e uma renovada visão classista. Com paciência é possível retomar o caminho das lutas.

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