A maternidade, vendida como destino natural das mulheres, funciona muitas vezes como sentença de invisibilidade. O mercado, que deveria reconhecer a dupla jornada, passa a tratá-las como menos produtivas, menos desejáveis, quase descartáveis. De profissionais competentes, se tornam apenas mães, apagadas e sufocadas pelo peso da desigualdade.
Uma pesquisa recente da Catho, plataforma de vagas de emprego, mostra que 60% das mães estão fora do mercado de trabalho e, entre as que permanecem, só 15% chegam a cargos de liderança. Quase 40% afirmam receber salários menores do que colegas na mesma função e 94,8% não foram promovidas durante a gravidez ou licença-maternidade.
A desigualdade é visível na chamada economia do cuidado. Mulheres dedicam 21,4 horas semanais a afazeres domésticos, quase o dobro dos homens, o que impede plena participação no mercado. A sobrecarga tem impacto macroeconômico: o trabalho invisível das mães equivale a 8,5% do PIB brasileiro, mas segue sem reconhecimento, tratado como obrigação natural e não como atividade produtiva.
O efeito estrutural é devastador, segundo estudo da FGV IBRE, apenas 23% das ocupações de alta remuneração são ocupadas por mães, contra 38% das mulheres sem filhos. A penalidade recai sempre sobre elas, enquanto a paternidade raramente afeta a ascensão pessoal masculina. Ser mãe significa ser apagada do espaço profissional e confinada a um papel único, reduzida a uma identidade que a sociedade insiste em usar para justificar desigualdade.
Fonte: Contraf.