Sobre o atual cenário político e a representação sindical dos bancários neste momento de crise, nós conversamos com a bancária Juliana Donato, representante dos trabalhadores no Conselho de Administração do BB (Caref) e integrante do Movimento Nacional de Oposição Bancária (MNOB). Confira.
O que a Sra. acha da polarização política que tem existido no país? A polarização que realmente existe é entre os trabalhadores e os banqueiros e empresários. Enquanto amargamos demissões, alta de preços, retirada de direitos e ataques à educação, à saúde, etc., eles ganham rios de dinheiro. O governo Dilma-PT, o PMDB, o PSDB de Aécio, o Congresso Nacional, os governadores, brigam muito para ver quem vai governar, mas se unem para atacar e explorar os trabalhadores.
Como a sra. vê a saída do PMDB da base aliada do governo Dilma? PT e PMDB se sustentaram mutuamente por mais de uma década e ambos são responsáveis por essa crise e por toda a política implementada pelo governo do PT. Agora que o governo Dilma afunda, o PMDB abandona os cargos, mas é só para retomá-los mais tarde em melhores condições.
Quais são as principais consequências (sejam positivas ou negativas) que a sra. pode elencar em relação ao impeachment da presidente? Acho que o impeachment não é a solução. Tirar um governo corrupto e que ataca nossos direitos para colocar outro tão corrupto quanto – e que vai nos atacar do mesmo jeito para defender banqueiro (seja Temer ou Cunha), seria trocar seis por meia dúzia. Defendo a convocação de eleições gerais para trocar todos, desde a presidente até deputados e senadores. Mas estas eleições teriam que ser sem financiamento privado de campanha e com iguais condições para todos os partidos, bem diferente do que ocorre hoje.
Existe hoje uma opção de governo que possa atender as demandas dos trabalhadores? O exemplo do PT, que resolveu fazer alianças sem qualquer critério para poder governar, é suficiente para aprendermos que somente um governo socialista dos trabalhadores pode atender as nossas demandas. Um governo sem alianças com empresários e banqueiros e apoiado em conselhos populares, onde quem mande sejamos nós, os trabalhadores que produzimos toda a riqueza deste país. Esta alternativa deve ser construída por nós, trabalhadores, durante um forte processo de mobilização.
Como a sra. avalia o movimento sindical diante do contexto político a que os trabalhadores estão sujeitos, uma vez que grande parte dos sindicatos e órgãos representativos são aliados ao governo? Os aliados deste governo perderam a capacidade de representar os trabalhadores. É o caso da maioria dos sindicatos de bancários, ligados à CUT. Precisamos varrer esses falsos representantes de todos os espaços onde eles estão. O movimento do qual eu faço parte, o Movimento Nacional de Oposição Bancária (MNOB) é ligado à CSP Conlutas, uma central sindical que faz oposição pela esquerda a este governo e por isso tem independência para representar os trabalhadores. Portanto, há alternativas.
Qual deve ser o posicionamento da categoria bancária? Como ela deve se manter organizada? A única alternativa para os trabalhadores é a mobilização. Se a classe trabalhadora não entrar em cena, o perigo é a oposição de direita conseguir se afirmar como alternativa, o que seria péssimo para nós. Precisamos cobrar das centrais sindicais que convoquem uma greve geral no país. Precisamos também mudar os nossos sindicatos, varrendo os governistas das entidades.
As opiniões expressas na entrevista não refletem, necessariamente, o posicionamento da diretoria do SEEB/VCR.