Tendo como foco a Campanha de Prevenção e Combate ao Assédio Sexual no Trabalho, nesta edição d’O Piquete convidamos o 1º vice-presidente Regional Nordeste III e membro da Coordenação do Política de Classe para as Questões Etnicorraciais, de Gênero e Diversidade Sexual da ANDES, Gean Cláudio Santana.
Como o assédio sexual se faz presente nas relações de trabalho? Estamos num contexto de intensificação da exploração do trabalho em todos os setores. Para possibilitar essa exploração, os chefes, gerentes e governos lançam mão de mecanismos como gestão organizacional centrada no estabelecimento de metas de produção, acirramento da competição entre as(os) trabalhadoras(es) para atingir determinada meta; erosão da identidade de classe e, consequentemente, a eliminação dos elementos de solidariedade entre as(os) trabalhadoras(es). Nesse contexto, o assédio tem um solo fértil para se propagar e pode ser percebido por uma conduta abusiva, intencional, frequente e repetida que visa humilhar, constranger, atacar psiquicamente o outro, pois em ambientes de competição acirrada, o outro é uma ameaça constante e precisa ser eliminado. Ou utilizando a formulação de alguns teóricos da sociologia do trabalho, o assédio se dá quando são internalizadas nas relações de trabalho o controle e o uso manipulatório das emoções e dos afetos dos trabalhadores. Parece ser mais comum nas relações hierárquicas, mas não apenas. Importante levar em consideração a opressão de gênero, a lgbtfobia e o racismo como elementos que podem estar presentes no assédio e potencializar a ação do assediador.
Qual deve ser a conduta adotada pela vítima do assédio sexual? Primeiramente, a vítima precisa procurar apoio no sindicato, que deve ter uma estrutura que possibilite esse acolhimento, e fazer a denúncia amparado pela assessoria jurídica.
Como os Sindicatos podem atuar no combate ao assédio? Promovendo debates, campanhas, elaborando materiais informativos, pautando nos boletins e jornais, além de ter uma assessoria jurídica preparada que dê conta dessa demanda. No entanto, como falei anteriormente, o assédio só ganha importância e espaço para se reproduzir a partir da crise estrutural do capital na década de 1970 e com a saída encontrada, na perspectiva do próprio capital, que é a acumulação flexível. Com isso, o mercado de trabalho sofre profundas e regressivas transformações, com impactos nos contratos de trabalho como a terceirização e, agora, sua ampliação, na maior rotatividade de trabalhadores, precarização do emprego e intensificação do trabalho. Portanto, a luta contra o assédio tem que ser uma luta articulada contra o sistema capitalista.
As opiniões expressas na entrevista não refletem, necessariamente, o posicionamento da diretoria do SEEB/VCR.