Ajustes petistas levam 111 categorias a fechar acordo com redução de salários
Aumentos reais, acima da inflação, que deram o tom às negociações nos últimos anos serão concedidos a um número menor da população assalariada. Além disso, cresce o número de funcionários com carteira assinada que aceita reduzir os salários para tentar escapar do desemprego.
Os ajustes na indústria automotriz e nas montadoras, do ABC paulista por exemplo, operados pelo PT, atacam diversas conquistas sociais dos trabalhadores, facilitam as demissões, os lay-offs (suspensão do contrato de trabalho) e PDVs (programas de demissão "voluntária"). A CUT (central sindical ligada ao PT) e a CTB (ligada ao PCdoB) são os grandes aliados do governo Dilma nesta devastação dos direitos trabalhistas, aceitando essas flexibilizações através do PPE (Programa de Proteção ao Emprego, que mais parece proteção aos empresários), que estas burocracias sindicais tratam de fazer passar nas fábricas da Volkswagen, da Mercedes-Benz e da Ford.
Neste ano, até agosto, já ocorreram 111 acordos coletivos com redução nominal dos salários, quase metade deles no Estado de São Paulo. Em 2014 foram apenas quatro registros de negociações com corte no holerite, segundo levantamento da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), com base em dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).
No ano passado, os trabalhadores conquistaram aumento real médio acima de 1% nas negociações realizadas em todos os meses. Neste ano, com exceção de janeiro, os reajustes estão abaixo de 1% ou se limitam a repor a inflação. Em julho, o resultado foi negativo em 0,3%. Os dados levam em conta todos os acordos salariais firmados no País.
Estes resultados podem ser alcançados com a estratégia das mencionadas burocracias sindicais da CUT/CTB ou da Força Sindical, que fragmentam e isolam as lutas de resistência dos trabalhadores para que saiam enfraquecidos contra a patronal. Para cúmulo de tudo, CUT e CTB lançam junto com setores como MTST e PSOL a "Frente Povo Sem Medo", alegadamente para lutar contra os ajustes. Muito barulho por nada.
Poder de barganha
As negociações salariais nestes últimos meses serão muito difíceis, diz o coordenador da pesquisa da Fipe e responsável pelo site salários.org.br, Hélio Zylberstajn. "De um lado, tem a inflação acumulada de quase 10% e uma baita recessão e, de outro, empresas em dificuldade de reajustar a folha de pagamentos, pois não vendem seus produtos."
Mesmo que o segundo semestre seja marcado por negociações de categorias com maior poder de barganha, como metalúrgicos, químicos, bancários e petroleiros, o embate será complicado, admite José Silvestre Prado de Oliveira, coordenador de relações sindicais do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
De 25 negociações analisadas pelo Dieese entre julho e agosto, 90% conseguiram apenas zerar a inflação. Oliveira diz que os resultados dos acordos do segundo semestre devem ser similares aos do primeiro, com conquista de aumento real por menos de 70% dos trabalhadores.
O levantamento do Dieese tem amostra menor do que a da Fipe. No primeiro semestre, segundo esse levantamento, 68,5% dos acordos ficaram acima do INPC, e 14,6% abaixo do índice.
Foi o pior resultado para os trabalhadores desde 2008, quando teve início uma nova metodologia da pesquisa. No ano passado, 93% das categorias tiveram aumento real.
Unir para barrar os ajustes
É inegável que a burocracia sindical deseja mostrar que a flexibilização dos acordos trabalhistas, a terceirização e precarização do trabalho, são "opções melhores" do que a demissão. Lutar contra os ajustes é uma fábula para estes burocratas encastelados em seus postos "lucrativos", que não trabalham há anos e que acostumam os trabalhadores a achar que não se deve lutar pela defesa dos postos de trabalho nem barrar os ajustes.
Nós achamos que, pelo contrário, é possível barrar estes ajustes. Unificando os trabalhadores e a juventude contra o governo do PT de Lula e Dilma – os principais aplicadores dos ajustes, que entregaram postos ministeriais ao PMDB pelo "privilégio" de aplicar a austeridade contra os trabalhadores – e seus parceiros políticos da direita e da burocracia sindical. Cumpre planificar uma batalha coordenada nas montadoras e nos locais de trabalho afetados pelas demissões, que a CSP-Conlutas se convença a se colocar à frente deste plano e mostrar uma alternativa nos locais de trabalho, como não vem fazendo até agora.
Fonte: Esquerda Diário