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“A ansiedade não tem apenas um lado negativo”

Para entender os impactos da pandemia do coronavírus e do isolamento social na saúde mental dos trabalhadores e da população em geral, o Sindicato dos Bancários de Vitória da Conquista e Região conversou com a psicóloga Karenina Oliveira, mestranda em Psicologia da Saúde (UFBA) e especialista em Terapia Analítico-Comportamental (UNIJORGE) e em Saúde da Criança (UFBA). Confira.

 

Estamos vivendo uma situação atípica que tem mexido não só com a saúde física da população, mas também a saúde emocional. Quais os possíveis impactos da pandemia do coronavírus na nossa saúde mental? Sem dúvidas, além de ser uma situação atípica, é algo sem precedentes, considerando o alcance que esse vírus tem atingido, a nível mundial. Associado, ao fato de ter gerado uma pandemia, a ciência constatou que a melhor forma de conter o seu avanço, é o isolamento social, por uma questão de cuidado a si e ao próximo, assim como para possibilitar a capacidade de adaptação, pelos Sistemas de Saúde. Toda essa mudança brusca e repentina, afetou a sociedade e o mundo como um todo, dessa forma, a adaptação necessária também é imediata, mas nem sempre a compreensão vem na mesma velocidade. O Brasil, como um país conhecido pela proximidade entre as pessoas, está passando por uma mudança de hábito muito grande. Tudo isso impacta na saúde mental das pessoas, principalmente por precisarem estar distanciados de entes e amigos queridos. Felizmente, a tecnologia tem nos ajudado nesse sentido.

 

Alguns trabalhadores, a exemplo dos profissionais de saúde e da categoria bancária, continuam realizando seus expedientes por estarem envolvidos em atividades essenciais. De que forma esses impactos psicológicos podem ser minimizados? Sim, precisamos ser muito gratos, aos profissionais que precisam continuar trabalhando na linha de frente. Realmente, não é uma decisão fácil. Acima de tudo, buscar se alimentar da melhor forma, além de buscar o repouso adequado. Caso esteja percebendo-se com um nível limite de ansiedade, é importante parar, respirar, e, procurar ajuda, se necessário. Buscar não acompanhar as informações noticiadas a todo momento e, até mesmo, se distanciar das redes sociais, se preciso for. Apesar de tudo que estamos vivendo, nossa vida não é só o trabalho. É importante que resgatemos também as coisas que gostamos de fazer, nos nossos momentos de lazer, quando estamos em casa.

 

Apesar das evidências, muitas pessoas continuam negando a existência da pandemia, outras acreditam que não serão afetadas pelo coronavírus e continuam se expondo – além de expor pessoas próximas à COVID-19. A que esse tipo de comportamento individualista pode estar atrelado e quais as prováveis consequências disso para a coletividade? Sem dúvidas este é um comportamento extremamente danoso a todos, em função de estarmos lidando com um fenômeno pouco conhecido. A própria postura do atual presidente, contribuiu para que este tipo de comportamento perdurasse. O jornalista André Trigueiro fez uma live, no Instagram hoje pela manhã. Além de indicar leituras que podem contribuir para o autoconhecimento e o conhecimento do próximo, citou texto publicado hoje, no jornal “O Globo”, pelo cientista Yuval Harari no qual este sinaliza que a única possibilidade de sobrevivência da humanidade, está na união, na solidariedade e no compartilhamento de informações úteis, que possam conter o avanço da doença. Se no nível coletivo, já se aponta para esse sentido, é esperado que a nível individual isso também ocorra. Infelizmente, o governo já está noticiando que poderá começar a multar os que não seguirem a determinação se se resguardar em casa. É, realmente triste, ter que chegar a esse ponto, mas em alguns casos, pode ser realmente necessário doer no bolso para gerar a noção da gravidade de tudo que está acontecendo.

 

O isolamento social tem gerado uma considerável mudança na rotina de muitas pessoas, o que inclui, por exemplo, uma aproximação e maior contato com familiares, por exemplo. De que modo isso pode interferir na saúde mental dos indivíduos? Esse é um aspecto muito relevante. Fomos quase todos praticamente obrigados a nos recolher em nossas casas, em prol de um bem comum. Sabemos que as realidades da população brasileira são muito distintas, com níveis e classes sociais bastante heterogêneas. Como vimos nos últimos dias, uma das maiores preocupações do governo foi com os trabalhadores informais. Como manter em casa, essa população que precisa estar trabalhando para ter o seu ganha-pão? Há também as mães e pais que precisam estar com as crianças nas escolas e creches para conseguir trabalhar, e agora precisam aprender a trabalhar em casa, com a presença dos filhos. Ou mesmo os profissionais de saúde, que têm filhos e familiares idosos, ao voltarem para casa estão com um medo agora mais presente do risco de contaminação. Toda essa incerteza e inconstância está gerando grande nível de estresse e preocupação, somado ao fato da gravidade do COVID-19 em si, que tem nos mobilizado, diariamente, em função do número de vítimas acometidas em todo o mundo. Sem dúvidas, tudo isso mexe com nossa saúde mental e é impossível não ser afetado. O foco no momento é buscar o cuidado de si, dos que amamos, e optar pelo que pode gerar benefícios a todos, além de buscar uma reorganização, e, minimamente a preservação de uma rotina, principalmente no que se refere a manutenção de horários de alimentação, sono, exercícios físicos, horários de aula para as crianças e de trabalho para os adultos, de maneira a preservar compromissos importantes do dia a dia. Ademais, filtrar as informações úteis de forma a manejar o estresse, colocar em prática as orientações de higienização e de cuidados, e, no que se refere ao distanciamento, usar a tecnologia a nosso favor, mantendo contato com quem, no momento, não é possível estar fisicamente próximo.

 

Quais as orientações que você pode dar para a população preservar a saúde mental, apesar da ansiedade vivida diante dessa crise? A ansiedade não tem apenas um lado negativo. Precisamos identificar se existem mais elementos ligados ao medo – que podem nos ajudar no cuidado e na prevenção -, ou do pânico, que só nos paralisa. O lado positivo dessa quarentena é a possibilidade de reaprender as coisas boas que posso fazer em casa, para mim e minha família. Se moro sozinha (o), procurar estar mais em contato com que amo, mesmo que seja através da tecnologia. É tempo de reinvestir em si e em projetos que podem estar adormecidos. Segundo Avicena, médico e filósofo árabe, pai da medicina moderna, “a imaginação é a metade da doença; a tranquilidade é a metade do remédio; e a paciência é o primeiro passo para a cura.” Vamos buscar colocar tudo isso em prática. É um processo e um novo aprendizado, mas que pode nos trazer benefícios a longo prazo.

 

As opiniões expressas não refletem, necessariamente, o posicionamento da diretoria do SEEB/VCR.

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