O ministro da Economia, Paulo Guedes, defendeu, em seu primeiro discurso após empossado o que chamou de desestatização do mercado de crédito no país ao dizer que vai exigir que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) devolva antecipadamente mais R$ 200 bilhões ao Tesouro Nacional, achatando os investimentos no país e reduzindo o papel do banco na economia.
“Do BNDES, por exemplo, queremos o dinheiro da União de volta, queremos despedalar. Queremos os 500 e poucos bilhões (de reais) que foram dados. 300 já voltaram? Só faltam 200″, afirmou Guedes em seu discurso.
Para o vice-presidente da Associação de Funcionários do banco (AFBNDES), Arthur Koblitz, a devolução antecipada é inviável. “É equivalente a falar que vai acabar com o BNDES”, disse em entrevista para a Reuters, agência de notícias estrangeira. “Está todo mundo muito preocupado, a gente não quer acreditar que quem vai assumir a diretoria do banco vai assumir com essa agenda”, continuou. “Se a antecipação desses R$ 200 bilhões acontecer é para liquidar o BNDES.”
O novo presidente do BNDES será Joaquim Levy, que tomará posse na segunda-feira. Ele tem o pensamento alinhado com o do ministro da Economia. Ambos têm doutorado na Universidade de Chicago, considerada o templo mundial do liberalismo econômico.
Antecipação dos recursos
O banco de fomento ainda deve R$ 270 bilhões à União, por empréstimos que recebeu para sustentar seus programas, que devem ser liquidados em prazos de devolução definidos para até 60 anos. Desde 2015, contudo, o BNDES vem sendo obrigado a antecipar a devolução desses recursos. A liquidação já soma R$ 310 bilhões de reais, sendo que R$ 130 bilhões foram devolvidos em 2018.
“É uma mostra de que o novo governo continuará seguindo a mesma linha dos últimos dois anos. Sucateamento dos bancos públicos, com a minimização do fomento ao crédito e o desrespeito ao seu papel social de contribuir com o desenvolvimento social do país”, disse o secretário de Finanças da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Sergio Takemoto.
Koblitz, da AFBNDES, disse que a entidade já procurou intermediários de Levy para conversar a respeito do tema, mas que um encontro ainda não foi marcado.
Ele defendeu que sem uma atuação do banco de fomento a alternativa de financiamento seria os bancos estrangeiros, com captações em dólares sujeitas às variações cambiais. Em relação aos bancos nacionais, disse que eles “nem capital de giro fazem direito”.
“Se há equívocos em políticas de apoio do BNDES, isso pode e deve ser debatido sob um viés técnico, e não político”, concluiu Koblitz.