Nos últimos dias, com o anúncio do auxílio emergencial, o cenário em agências da Caixa e lotéricas vem sendo de imensas filas, aglomerações gigantescas e tumultos, com brasileiros desesperados acuados por crises social e de saúde que já se desenhavam pela falta de investimentos no País.
O banco vive aquela que talvez seja sua maior tarefa em 159 anos: atender a imenso contingente da população brasileira em tempo recorde. A retirada de direitos trabalhistas e a aprovação do teto de gastos, somadas à chegada do novo coronavírus, agudizaram sobremaneira essa realidade, revelando o Brasil ‘invisível’, em retrato nu e cru da desigualdade social, da miséria e do abandono.
Tal como os profissionais da área da saúde, de mercados, farmácias, aplicativos e tantos outros, os trabalhadores da Caixa estão sob risco de contágio para poder garantir que a maioria da população possa cumprir a orientação de ficar em casa. Apesar das muitas medidas protetivas negociadas pelo movimento sindical com o banco, até o fim de abril já eram quase 100 os empregados confirmados com Covid-19, além dos casos suspeitos e duas mortes. E isso sem contar as ocorrências com prestadores de serviço.
A Caixa, em consonância com sua função pública e expertise, advinda do papel de principal gestor dos programas sociais do País, criou aplicativo e a possibilidade de poupança digital em prazo excepcionalmente rápido. Mas vem tendo dificuldades para adaptar o sistema à demanda, muito mais ampla do que a esperada pelo governo. Uma das alternativas para resolver e agilizar esse processo seria a parceria do governo federal com Estados e municípios, que poderiam orientar, cadastrar ou recadastrar os mais vulneráveis com dificuldades para receber o benefício. É emergente, também, que o Estado se responsabilize pela distribuição de máscaras nas filas, que já se tornaram problema de saúde pública.
Por fim, destaco que, se hoje o Estado conta com banco do porte da Caixa, que pode ser usado em momentos de calamidade pública e para a execução de políticas anticíclicas, é porque ao longo de muitos governos, incluindo o atual, os empregados, entidades e movimentos organizados empunharam a bandeira da defesa de manutenção do banco público frente às iniciativas de privatização. Os empregados da Caixa nunca se furtaram ao compromisso com o povo brasileiro, pois carregam nas veias o DNA da missão pública no sentido mais nobre da palavra. Mas merecem segurança no trabalho, respeito e reconhecimento.
Rita Serrano é mestre em Administração e representante dos empregados eleita para o Conselho de Administração da Caixa.