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Artigo: Carta aos bolsonaristas envergonhados

Por Paulo de Tarso Magalhães David.

 

 

¨O que o rebanho mais odeia é aquele que pensa de forma diferente, não é tanto a própria opinião, mas a audácia de querer pensar por si mesmo, algo que eles não sabem fazer.¨

Arthur Schopenhauer

¨Causam Grandes Prejuízos os que Louvam os Idiotas”
Democrates

Não sou petista, nunca fui, aliás nunca fui filiado a nenhum partido. Mas, me considero uma pessoa de esquerda, no sentido verdadeiro da palavra, alguém que defende uma distribuição de renda mais justa, oportunidade igual de acesso à educação e ao trabalho, etc.  Confesso que votei em Lula em todas as eleições em que ele foi candidato à presidência do país e não me arrependo disso. Tenho clareza de que ele fez muita coisa boa para o país e quebrou  paradigmas, pois melhorou a distribuição de renda, reduziu o desemprego e a pobreza e inseriu o Brasil na geopolítica como um protagonista a ser ouvido. Lula fez o país chegar ao posto de quinta economia mundial e mostrou que uma pessoa de fora da elite, nordestino e de origem pobre pode ser eleito presidente do Brasil. Leia a íntegra.

Tenho consciência de que ele cometeu erros gravíssimos ao se deixar cooptar por nossa elite arcaica, predatória, autoritária, rancorosa e extremamente corrupta. Elite esta que nunca engoliu o fato de um operário ascender ao poder máximo do país e, quando teve oportunidade, tratou de recuperar esse poder, não importando com quem, nem como.

E vamos ser sinceros, Bolsonaro não enganou ninguém. Sua campanha surfou na onda antipetista, flertou com a lava-jato e no discurso fácil que bradava contra a corrupção. Mas o verdadeiro Bolsonaro sempre foi um sujeito sem postura, misógino, homofóbico, racista, agressivo, sem cultura, cognitivamente incapaz, entre outros adjetivos. Não foi a toa que fugiu de todos os debates, Bolsonaro sempre foi um inepto. Em seus 28 anos de vida pública não conseguiu aprovar qualquer projeto relevante, se resumindo apenas em reproduzir as besteiras de seu Rasputin, um astrólogo, que acredita que a terra é plana, que a Covid-19 não existe e que a Cloroquina é uma santa milagrosa. É triste pensar que 57 milhões de brasileiros estacionaram o próprio cérebro em algum lugar e votaram nesse homem, pagaram pra ver e chegamos até aqui.

Bolsonaro, numa hábil manobra, trouxe os militares para perto de si, como escudo para convencer o vulgo de sua honradez, lisura e seriedade. Os militares caíram na esparrela do inconsequente presidente e agora amargam a pecha de serem seu cúmplice, inclusive se silenciando diante de fatos que enrubesceria Duque de Caxias. Mas Bolsonaro foi além, após sucessivas denúncias de crimes de responsabilidade, o presidente recorreu aos deputados do famigerado centrão, a qual sempre criticou, para impedir um eventual pedido de impeachment.

Agora, estamos vivendo em uma espécie de Lewis Carroll Land bolsonarista, onde a nau dos insensatos emergiu das profundezas das fossas abissais do delírio sem fim e navega triunfante, rompendo as barreiras da sensatez e da razoabilidade. É desolador ver tamanho apego a aleivosias dessa magnitude. Mas, como já indicava Nietzsche: “convicções são inimigas mais perigosas da verdade do que as mentiras”. Eis aqui os perigos que nos ameaçam em plena luz do dia: o ódio convicto e a total ausência de empatia.

O que mais me deixa espantado, mas também muito decepcionado, é ver pessoas bem informadas, que se declaram democratas, que têm consciência da situação do país, da crise econômica, sanitária, política e ambiental, mas mesmo assim continuam a apoiar esse Governo, mesmo que de forma envergonhada. Parecem ignorar o caos gerado por um (des)governo de viés autoritário, isolacionista e subserviente, que bate continência para a bandeira dos EUA, e renega a ciência, o jornalismo e o meio-ambiente.

Como não têm argumentos para defendê-lo, ou vergonha de fazê-lo, os bolsonaristas semi-arrependidos adotam levianamente duas posturas igualmente questionáveis. Ora ficam repetidamente apontando defeitos de administrações passadas – por vezes com notícias falsas -, para esconder as sandices em curso do maior desgoverno de todos os tempos. Ou buscam atacar e desmoralizar o crítico, agredindo o mensageiro por não gostarem da mensagem. Atitudes como essas, demonstram que estão na defensiva, preocupados em não dar o braço a torcer, talvez por medo de serem expostos por seus erros. Mas mudar de ideia é prerrogativa de quem pensa. Por isso, clamo para que tenham coragem e revejam os seus posicionamentos.

Paulo de Tarso Magalhães David, é advogado conveniado ao Sindicato e professor universitário.

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