As medidas de arrocho fiscal do governo Dilma surtiram algum efeito positivo para os trabalhadores? A situação do país hoje é de retomada do crescimento econômico ou de aprofundamento da crise? As medidas de ajuste aprofundaram a recessão e jogaram a economia brasileira numa crise fiscal de difícil solução. A política econômica diminuiu gastos no momento em que a economia já vinha desacelerando. Então, os efeitos das medidas de contração de gastos foram de aprofundamento da queda da demanda agregada. Na parte fiscal, o que o governo ganhou com a economia, ele mais que perdeu com o que deixou de arrecadar por conta da recessão e o aumento da despesa dos juros. Então, o efeito líquido da política da Dilma é desastroso para a economia brasileira. É a maior recessão da história moderna do Brasil.
Na próxima quarta (17) acontece a reunião do Fórum de Debates sobre Políticas de Emprego, Trabalho e Renda e de Previdência Social. O Sr. considera que uma solução para a crise enfrentada pelos trabalhadores deve sair deste encontro entre governo federal, patrões e representantes sindicais? Eu tenho a absoluta certeza de que esta reunião não dá em nada. O que o governo e os patrões querem negociar é um pacto, um acordo social, no qual os trabalhadores aceitam arcar com a crise sem nenhum horizonte de solução para os problemas. A crise é profunda, é relacionada com a crise internacional, e não terá solução enquanto o Brasil continuar numa posição subalterna dentro da economia mundial. O Brasil está na mesma trajetória política e econômica da Grécia. Esta reunião é, no fundo, para enganar o trabalhador.
Quais os prováveis impactos dos novos cortes no orçamento, com anúncio previsto para março, nos setores da saúde, educação e desenvolvimento social (os mais afetados no ajuste fiscal de 2015)? São impactos desastrosos. Paradoxalmente, os cortes são feitos para a economia de recursos do governo, mas o saldo líquido é de ‘deseconomia’. O que o governo perde com o aprofundamento da recessão é muito maior do que o que ele ganha com os cortes. Tem um impacto negativo no crescimento, nas contas públicas, e um impacto profundamente perverso sobre a sociedade, porque na verdade vai sucateando a política social brasileira, principalmente a educação, a saúde, enfim, os setores mais sensíveis aos cortes orçamentários.
O que os trabalhadores devem fazer para barrar o avanço das reformas neoliberais do governo? Os trabalhadores devem não ter nenhuma ilusão em relação à possibilidade do ajuste resolver o problema da crise. É preciso resistir de maneira intransigente à toda ofensiva contra os direitos dos trabalhadores e contra as políticas sociais. Deve-se buscar o máximo de unidade para construir uma vontade política que permita a articulação político-econômica e uma organização social completamente diferente da que está aí. É isso que os trabalhadores devem fazer: resistir e acumular força para propor um pacto de poder alternativo, que permita organizar o país para atender as necessidades do povo brasileiro.
As opiniões expressas na entrevista não refletem, necessariamente, o posicionamento de toda a diretoria do SEEB/VCR.