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Bolsonaro tenta sair da crise com proposta de privatização dos Correios, acusam funcionários

Trabalhadores criticam tentativa de venda de 100% da estatal: “Sempre que é atacado, presidente fala em privatizar”

Movimento no Centro de Tratamento de Encomendas dos Correios, em Benfica

O governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) aposta na privatização do patrimônio público sempre que está ameaçado pela deflagração de uma crise institucional. A constatação é de trabalhadores dos Correios ouvidos pelo Brasil de Fato. A categoria é contrária à privatização de 100% da estatal planejada pelo Executivo.

Nesta semana, o Executivo mudou a estratégia e definiu o modelo de privatização dos Correios que tentará aprovar na Câmara dos Deputados. Após cogitar “fatiar” a empresa e conduzir o processo de forma gradual, o Executivo quer vender 100% do capital da estatal.

Na última segunda-feira (5), o secretário especial de Desestatização, Desinvestimento e Mercados do Ministério da Economia, Diogo Mac Cord, disse ao jornal O Globo, que o plano da pasta é um formato de leilão tradicional, em que o comprador leva os ativos e passivos dos Correios.

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), já estipulou a votação do projeto para os próximos dias, entre 12 e 15 de julho. A intenção do governo é publicar o edital dos Correios neste ano, provavelmente em dezembro, por isso, segundo Mac Cord, “é importante votar o projeto na Câmara antes do recesso”.

Brasil de Fato conversou sobre o tema com a presidente do Sintect-DF (Sindicato dos Trabalhadores da Empresa Correios e Telégrafos do Distrito Federal), Amanda Corsino, e com o secretário-geral da Fentect (Federação Nacional dos Trabalhdores em Empresas de Correios e Telégrafos e Similares), José Rivaldo da Silva.

Os dois trabalhadores dos Correios citaram o uso político da tentativa de privatização da estatal. Segundo eles, a proposta de realizar a venda de 100% da empresa em apenas um leilão serve para ofuscar as crises do governo Bolsonaro.

“Toda vez que o governo é atacado, ele sempre joga na mídia uma situação de privatizar. Agora o alvo é os Correios. Foi assim com a situação da Eletrobras, que é um absurdo, e a gente tá vendo o quanto que significa aí o aumento da conta de luz. Quem paga a conta são os brasileiros. Quem vai pagar a conta da privatização dos Correios? Também somos nós, os brasileiros”, afirmou José Rivaldo da Silva.


A categoria é contrária à privatização de 100% da estatal planejada pelo Executivo / Marcelo Casall Jr / Agência Brasil

A funcionária Amanda Corcino disse que o Executivo tenta recuperar prestígio junto a agentes do mercado com a tentativa de privatização dos Correios: “O Brasil vive uma crise sanitária e humanitária. A privatização dos Correios ocorre em um momento em que o governo se afunda em denúncias de corrupção. Ele [Bolsonaro] vai tentar agora recuperar um pouco da sua credibilidade junto ao mercado, tentando impor a sua agenda neoliberal”.

Leia o relato dos trabalhadores dos Correios

José Rivaldo da Silva, secretário-geral da Fentect (Federação Nacional dos Trabalhdores em Empresas de Correios e Telégrafos e Similares):

“É uma covardia tremenda do presidente da Câmara, Arthur Lira, botar em votação a privatização dos Correios. Os trabalhadores dos Correios têm perdido a vida por ser uma categoria essencial, mas nós já perdemos mais de 300 trabalhadores para a covid no exercício da nossa profissão.

É uma covardia muito grande privatizar os Correios sem debater com a sociedade. A população não sabe que, de fato, está por trás de tudo isso. Nós temos uma empresa de mais de 358 anos, uma empresa importante pro nosso país, é uma uma empresa que está presente em todos os municípios. Nas catástrofes atuais, somos a primeira empresa a chegar a uma série de lugares desse país.

O que precisamos mesmo é que o governo federal faça investimento público e aumente o efetivo da empresa. Nós éramos 128 mil trabalhadores em 2012, hoje somos pouco mais de 92 mil trabalhadores. Há um processo de diminuição do tamanho da empresa e de seu efetivo. Mesmo assim, a gente ainda detém índice de qualidade de entrega de 92%, quando as empresas privadas que já atuam nesse mercado de logística só tem 75%.

O que a gente precisa mesmo é fortalecer a empresa para enfrentar as crises, não de privatização. Hoje você já tem legislação suficiente para que o Correio possa fazer parceria com empresas aéreas e agilizar ainda mais o processo de chegada nos lugares mais longínquos do nosso país, nos estados mais distantes e nos grandes centros.

Toda vez que o governo é atacado, ele sempre joga na mídia uma situação de privatizar. Agora o alvo é os Correios. Foi assim com a situação da Eletrobras, que é um absurdo, e a gente tá vendo o quanto que significa aí o aumento da conta de luz. Quem paga a conta são os brasileiros. Quem vai pagar a conta da privatização dos Correios? Também somos nós, os brasileiros.

Nós lamentamos muito essa postura do governo federal. Estamos lutando. Vamos fazer o enfrentamento, não vamos nos deixar vencer. Vamos fazer o que tem que ser feito. Os trabalhadores têm disposição para greve, têm disposição para lutar. A gente tem que aproveitar esse momento de luta, aproveitando a fragilidade do governo, que está envolvido em denúncias de corrupção.

Uma coisa também que está passando despercebida é que a Câmara está passando tudo que interessa ao Governo. A Câmara tem uma responsabilidade muito grande. Temos que cobrar do Arthur Lira o compromisso dele com o nosso país porque o governo Bolsonaro propõe a entrega, dos direitos sociais, do patrimônio público, das estatais, e a Câmara dos Deputados é quem aprova.

É importante que a sociedade cobre dos parlamentares. Eles são os grandes responsáveis por dar êxito à política genocida do governo Bolsonaro. Os parlamentares estão dizendo “amém”. A maioria ali, o Centrão e aqueles que têm as benesses do governo Bolsonaro, têm entregado os trabalhadores, têm entregado o patrimônio público. Nós precisamos combater isso. Os trabalhadores do Correios vão continuar firmes nessa luta. Esperamos sair vitoriosos de todo esse processo.”

Amanda Corsino, presidente do Sintect-DF (Sindicato dos Trabalhadores da Empresa Correios e Telégrafos do Distrito Federal):

“O governo, nesta semana, está numa tentativa desesperada de aprovar a privatização dos Correios. Trata-se de um projeto que, por si só, já traria muito prejuízo para a população. O Brasil é um país continental. Por isso, se você não tiver ali o Estado como garantidor da universalização postal, que é o direito de todo cidadão receber correspondência, muitas pessoas vão ficar desassistidas.

Um exemplo é o que aconteceu em Portugal, um país bem menor que o nosso. Por lá, as empresas privadas querem atuar somente no segmento de encomendas e nos grandes centros. As populações periféricas do interior vão sofrer um verdadeiro apagão postal.

O Brasil vive uma crise sanitária e humanitária. A privatização dos Correios ocorre em um momento em que o governo se afunda em denúncias de corrupção. Ele [Bolsonaro] vai tentar agora recuperar um pouco da sua credibilidade junto ao mercado, tentando impor a sua agenda neoliberal.

O centrão está cobrando um preço muito alto e é claro o desespero do governo. Nós estamos no nosso trabalho, de tentar pressionar os deputados, para que essa votação não ocorra. Esperamos ter forças para que esse tema volte à pauta só após o recesso. Nós vamos resistir enquanto trabalhadores e usuários dos Correios.

O governo deveria buscar a imunização, não a privatização dos Correios. O Brasil está com uma taxa muito baixa de vacinação. É preciso perceber o problema da fome dos brasileiros, não privatizar uma empresa que exerce um papel social importante de distribuição de medicamentos, de livro didáticos, que realiza com sucesso a operação do ENEM

Os Correios também são muito utilizados pelos micros e pequenos empresários para entrega dos seus produtos. O governo não deveria acabar com isso nesse momento, né? O governo Bolsonaro se diz preocupado com os Correios, mas deveria mesmo é procurar resolver a grande crise que hoje nós passamos no Brasil.”

Fonte: Brasil de Fato

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