Home / Política / Cadeiras do STF e escultura do Planalto destruídas por terroristas foram projetadas por sobreviventes do Holocausto: ‘É tristemente simbólico’

Cadeiras do STF e escultura do Planalto destruídas por terroristas foram projetadas por sobreviventes do Holocausto: ‘É tristemente simbólico’

Obras de dois sobreviventes do Holocausto foram danificadas por terroristas neste domingo (8), em Brasília. As peças ficavam no Palácio do Planalto e no Supremo Tribunal Federal (STF).

As cadeiras usadas pelos ministros do STF foram projetadas pelo arquiteto e designer polonês Jorge Zalszupin. O judeu, nascido em Varsóvia, sobreviveu ao Holocausto fugindo para a Romênia, onde estudou arquitetura. No pós-guerra, imigrou para o Brasil.

No domingo, porém, as poltronas projetadas por ele foram arrancadas e jogadas na rua pelos terroristas junto do brasão que ficava exposto no plenário da Corte. Veja acima.

A história foi resgatadas nesta segunda-feira (9) pelo Museu do Holocausto, em Curitiba.

A instituição lembra que as peças foram projetadas por Zalszupin nos anos 1960 a pedido do próprio Oscar Niemeyer, que convidou o polonês para desenvolver móveis para os gabinetes e palácios na construção da capital federal.

Zalszupin conseguiu sobreviver ao Holocauto em Bucareste, onde estudou arquitetura — Foto: Acervo pessoal

Naturalizado brasileiro, Zalszupin ficou conhecido como um dos maiores ícones do design e do modernismo nacional. Ele morreu aos 98 anos, em agosto de 2020.

Nas redes sociais, Verônica Zalszupin, filha do arquiteto, lembrou que o pai viveu o nazismo e que as poltronas desenhadas por ele também representavam o Brasil de Niemeyer.

“Era um país que acolheu ele como imigrante com amor”, disse.

Escultura teve ‘galhos’ arrancados

Uma escultura de parede, em madeira, do polonês Frans Krajcberg, também foi alvo dos terroristas. A peça ficava no Palácio do Planalto. Galhos de madeira que compõe a obra foram quebrados e jogados longe.

Obra foi danificada por terroristas no Palácio do Planalto — Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

Judeu, Krajcberg nasceu em Kozienice, na Polônia. No início da 2ª Guerra Mundial, viveu em Częstochowa, cidade ao sul de sua terra natal.

Pouco depois, conseguiu refúgio na antiga União Soviética, onde estudou Engenharia e Artes na Universidade de Leningrado. Entre 1941 e 1945, foi oficial do exército polonês. Após o fim da guerra, foi para a Alemanha, onde ingressou na Academia de Belas Artes de Stuttgart.

O Museu do Holocausto lembra que, em 1948, o artista imigrou para o Brasil procurando reconstruir a vida após perder toda a família em um campo de concentração.

Em 1951, ele expôs duas pinturas na 1ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1951 e, em seguida, mudou para o Paraná, isolando-se na floresta para pintar.

A exemplo da peça alvo dos terroristas, as obras do artista têm como característica uma pesquisa dos elementos da natureza, destacando-se pelo ativismo ecológico, que associa arte e defesa do meio ambiente.

Krajcberg morreu em 15 de novembro de 2017, aos 96 anos, no Rio de Janeiro.

O polonês Frans Krajcberg ao lado da escultura — Foto: Divulgação/Museu do Holocausto

As mensagens por trás da destruição

O coordenador-geral do Museu do Holocausto de Curitiba, Carlos Reiss, é neto de sobreviventes do Holocausto. Os quatro avós deles estiveram em campos de concentração e extermínio, entre eles Auschwitz, e conseguiram chegar ao Brasil no fim dos anos 1940.

“Ao ver obras de sobreviventes do Holocausto completamente avariadas por um atentado terrorista de ideais fascistas, sinto mais do que desgosto. É tristemente simbólico, já que não se tratam apenas de danos materiais.”

Reiss destaca que cada peça, cada escultura, cada obra de arte ajuda a compreender a sociedade e a construir a identidade nacional.

O coordenador do Museu do Holocausto, o primeiro do Brasil, avalia que a destruição da peças por terroristas é simbólica por remeter a dois jovens judeus poloneses que conseguiram escapar da violência e do ódio “a duras penas” mas que, anos depois, parte das obras deles não conseguiram o mesmo.

Para Reiss, os atos do último domingo trazem mensagens que vão além do descaso dos terroristas com o patrimônio público.

“A principal delas é a necessidade não apenas de um alerta permanente, que faz parte da missão do Museu do Holocausto, mas de ações e iniciativas constantes em defesa da democracia.”

Fonte: G1

Veja Mais!

Senado aprova nova reforma do Ensino Médio; matéria volta para a Câmara

Após negociação com o Ministério da Educação (MEC), relatora retomou o aumento da carga horária …