A segunda-feira (8) começou com ampla repercussão entre os parlamentares sobre as informações divulgadas nos últimos dias envolvendo pesos-pesados do governo interino: o presidente Michel Temer e os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e José Serra (Relações Exteriores).
Executivos da Odebrecht denunciaram a procuradores da força-tarefa da Procuradoria-Geral da República (PGR) que a construtora pagou R$ 23 milhões à campanha de Serra (PSDB) à presidência em 2010 – quase dez vezes mais que o valor declarado pelo tucano ao Tribunal Superior Eleitoral. Os executivos afirmaram que parte do dinheiro foi paga no Brasil e parte foi entregue por meio de depósitos em contas no exterior, segundo reportagem da Folha de S.Paulo deste domingo. Assim, a campanha do tucano teria recebido da empreiteira R$ 25,4 milhões – sendo R$ 23 milhões por meio de caixa 2. Em valores corrigidos pela inflação, o montante soma R$ 34,5 milhões.
Em relação aos políticos do PMDB, a empresa teria entregue a pedido de Michel Temer, em 2014, R$ 10 milhões em dinheiro vivo. Padilha teria recebido R$ 4 milhões e o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, candidato ao governo de São Paulo pelo partido, outros R$ 6 milhões. Os valores teriam sido contabilizados no Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, também conhecido como o “Departamento da Propina” da empreiteira. A informação foi publicada por uma revista semanal.
Os senadores Lindbergh Farias (PT-RJ), Roberto Requião (PMDB-PR) e Humberto Costa (PT-PE) já deram declarações dizendo que pedirão providências sobre o presidente em exercício e vão analisar qual a melhor forma de agir: se por meio de ação junto ao Supremo Tribunal Federal (STF) ou no formato de um novo pedido de impeachment de Temer.
O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) disse que as denúncias divulgadas no último final de semana “mudam o clima político do país” e que os partidos que fazem oposição ao governo provisório vão pedir o afastamento imediato do ministro, além de estudar uma forma de solicitar a saída do presidente em exercício.
A opinião do senador é que o processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff deveria ser suspenso, porque as denúncias “modificam profundamente o cenário” e mostram a iniciativa golpista denunciada pelo PT desde o início, “além da farsa do discurso dos peemedebistas e demais parlamentares que se aliaram ao governo interino”. Ele ainda destacou em sua rede social: “Caiu a máscara”.
Roberto Requião (PMDB-PR) também criticou Temer e disse ter certeza de que o presidente provisório, com essas denúncias, “não tem condições de se sustentar mais no governo”.
Além de Lindbergh e Requião, o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), avaliou que a posição dos senadores que se dizem indecisos em relação à forma como vão votar amanhã (9), na sessão da pronúncia da denúncia do impeachment, pode ser modificada, depois dos últimos acontecimentos.
Costa considera que fatores observados nos últimos dias, não apenas em relação a essas denúncias, mas também no tocante às manobras em torno da votação da cassação do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na Câmara, e as notícias de que Michel Temer estaria disposto a disputar a eleição presidencial em 2018 (depois negada por ele) também terão impacto sobre a decisão.
Pressão por saída
Em entrevistas concedidas ontem (7) a jornalistas de Pernambuco, Costa afirmou que apesar do clima de tensão por parte dos aliados da presidenta Dilma, ele espera um desfecho positivo em relação ao caso.
As senadoras Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) e Fátima Bezerra (PT-RN), que até o início da manhã não tinham chegado ao Senado, já destacaram por meio de suas assessorias que pretendem fazer pronunciamentos à tarde sobre o tema e defender a saída imediata de Temer do cargo. O mesmo foi anunciado por assessores do senador Telmário Mota (PDT-RR).
O caso, segundo advogados ouvidos pela reportagem que preferiram não se identificar de imediato (uma vez que nenhuma peça jurídica contra o presidente em exercício foi ainda formalizada), é considerado “gravíssimo”. Sobretudo, porque não pesam sobre a presidenta afastada Dilma Rousseff acusações de que ela tenha recebido qualquer dinheiro ao longo do período de apreciação do impeachment, enquanto a delação feita pelos executivos é de que, além de ter recebido estes recursos, toda a transação e reuniões sobre o tema teriam sido feitas na residência oficial da vice-presidência da República.
A sessão para votação da primeira parte do impeachment de Dilma Rousseff no plenário do Senado já foi definida, mas há parlamentares que defendem que, dependendo da temperatura a ser observada até o final do dia, várias outras votações, como da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), poderá ser adiada. Às 15h30, lideranças partidárias da Câmara se reúnem e por volta das 14h, no Senado, parlamentares dos partidos que fazem oposição ao governo provisório também ficaram de se encontrar para discutir a questão.
Até o início da tarde, ninguém no governo provisório se pronunciou sobre as acusações divulgadas sobre a delação dos executivos da Odebrecht.
Fonte: Revista Fórum