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Doenças “invisíveis” atingem a categoria bancária

Medo do desemprego, perda de função e descomissionamento; a realização de serviços múltiplos, no caixa, de venda de produtos e gerenciamento de contas; a implantação de novas tecnologias e o receio de não estar preparado para trabalhar com elas; as incertezas com os cenários político e econômico do país; a constante cobrança pelo cumprimento de metas e o assédio moral são algumas das possíveis causas do aumento dos transtornos mentais entre os trabalhadores. Ansiedade, depressão e o burnout estão entre as doenças que mais atingem aos trabalhadores.

Um levantamento realizado pela International Stress Management Association, aponta que, em 2018, nove em cada 10 brasileiros no mercado de trabalho apresentam sintomas de ansiedade e cerca de 47% sofrem de depressão. Outro estudo, realizado pela Talenses Executive, aponta que 70% dos executivos que ocupam cargo de chefia já apresentou, em algum momento da carreira, algum transtorno mental relacionado ao trabalho.

No caso específico da categoria bancária, dados do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), compilados pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), apontam que, em 2013, os transtornos mentais deixaram para trás as lesões por esforços repetitivos e os distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (LER/Dort) e se tornaram a principal causa de afastamento para tratamento de saúde na categoria bancária.

“A situação é muito preocupante. Os casos de transtornos mentais estão aumentando em várias categorias. Entre os bancários ela é agravada pelas reestruturações dos bancos e pelas cobranças abusivas sobre metas inatingíveis”, observou a presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Juvandia Moreira, lembrando que, recentemente, o banco Santander foi condenado pela prática de estabelecimento de metas inatingíveis.

Tecnologia X saúde

O avanço tecnológico contribui sobremaneira para tornar diversos processos de trabalho mais produtivos. Os lucros aumentam proporcionalmente à contribuição que a tecnologia dá ao aumento da produção. Mas, quando não é bem utilizada, a tecnologia obriga os trabalhadores a ficarem sempre conectados e a ter que tomar decisões importantes, mesmo nos momentos que, teoricamente, estão de folga.

“Não brigamos contra a tecnologia, mas sim contra o mal-uso que é feito dela. O benefício não pode ser apenas para o banco, mas também para o bancário e para toda a sociedade”, disse a presidenta da Contraf-CUT. “Deveria não apenas aumentar a produtividade e, consequentemente o lucro, mas também aliviar a carga de trabalho do bancário, com a redução da jornada. Mas, como é utilizada, faz com que o bancário trabalhe mais, inclusive nas horas que deveria descansar. Sem o descanso, o banco ganha e o trabalhador sofre as consequências com o adoecimento”, completou.

Avaliação de verdade

“O trabalhador, sozinho, não consegue se organizar para realizar suas tarefas apenas durante o expediente e manter seu equilíbrio mental e físico. E também não sabe o momento que deve parar e procurar por auxílio de um médico ou psicólogo. Quando se dá conta, a situação já evoluiu para um quadro mais agudo e medicamentoso”, explicou o secretário da Saúde do Trabalhador da Contraf-CUT, Mauro Salles.

“Os bancos precisam entender que, além de causar danos irreversíveis aos trabalhadores, eles também perdem com os afastamentos para tratamento de saúde. Precisamos fazer um levantamento de verdade sobre o atendimento de saúde e o ambiente de trabalho nos bancos para construirmos políticas e procedimentos de prevenção”, disse Mauro. “Os gestores precisam parar de tratar os transtornos mentais e todas as outras doenças como algo que não existe. Deve haver uma política de conscientização para eliminar o preconceito e mostrar que não se trata de fraqueza, falta de equilíbrio emocional e muito menos loucura. Os trabalhadores devem ser encorajados a não trabalharem fora do expediente e não aceitarem pressão pelo cumprimento de metas inatingíveis para evitar o adoecimento e a realizarem o tratamento preventivo”, completou.

“As pesquisas mostram que não apenas os trabalhadores que ocupam posições hierarquicamente mais baixas são afetados. Os gestores precisam enxergar que eles também são afetados por essa busca desenfreada pelas metas, que levam as pessoas a não respeitarem seus limites físicos”, observou Juvandia Moreira.

A Contraf-CUT e o Comando Nacional dos Bancários estão negociando com a Federação Nacional dos Bancos a mudança do perfil da pesquisa sobre a saúde da categoria, para permitir não apenas a avaliação do atendimento de saúde oferecido à categoria, mas também o ambiente de trabalho e as políticas de gestão dos bancos.

Para Mauro Salles, os serviços médicos contratados pelos bancos não podem estar atrelados ao departamento comercial e jurídico. “Eles só levam em conta números e resultados. Os serviços médicos lidam com pessoas e sua saúde. Devem fazer exames detalhados, levando em conta as queixas e laudos dos bancários. Além disso, devem servir para rastrear os riscos e efetivar a necessária prevenção. Não escamotear os resultados”, concluiu.

Fonte: Contraf-CUT

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