Para esta edição d’O Piquete Bancário, conversamos com o jornalista, escritor e analista político, Wladimir Pomar, sobre a conjuntura política do país e os problemas que devem ser enfrentados pelos trabalhadores. Confira:
Como o Sr. avalia a chegada de Temer à presidência e quais as possibilidades da presidente Dilma retornar ao governo? É fato comprovado, seja pelas gravações do delator Sérgio Machado (um antigo quadro político dos tucanos e peemedebistas), seja pelo teor dos votos da maioria dos deputados federais, que o motivo do processo de impedimento da presidente Dilma não foi qualquer crime de responsabilidade. Foi sim um golpe de tipo parlamentar para eliminar as políticas sociais e democráticas previstas na Constituição de 1988, liquidar as conquistas sociais de 13 anos de governos Lula e Dilma e também, agora ficamos sabendo, para salvar os corruptores e corruptos de direita ameaçado pela Operação Lava Jato.
Diante disso, a possibilidade da presidente Dilma voltar ao governo vai depender, de um lado, dela reconhecer seus erros e apresentar uma proposta democrática e popular para tirar o Brasil da crise econômica e, de outro, do grau de mobilização social para impor à direita o “Não ao Golpe” e “Fora Temer”.
Nos últimos dias nos deparamos com gravações que revelaram diálogos apontando para um golpe contra a operação Lava-Jato. A partir dessas gravações é possível questionar a legitimidade deste atual governo, ministro e até mesmo membros do STF. De que modo o Sr. avalia esse processo de falta de legitimidade no governo? As gravações comprovam a articulação golpista e seus motivos, assim como a falta de qualquer legitimidade do governo Temer. Tais gravações são um instrumento importante para mostrar às camadas populares e democráticas envolvidas pelos golpistas o quanto elas foram enganadas. É preciso dizer a elas que sua indignação, inclusive em relação à Lava Jato, deveria estar voltada não contra Dilma, mas contra os golpistas. Isso pode estimulá-las a se incorporar à luta contra o impedimento do governo Dilma, principalmente se a presidente demonstrar que política seguirá se voltar ao governo.
Sabemos que as medidas econômicas que veem atacando a classe trabalhadora foram iniciadas ainda durante o governo Dilma. De que forma o governo Dilma contribuiu para o agravamento das políticas de arrocho contra a classe trabalhadora e o que podemos esperar de Temer? O “ajuste fiscal” do governo Dilma promoveu um desajuste econômico de monta, principalmente contra os trabalhadores. Foi um erro do começo ao fim, tanto com Joaquim Levy quanto com Nelson Barbosa. O ministro Meirelles, indicado por Temer, está simplesmente radicalizando tal desajuste, cuja conta vai arrancar ainda mais suor e sangue dos trabalhadores, e também das camadas intermediárias. Por isso, é importante que o governo Dilma reconheça publicamente que errou e faça a proposta de uma outra política para sair da crise.
Quais as bases para se construir um governo que se diferencie dos perfis neoliberais e populistas que chegaram ao poder após o fim da Ditadura Militar? É preciso que as forças políticas de esquerda e democráticas iniciem um debate, com base na unidade atual de confrontação contra o golpe, em torno das questões estratégicas relacionadas à natureza da crise atual (mundial e nacional) e das transformações estruturais, democráticas e populares, necessitadas pela sociedade brasileira. Só assim será possível definir os inimigos principais dessas transformações, as contradições entre tais inimigos principais e os inimigos secundários, as forças fundamentais para alcançar aquelas transformações, as formas de luta principais e secundárias para levar a cabo a estratégia definida, e as formas de organização principais e secundárias exigidas por tais formas de luta. O crescimento da mobilização social atual, contra o golpe e contra Temer, pode contribuir decisivamente para construir não só um governo, mas também uma sociedade de novo tipo no Brasil.
Diante desta atual conjuntura, qual o rumo possível para a classe trabalhadora conseguir atravessar essa crise política e econômica?
Em termos sucintos, ir às ruas, praças e espaços públicos para lutar pela manutenção de seus direitos sociais e políticos, pela manutenção das conquistas democráticas e sociais da Constituição de 1988, em defesa de seus direitos e dos avanços econômicos e sociais dos últimos 13 anos. Essa é a base para avançar, mais adiante, na luta por transformações econômicas e sociais mais profundas.
As opiniões expressas na entrevista não refletem, necessariamente, o posicionamento da diretoria do SEEB/VCR.